Capítulo 5 Contato inapropriado

Dafne terminou de ajeitar Lavínia e Ted na cama.

-Boa noite, e que Deus te abençoe, princesinha.

-Papai ainda não chegou, Nia? – era assim que esse raio de sol a chamava.

Cézar devia voltar naquela noite de uma longa viagem de negócios, na qual embarcou dois dias depois de ter contratado Dafne.

- Não, querida, ele só estará em casa tarde da noite. Mas, se você dormir como uma menina boazinha, quando o papai chegar eu pedirei que venha te dar um beijo bem gostoso.

- Você me conta a história do príncipe sapo? – Lavínia estava ficando cansada, e seus longos cílios sedosos continuavam a piscando, lutando contra o sono.

Cheia de amor e ternura, transbordando em seu peito, Dafne concordou com um sorriso carinhoso.

- Só se você fechar os olhinhos enquanto escuta, tudo bem?

- Sim, Nia.

A criança obedeceu e puxou o cobertor gasto de bebê, estampado de borboletas cor de rosa. Ela não dormia sem essa “naninha”, e Dafne já tinha acostumado a várias desses pequenos hábitos importantes para a pequena.

Sentada na borda da cama, Dafne começou a contar a história.

- Era uma vez um belo príncipe muito charmoso...

- Como ele se chamava? – a vozinha infantil perguntou.

- Cézar...

Essa era uma rotina conhecida entre elas nessa semana que se seguiu em que estavam juntas. Dafne sempre começava a mesma história do príncipe sapo verruguento, e Lala (como a chamava carinhosamente) vinha sempre com a mesma pergunta, e Dafne devia dar a mesma resposta, e elas davam as mesmas risadas.

- O pobre príncipe Cézar, tinha sido transformado em um sapo por uma bruxa muito má, e o feitiço só poderia ser quebrado se uma linda princesa o beijasse com muito amor. Numa bela tarde, quando Cézar saltitava pela floresta...

As palavras eram relaxantes, suaves, conhecidas de cor por Dafne, o que possibilitava deixar seus pensamentos vagar.

- E a linda princesa disse, "Sapinho da perna dobrada, abra rápido a porta fechada..."

Vendo que Lavínia tinha finalmente adormecido, ela parou de falar e enfiou a mão de seu pedacinho do céu debaixo do cobertor cheio de estrelas, antes de beijar a bochecha rosada e suave. Quando ligou o sistema de monitoramento eletrônico, voltou-se para a porta na intensão de sair, o sorriso terno em seus lábios deu lugar a um sobressalto que quase arrancou sua alma do corpo.

O alto vulto sombrio encostado na soleira se endireitou, fazendo sua sombra se projetar na direção dela.

- O que foi, senhorita Vieira? Parece que viu um fantasma. Eu te assustei?

Ela puxou o ar ruidosamente, tentando controlar a tempestade de reações dentro dela. Dafne se perguntou por quanto tempo Cézar estava ali escutando e observando, ela gaguejou.

- Não... é só que... – ela cruzou os braços, desviando o olhar. - Eu... nós... não esperávamos o senhor em casa tão cedo.

Quando Cézar entrou, ela tentou passar por ele, com o pulso disparado e o peito latejando; mas ele segurou seu braço.

- Não disse que poderia ir. – o toque dele queimava sua pele, e o seu perfume amadeirado com almíscar, se infiltrou por suas narinas, por seus poros. Cézar inclinou o corpo para tocar a testa de Lavínia com os lábios antes de sair do quarto para a sala de brinquedos, puxando Dafne pelo braço, onde uma única lâmpada noturna estava acesa.

- Temos um assunto a resolver, senhorita. – seus olhos frios a perfuraram impiedosamente.

- Um assunto a resolver? – Dafne se esqueceu da camisola fina que usava, da ausência do sutiã, e do robe que não parava amarrado porque ela continuava emagrecendo, e a peça estava cada vez maior. Alarmada pelo jeito como ele disse aquelas palavras, tudo desapareceu de sua mente, ofuscado pelo aumento de tensão que ela podia sentir, Dafne tentou libertar-se.

Mas o aperto de Cézar em seu braço aumentou, até que seus dedos pareciam esmagar os delicados ossos dela. Aproximando-se, sugeriu, provocante.

- Me diga, Dafne... – ele falou passando o braço por sua cintura fina. - Não acha que a princesa precisa beijar o pobre sapo?

Dafne sabia que Cézar tinha uma veia sádica que sempre se sobrepunha quando estava com ela, desviando os olhos, ele procurou não entrar em pânico.

- É... é... apenas um conto de fadas que ela gosta muito, nada de mais, senhor.

- Então... – ele disse ficando a meio centímetro da boca dela. – Esse é mais um motivo para não decepcioná-la. Todo conto deve ter um final feliz, e como sou o personagem principal...

O rosto estava parcialmente coberto pelas sombras geradas pela luz suave. Dafne lutou para não olhar para aquela boca austera e sensual, mas infelizmente ela era fraca, e marcada pela lembrança com atordoante clareza do gosto que ele tinha.

- Se não percebeu, eu não sirvo para bela princesa, senhor Hoffmann.

- Você pode não ser uma princesa, mas é tão bonita quanto uma, Dafne. – aquela frase não foi dita com suavidade ou sedução.

De repente Cézar pareceu zangado, seus olhos a penetravam a pele dela como mil agulhas afiadas, e ela estremeceu, sentindo seus olhos arderem.

Temendo o que podia acontecer se ele a tocasse, Dafne pediu quase em súplica, com voz rouca, evitando os olhos dele.

- Por favor, senhor...

Ignorando o apelo, ele tomou o rosto dela entre as mãos e a beijou. A boca máscula e exigente não hesitou em invadir a dela, se insinuando e pressionando seus lábios como se brasas escaldantes a consumissem, a língua dele se enroscou na dela, provocando-a a corresponder, sugando e provando seu gosto.

O toque e o beijo de Cézar eram o que Dafne tinha desejado com ardor por anos a fio. Quando ele levantou a cabeça, ela precisou de alguns segundos para voltar a si e notar que Cézar ofegava assim como ela. Sabendo que ele só a tinha beijado porque estava zangado, sentiu uma feroz satisfação por Cézar não ter ficado insensível a ela.

- Bem, bem, bem...- A voz dele mostrava uma certa aspereza que ela conhecia muito bem. -  Quem iria sonhar que uma babá tão sem sal, seria capaz de tanta paixão?

Com um terrível medo de que sua resposta inflamada tivesse despertado lembranças nele que era melhor ficarem esquecidas, Dafne pediu num tom baixo.

- Por favor, deixe-me ir. O senhor não tem o direito de me tratar assim.

- Posso alegar provocação da sua parte. - Ele estava rindo agora, brincando com seus nervos. – Quer que eu prometa nunca mais tocar em você?

- Eu preferiria que assim fizesse, senhor Hoffmann.

- Por que tanta cerimônia? – ela tentou se afastar, mas ele a manteve no mesmo lugar passando um braço em sua cintura, praticamente colando seus corpos. - Quero que me chame pelo meu nome, Dafne. Como eu estou fazendo com você.

Ela sentiu uma ligeira pontada de medo e desespero.

- Não sei se seria adequado, senhor.

- E uma ordem. – rebateu num tom que não aceitaria menos que uma afirmativa.

Os dedos dele tamborilavam nas faces dela, em um movimento que não era uma carícia, mas a expressão de sua raiva controlada e fria.

- Diga-me, Dafne, se eu achar impossível manter minhas mãos longe de você, o que fará?

Ela queria dizer que iria embora, mas não conseguia se imaginar em outro lugar.

- Você vai se demitir e ir embora?

De algum modo ele devia ter adivinhado que ela nunca sairia dali por vontade própria, e estava escarnecendo dela, zombando de sua frágil estrutura e orgulho.

- Acho que isso não ajudaria a Lavínia, principalmente agora que ela ficou acostumada comigo, já formamos um vínculo, e uma criança dessa idade precisa de estabilidade.

Como se falar de Lavínia o tivesse acalmado, Cézar deixou as mãos caírem e deu um passo para trás, agora com a expressão controlada e fria de sempre.

Mas, quando Dafne quis sair apressada, ele voltou a impedi-la.

- Nem pense em desaparecer, Dafne. Quero falar com você. Já fez a sua refeição?

- Não.

- Então, poderemos comer juntos e conversar ao mesmo tempo.

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