CAPÍTULO 4

Nicholas dormia enrolado em um saco de dormir na sala enquanto Lance e Isis dividiam o sofá. Ele acordou com o cheiro das panquecas de baunilha com gotas de chocolate de sua mãe, o que acabou por acordar os outros dois.

- Sra. Miller, acho que vou me mudar oficialmente para cá. – brincou Lance entre um bocejo e outro. – Acordar com esse aroma no café da manhã é divino.

- Obrigada, Bunny. – Ela agradeceu enquanto colocava a louça na mesa do desjejum.

Aos poucos os amigos foram se recompondo, arrumando a pequena bagunça que fizeram durante a madrugada, e sentaram-se todos à mesa pouco tempo depois. Nicholas foi até os pais, os beijou.

- O que vocês fizeram de bom ontem à noite, hein? – perguntou Joshua.

- Conversamos muito, assistimos alguns episódios... – foi interrompido por Lance.

- Correção, assistimos metade de vários episódios até não aguentarmos mais a indecisão dela. – Lance apontou para Isis que deu um risinho sarcástico.

- Pelo menos comemos bastante pizza. Vamos acabar uns balões se não nos cuidarmos. – comentou Nick e Isis balançou afirmativamente a cabeça freneticamente, mas colocando mais duas panquecas em seu prato. – Tá concordando com o que? Você é magra de ruim, como feito uma draga e não engorda um grama.

Isis era uma garota com uma pele morena linda, se cuidava quase como uma das patricinhas da escola, mas comia como um garoto. E, apesar de não engordar, ia para a academia junto com Lance três vezes na semana. Pintava os cabelos com frequência, uma vez por mês, no mínimo: ora estava roxo, no dia seguinte azul, poucas semanas depois laranja com verde.

- Deixa eu parar de ir a academia para ver como eu fico.

- Ah tá, queridinha... vai engordar meio grama no dedão do pé! – brincou Lance, os pais de Nicholas se divertiam com as alfinetadas entre eles. – Nick tem razão, você já ficou mais de dois meses sem ir para a academia e quando voltou parecia que nem tinha parado.

- O que eu posso fazer se tenho uma boa genética?

- Genética do capeta! Isso é injusto! Eu tenho que me matar essa semana para acabar com essa pizza de ontem e é impossível resistir à essas panquecas maravilhosas. Enquanto isso, você pode comer metade do planeta e ainda assim pedir a lua de sobremesa para fechar a noite.

- Garota com metabolismo de garoto.

- Nick, ela não tem metabolismo. Ela tem um buraco negro no lugar do estômago. Tinha que ser estudada.

- E como foi ontem, Nick? – o pai perguntou, olhando por cima dos óculos de grau. O jovem engoliu seco, e os dois amigos olharam para ele.

Nicholas deu um longo gole em seu café-com-leite, pigarreou, baixou os olhos.

- Ruim assim, é?

- Na verdade foi muito bom...

- Sinto um ‘mas’ chegando... – a mãe estava curiosa também.

- Podia ter sido melhor, claro! Poderia ter acontecido algo mais... até pensei que poderia ter arruinado uma aproximação, vocês sabem que minha boca às vezes é mais rápida que a mente: disse pra ele que tinha mãos de princesa. – Joshua se engasgou com o café.

- Como?! – Lance e Isis caíram na gargalhada, a reação do pai tinha sido idêntica a deles quando Nick contou a mancada na conversa da madrugada.

- É... pensei que eu fosse tomar uma surra ali. Cheguei a fechar os olhos por um instante, esperando um soco ou um empurrão, mas não, ele entendeu exatamente o que eu queria dizer, que ele tinha mãos macias e gostosas de pegar... – viajou momentaneamente, Lance apoiou os braços na mesa e a cabeça nas mãos fazendo olhos apaixonados. Nick riu. – Para com isso, Bunny... o que isso significa?

- E precisa significar mais do que o que realmente foi? – perguntou Sophia.

- Bem que ele queria. – murmurou Lance.

- Não tente ver nada além do que o que foi para não alimentar sua ansiedade, filho. – Nick olhou para a mãe e fez uma cara do tipo: “Como? Se eu já estou apaixonado.” – é... eu sei que é complicado.

- É... muito!

Isis e Lance saíram logo após o café, marcaram de ir até a Feira das Raízes de New Casterside, principal evento anual da cidade que começaria naquele sábado. O parque de diversões inauguraria no final da tarde.

O resto do dia, Nicholas ficou trancado no quarto. Tentou de tudo afastar o pensamento de Philip. Tentou jogar uns três ou quatro jogos no Playstation, depois foi para a internet, mas não saiu das redes sociais de Philip, desligou o computador e sentou-se de pernas cruzadas em sua cama, que ficava próxima da janela.

Olhando para o lado de fora, o tempo que começava a dar dicas que iria finalmente mudar e começar a esfriar de vez. Não repassou nenhuma situação específica com Philip mentalmente, apenas se deixou levar pelas nuvens que se fechavam no céu e eventualmente olhando uma foto que ele tinha tirado de Philip em seu celular em uma dessas tarde no intervalo ao ar livre.

“Mesmo que o que aconteceu tenha sido um indicativo de que ele pode gostar de garotos... ele é a estrela do time, ele não vai arriscar uma possível carreira, por mim.” – tentava se convencer de todas as formas que não haveria qualquer tipo de chance.

☆☆☆

O quarterback dos Red Coyotes mal dormiu duas horas durante a noite, e mesmo assim foi para a academia cedo com o pai. Enquanto um estava em um canto fazendo exercícios de pernas o outro estava fazendo fortalecimento nos braços.

Philip usava uma camiseta tipo stringer, deixando a maior parte do seu peitoral e costas aparentes. Muitos dos adultos ali, em especial as mulheres, olhavam para ele como se ele já fosse maior de idade, e muitos homens lutavam para conseguir ter um físico próximo do dele ainda.

Seu suor escorria por entre os músculos. Música alta tanto no estabelecimento, quanto em seu fone de ouvido. Hip hop com batida pesada era o que ele usava como estímulo para aumentar cada vez mais a carga nos bíceps, tríceps, peitoral e costas. Ao final de cada série de exercícios, as veias ficavam cada vez mais aparentes.

- SUPER! – Phil estava enxugando o suor do último aparelho quando ouviu seu apelido vindo na direção da entrada/saída da academia. – PARCEIRO!

Timothy e seu séquito chegaram na academia. Mas quando passaram pela roleta na entrada, só o líder foi até Philip, o resto foi ao vestiário. Se cumprimentaram como o de costume.

- Chegou tarde, hein Timbo.

- Noite agitada. – mexeu os quadris simulando sexo, e riu.

- Imaginei. – comentou sem entusiasmo algum. Percebeu Phil pegando seu squeeze com água já no final e prendendo a toalha, no suporte de sua bermuda.

- Já acabou?

- Na verdade acabaram comigo. – apontou para o personal trainer do pai. – Estão querendo me transformar no próximo Hulk.

- UUUhhh! – apertou os bíceps do amigo ainda doloridos por conta dos exercícios. – Com um quarterback desses, esse ano nenhuma escola ganha da gente.

- Para de me apertar assim senão eu gamo! – sacaneou Philip engrossando a voz. Timbo deu um soco no peito dele e riu.

- Fica até eu terminar? – olhou para o pai que acenou com a cabeça. – O que foi? Precisa de permissão é, filhinho de papai?

- Ha ha... bem que você queria passar esse título pra mim. Não, eu tinha prometido a ele e minha mãe que ajudaria eles numa coisa, mas ele acabou de me liberar pelo visto.

Harry Miller se dirigiu para o vestiário e o personal foi até Phillip.

- Já que você vai ficar mais um pouco, que tal treinar um pouco mais. – brincou.

- Se eu conseguir levantar uma folha de papel, considere como uma vitória. Tu acabou comigo hoje.

- Mas olha o resultado. – meneou com a cabeça em direção ao espelho.

Philip se virou e viu a diferença que era ele relaxado e ele logo após os exercícios. Ele estava se sentindo ótimo visualmente falando. O treino realmente estava dando resultado e sabia que isso ia refletir no campo. Flexionou os grupamentos musculares alvo do dia. Aproveitou até para tirar algumas selfies e postar no I*******m.

- Não tenho como negar que realmente estou ficando um monstro.

- Calma aí, rapaz. Ainda tem muito chão pela frente. – Trate de descansar bastante, ingerir bastante líquido e não esquece dos suplementos como combinamos.

- Pode deixar, Serge. – apertaram as mãos e o treinador saiu.

Sergey Lebedev era um personal trainer conhecido na região por preparar adolescentes para uma carreira profissional nos esportes. Fisiculturista, praticava hipertrofia muscular desde os 18 anos de idade, chegou a pensar em competir profissionalmente, mas se identificou mais como preparador físico das estrelas em ascensão e era bastante conceituado no meio. Apesar de ser filho de russos, nunca havia pisado na terra natal de seus pais, e por motivos óbvios.

- Como pode um absurdo desses? – Timbo falou revoltado minutos depois enquanto Philip o ajudava no supino, claramente com mais peso que ele seria capaz de aguentar.

- O quê? – Timothy apontou para Serge do outro lado.

Estava de mãos dadas com seu marido. Se beijaram docemente na frente de todos sem nenhum tipo de pudor. Esse era o principal motivo de nunca ter ido à Russia.

- Timothy, sério... tô começando a achar que você é enrustido. Qual é teu problema com os gays?

- Nasceram.

- Para com isso, cara. Não é você que está dando ou comendo outro cara. Não é obrigado a aceitar, mas poderia ao menos ignorar. Tá cafona isso. Já percebeu que só você tem problema com os caras?

- Virou defensor agora, é? – falou com a voz irritada. – Não vai me dizer que agora você é um deles?

- Não vire sua mira pra mim, Tim. Só acho que não tem mais nada a ver isso. Não gostar, não concordar pode até ser normal, mas desde quando isso é da nossa conta? Isso não tira o fato de que Serge, por exemplo, é um puta treinador, dizem até que ele dá conselhos ao Tom Brady.

- E daí? Não vou mudar só porque você tá dizendo isso, isso não é natural e se quer dar uma de defensor dessas bichas, problema é seu. Depois não venha correndo pra mim dizendo que o cara partiu pra cima de você. Mas conte comigo pra dar uma lição neles se tentarem algo contigo.

- Volto a dizer, se não se comportasse assim quem seria o quarterback do time seria você.

- Foda-se, Super! Não é normal ver dois caras se beijando e se agarrando. – Falou tão alto que Sergey e o marido olharam na direção deles. Philip fez sinal para não levarem em consideração. – Como é que os pais dele podem aceitar isso? São russos!

- Fala mais baixo, Timbo. Ninguém é obrigado a ouvir esse seu discurso. Tá querendo arrumar problema?

- Eles que tentem, faço meu pai comprar essa academia de merda e acabo com essa palhaçada aqui. – sempre se garantindo na fortuna e nos mimos dos pais.

Philip ajudou a colocar a barra no suporte depois de apenas uma repetição com uma placa a mais de 20 quilos de cada lado do que ele tinha feito mais cedo.

- E eu que sou filhinho de papai?! – Philip comentou e Timothy bufou e se dirigiu para o próximo aparelho.

Timothy não suportava a ideia de ser o segundo melhor, mas sabia que não adiantaria em nada brigar com o treinador Dodgeson pela posição de quarterback, nem mesmo seu pai conseguiria convencê-lo.

No final ele até que gostou de colocar a responsabilidade em cima de Philip, assim não teria que estudar para melhorar suas notas, que eram simplesmente limítrofes apenas para não repetir de ano.

Mas em todo o resto ele queria mostrar que era sempre mais e melhor que os outros. Ainda bem que ele não tinha visto Phil levantando peso antes, pois ele teimaria em fazer mais dez repetições só para mostrar para o “amigo” que ele conseguia levantar mais que ele.

“Desisto. Não adianta.” – E se Philip tinha qualquer aspiração de continuar como principal estrela do time, ele tinha que aceitar a ideia de ter Timothy como aliado, nem que tivesse que fingir gostar da companhia dele.

A comitiva dos puxa-saco de Timbo chegou e se juntaram no aparelho que ele estava se exercitando. Todos em volta, e ele adorava ser o centro das atenções. Philip olhou para trás e viu seu pai saindo do vestiário, foi até ele.

- Ótimo treino hoje, hein? Serge arrancou seu couro.

- Nem me fala. Só preciso comprar um shake de proteína na cantina, não imaginava que não voltaria pra casa.

- Deixa na conta que eu acerto depois. Pode ficar com seus amigos. Precisa de dinheiro para pegar um Lyft?

- Não precisa, provavelmente vamos para a casa dele depois ou então vou pra casa à pé mesmo.

- Tem certeza?

- Não esquenta.

- Ok. Qualquer coisa me chame. – Já estava quase saindo, quando o pai se virou. – Pode chamar Tim e os pais dele para o churrasco de amanhã.

- Sabe que dificilmente eles irão, né? – Philip sabia que o pai estava à tempos tentando uma brecha de conseguir um contrato com os Fisher, isso daria uma melhora significativa no padrão da própria empresa.

- Não custa tentar. – deu uma piscadela para o filho que respondeu com um aceno de mão.

O jovem viu o pai saindo da academia e foi direto para a cantina. Sergey estava lá sentado em uma das pequenas mesas altas, os dois bebendo algum tipo de detox. Depois de pegar o shake, preparado com as instruções do personal trainer, foi até eles.

Chegou até eles com um sorriso sem graça.

- Oi Super! – pegou na mão do marido. – Esse é Kit. Kit, esse é meu mais novo projeto de estrela na NFL: Phillip “Superman” Miller.

- Prazer. – abriu um sorriso para o jovem, apertaram as mãos.

- Me desculpe pelo comportamento do Timothy, ele não tem qualquer tipo de filtro.

- Conhecemos bem o tipo, Phil, não esquenta. É só mais um pirralho que acha que o mundo gira no umbigo hiper inflado dele.

- Como consegue conviver com ele? – perguntou Kit diretamente.

- Amor, que isso?

- Sério, Serge. Olha só, claramente Philip é um rapaz muito diferente.

- Não tem problema Serge... na verdade... eu tenho que manter as aparências se eu quiser chegar até a liga, com certeza vocês sabem disso.

A resposta surpreendeu Sergey.

- Nunca pensei que você... – Philip levou o dedo à boca fazendo sinal para não falar alto.

- Consigo e preciso esconder isso bem, né? – o quarterback respirou fundo, mas sentiu a necessidade de conversar com alguém sobre isso, apesar de estar em um local arriscado, não conseguia mais segurar. – É. Sei disso desde meus onze, doze anos; mas o futebol americano sempre foi minha maior paixão, quer dizer, houve um tempo que era minha segunda a primeira era ser astronauta. – o personal e seu parceiro riram. – e, infelizmente, uma coisa exclui completamente a outra às claras. Para isso teria que ter uma vida dupla.

Phil olhou em volta. Timothy e os outros ainda estavam longe e não tinha chance de escutarem ou até mesmo o verem conversando com Sergey e Kit, mas para garantir se moveu para um ponto onde garantiria não ser detectado.

Os dois perceberam.

- Phil, se quiser conversar sobre isso em um outro momento, aqui vai ser muito arriscado para você. A gente sabe. – enviou uma mensagem para o celular do jovem com os telefones particulares dos dois e um endereço em Chicago. – procure a gente nesse endereço, sei que não é exatamente perto, mas é onde nós vivemos. Kit tem um estúdio embaixo e nós moramos em cima.

Philip se sentiu acolhido pela primeira vez e isso o fez sentir bem como nunca havia se sentido. Ter outras pessoas com quem conversar sobre isso era tudo que ele precisava.

- Obrigado.

- Normalmente eu estou no estúdio durante a semana, aos sábados acompanho Serge. Pode me procurar sempre que quiser ou precisar.

Philip sorriu. Voltou ao grupo, fez o convite para Timothy do churrasco, deu uma desculpa para o grupo e saiu, sem mesmo trocar de roupa ou tomar banho. Só pegou sua bolsa de ginástica e começou a caminhar de volta para casa.

☆☆☆

Nicholas estava se aprontando para ir à parte leste da cidade, onde estaria o parque onde encontraria com os amigos. Como o tempo estava esfriando, optou por uma roupa mais aquecida e seu casaco preferido para a época que estava enfim começando.

Pouco mais de uma hora depois, Nicholas chegava com seus pais e James no complexo cultural de New Casterside. Nick se separou deles assim que chegaram e foi direto ao ponto de encontro, uma pequena praça que antes era usada como praça de alimentação e se tornou aos poucos no ponto dos mais jovens para as mais diversas atividades: conversas, skates, patins, namorar, ouvir música eletrônica longe da música country comum entre os mais velhos.

Basicamente era uma fonte enorme desativada, que servia como pista de skate, e algumas arquibancadas improvisadas com pedaços de concreto e madeiras de demolições, grafitadas pelos artistas locais. E o local era mantido pela prefeitura da cidade e comerciantes locais.

O local já estava cheio de adolescentes, jovens e alguns adultos mais descolados. Algumas figuras que ele já tinha visto na escola, outros das outras escolas da cidade e da região, mas nenhum sinal de Lance ou Isis.

“Sabia que eles iriam se atrasar.” – Colocou seus fones de ouvido e uma música que ele estava viciado no momento em repetição infinita e volume máximo. sentou-se em um dos blocos de concreto mais altos em um dos cantos não tão movimentados.

O sol estava baixando, dando um tom alaranjado ao céu. Raios luz passavam através das falhas entre as nuvens. Nicholas sabia apreciar esses momentos sozinho, aproveitava para colocar as ideias no lugar. E estando apaixonado e com a ajuda da música em seus ouvidos, a “golden hour” fazia tudo ficar ainda mais mágico.

Olhava para as pessoas conversando, se movimentando, exercitando, se exibindo, mas não passavam de borrões em movimento. Fechou os olhos e movia discretamente seu corpo com as batidas da canção e cantarolava baixinho.

Esvaziou a mente e deixou apenas uma imagem preencher esse espaço: Philip Miller. Ao abrir os olhos, ficou sem saber se ainda era fruto da sua imaginação ou realidade. O próprio estava chegando ao local, mesmo que não em sua direção, na verdade era para o lado oposto. Seu jeito indefectível de andar, mãos nos bolsos da jaqueta vermelha, olhar fixo no destino e o maldito sorriso de parar o trânsito.

Tudo estava em câmera lenta.

A guarda estava totalmente baixa. Se Philip chegasse perto dele sabia que não ia conseguir se segurar e acabaria fazendo alguma besteira da qual iria se arrepender pelo resto da vida. Fez de tudo para não dar qualquer indicativo de estar prestando atenção somente no quarterback.

Nick

...---...

Preciso de vocês logo!

...---...

Não houve resposta no grupo dos amigos. Esse era o sinal entre eles que indicava emergência. A representação de socorro em código morse graficamente para S.O.S. E duas vezes, significava emergência máxima.

Olhou na direção de onde eles poderiam chegar, nenhum sinal ainda.

Fez o impossível para não olhar para a direção onde Philip estava, rindo com outros jovens. Provavelmente conhecidos da época que estudou na outra escola e já havia alguns membros do séquito de Timothy, embora o próprio ainda não estivesse à vista.

- Coleman! – Nick fechou os olhos com força e se virou para encarar o que estava por acontecer.

“Puta merda.” – quase falou em voz alta quando Timothy o chamava por trás.

- O que tá fazendo sozinho aqui, hein? Esperado o príncipe encantado? – falou de forma afetada e alto, chamando a atenção de todos que estavam nas arquibancadas.

- Não. E você? – mais uma vez sua boca foi mais rápida que a razão. Dessa vez sabia que a coisa não ia acabar bem. Timothy o agarrou pelo colarinho do casaco e o suspendeu. Os que estavam mais perto fizeram menção de ir ajudar, mas Nicholas fez sinal para não irem.

- Como é que é, Coleman? Tá me confundindo com um de vocês? – Deu uma cusparada na cara de Nicholas.

“Já que vai dar merda de qualquer jeito...” – pensou e respondeu. – Impossível. Não é homem o suficiente.

O corpulento bully armou um soco e desferiu com toda força, fazendo Nick cambalear para trás, tropeçar em um vergalhão transformado em encosto e cair sentado três lances abaixo, para sua sorte em uma bolsa de um dos jovens próximos, que estava macia.

Vários jovens correram para socorrer Nicholas e outros se juntaram à Timothy. Outras correram para chamar os seguranças locais.

Philip atravessou as arquibancadas enquanto algumas pessoas tentavam segurar o valentão que estava quase se desvencilhando deles. Conseguiu chegar a tempo de ficar entre os dois.

- Para com isso! – gritou colocando sua mão no peito de Timbo. – Não vá piorar a situação, Timothy. Tá querendo arrumar confusão pro seu pai.

- Eu tô cagando pra ele, Super! Essa porra desse viadinho teve a calma de dizer que eu não sou homem o suficiente...

- Para ser igual a ele, seu idiota! – completou uma das pessoas próximas de Nick. Timothy ameaçou avançar na pessoa também e alguns dos rapazes do grupo dele também. O clima esquentou.

Nicholas olhava com ódio para o bully, sem desviar o olhar. Algumas pessoas tentaram ajudá-lo a se levantar, até mesmo alguns do grupo, e Nick se desvencilhou deles abruptamente, ajeitou o casaco e ficou encarando diretamente seu inimigo. Estava escorrendo sangue pelo canto de sua boca, fechou os punhos com tanta força que criou feridas nas palmas das duas mãos, fazendo escorrer sangue ali também.

Os seguranças chegaram e interviram. Levaram o jovem atacado para a enfermaria. Logo atrás chegaram os pais dele com o irmão, Lance e Isis ficaram do lado de fora, parecendo dois leões enjaulados.

O médico pediu para que Nicholas abrisse as mãos, mas estava ainda tão tenso que a musculatura simplesmente travou.

- N-não consigo. – aos poucos, com a ajuda do médico, foi possível. Sentiu dores agudas em cada dedo que se movia.

Seus pais entraram em seguida com James.

- Nicholas! Como você está? – Sophia estava tensa e isso era perfeitamente normal.

- Estou bem, mãe... um pouco machucado. – fitou os pais e a expressão de preocupação não se dissipou. – Timothy me deu um soco e eu caí. As pessoas seguraram ele, me ajudaram a me levantar e depois os seguranças chegaram e estamos aqui agora.

Nicholas sentiu as palmas das mãos arderem em brasa e instintivamente as puxou de leve.

- Antisséptico. Para não infeccionar. Vai arder um pouco.

- Agora é que você me avisa? – Nicholas riu em meio à ardência.

- Eu vou acabar com a raça daquele moleque.

- Se acalme, Josh. O que Nick menos precisa agora é de pais fora de controle.

- Pai, não esquenta. Isso não é nada.

- Nada?! Como assim não é nada?! Você poderia ter se machucado gravemente! Poderia até ter morrido.

- Que exagero, pai!

- Desculpa, Nicholas. Mas não é exagero nenhum do seu pai, da forma que você caiu poderia ter batido com a cabeça em um dos blocos de concreto. – Sentiu a espinha gelar. – Ainda bem que tinha uma bolsa no meio do caminho para amortecer sua queda e com isso conseguiu sustentar seu corpo sem bater a coluna ou a cabeça. Considere-se um rapaz de sorte. Se me dão licença, vou pedir que finalmente isolem aquela área para que não aconteça nada de mais grave. Já volto. Descanse por uns quinze minutos e depois está liberado.

O médico saiu e Joshua estava furioso. Nicholas sentiu dores por todos os lugares. Bateu com o quadril na queda, seu punho por ter sustentado a queda também estava dolorido.

- Vamos pra casa. – Nick ia arguir, mas sua mãe falou com firmeza. – E não adianta discutir.

- Bunny e Peanut podem...

- E desde quando eles não podem vir com a gente, Nicholas Coleman?

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