Saímos da área do galpão novo e fomos direto para o porto. Nossos navios estavam sendo abastecidos pelos nossos tecidos que sairiam pelo mundo.
— Como o senhor pode ver, senhor Beneditt, o porto está a todos vapor. Os navios são abastecidos semanalmente, todo sábado. Como vamos ver na segunda-feira, a produção diária vem aumentando dia após dia, com a mão de obra importada das terras do oeste — Magnus fala todo pomposo, se orgulhando do seu trabalho.
— Entendi. Quero entrar no navio — falo, já indo na direção da proa.
Dário começou a farejar o local, havia um cheiro diferente que me fez enjoar, algo que eu não esperava. Descemos até a meia-nau do navio e puxo o ar. Ele me leva para dentro do navio. Descemos as escadas até a parte das cabines, puxo o ar novamente e entro.
Me deparo com quatro mulheres deitadas, e uma delas me chama atenção. Elas se levantam, assustadas pela minha brusca entrada.
Uma delas abaixa a cabeça em submissão, e é essa que eu e Dário procuramos.
— Meu senhor.
As outras duas olham uma para a outra. Ela deveria ter uns vinte e poucos anos.
— Saiam, os outros — ela me olha assustada e abaixa a cabeça. As outras duas saem correndo e Gabriel me olha sem entender.
— Senhor Alexander, Morgana está na nossa embarcação para cozinhar e...
Olho para trás, e Condor entende o que digo através do nosso link.
— Senhor Gabriel, por favor, me mostre onde fica a cabine do comandante.
Condor o leva, deixando Magnus e a mulher.
— O que fazes na minha terra, bruxa, sem consentimento de entrada?
Ela se curva e começa a tremer.
— Perdoe-me por invadir, senhor, mas estou só de passagem. Esse navio irá para Palm Valle. É minha chance de escapar da morte.
"A marca da morte está na testa dela", Dário diz. Ele passou a ver essas marcas após a perda da sua companheira. Algo novo e sobrenatural se abriu para nós dois que ficamos vagando — vemos algumas coisas que nenhum outro ser pode ver.
— Por que foges, bruxa? — perguntei, querendo saber por que tem a marca em sua testa.
— Um caçador queria minha vida em troca dos metamorfos. Queria o sangue de vocês para curas medicinais. Fui comprada e escravizada por quatro anos, e consegui fugir com ajuda da minha magia.
Quando ela fala isso, meu sangue ferve e Dário quer sair.
— Caçador? Fale tudo que sabe, bruxa.
Vou até ela e pego seu pescoço. Dário tem sede de vingança.
— Por favor, meu senhor, por favor, eu contarei tudo. Não me mate.
Ela tremia de medo. Controlei Dário. Esses caçadores humanos há séculos estão à nossa caça. Foi por isso que quase fomos dizimados.
A coloco no chão e ela chora e treme.
— Fale, bruxa. Eu não sei se consigo dominar ele por muito tempo.
— Pukar era o seu nome. Ele vive na região de North Westh, nas entranhas da floresta, caçando seres místicos. Ele tem uma espécie de livro de seus ancestrais, ao qual conhece cada ser e seus poderes.
A ouço dizer. Os pelos da minha nuca se arrepiam com sua fala.
— Por que não denunciou à rainha Mortiça, rainha das bruxas? — perguntei, tentando entender por que ela não é leal à sua rainha.
— Temei pela vida da minha rainha e pela minha. Fugi para me livrar dele, meu senhor.
Chego bem próximo dela e a puxo para cima. Olho dentro dos seus olhos.
— Floresta ao norte de North Westh. Como chegamos?
Ela sai de perto de mim e vai até um armário, pegando um papel. Desenha um mapa que espero não ser falho ou mentiroso.
— Não minto, meu senhor, porque sei que o senhor me matará. Apenas acabe com ele e lhe dê uma morte dolorosa.
Ela segurou minha mão para me entregar o papel e parou, estática.
"A luz da lua cheia a prometida chegará, trazendo o amor que já se foi ao coração aprisionado pela dor."
Ela disse, tremendo, e caiu no chão.
— Bruxa, o que foi isso?
Senti correntes elétricas atravessando meu corpo.
— Uma ajuda do oráculo, meu senhor. Sua companheira está próxima.
Ela fala e a olho. Como poderia, se eu a perdi há séculos?
— Tenha cuidado com o que fala, bruxa.
— Me perdoe, meu senhor. Não fui eu, foi o oráculo.
A olho com raiva, me viro, e Magnus nos olhava. Ele é lupino também e entendeu o recado.
— Verificarei essas informações, mas quero que a levem direto para o rei Mayson. Somente ele decidirá seu destino.
Falo, e Magnus entende. A bruxa nada diz. Para ela, foi um mau dia atravessar minhas terras.
— Olhe para a lua, meu senhor. Sua companheira estará ao lado da deusa!
Ela grita ainda na cabine. Cambaleando para fora do navio, eu procuro por ar e espaço.
"Eu disse, Alex. Nossa companheira de segunda chance está perto."
Dário pula animado, me fazendo ter mais vertigem. Gabriel e Condor retornam.
— Senhor Beneditt, o que aquela moça fez de errado? Há algo que podemos fazer? O comandante disse que ela é uma boa cozinheira.
Olho para a mulher que estava sendo levada por Magnus para fora do navio. Daqui, ela irá para o rei. Ele saberá o que fazer com ela e com suas informações preciosas.
— Nada aconteceu. Ela somente estava no navio de forma clandestina, menor de idade. Agora vamos terminar a vistoria.
Falo, e Gabriel se cala. Seguimos andando de um lado para o outro e meu coração batia acelerado.
Às cinco terminamos nossa visita ao cais, ao porto, ao galpão novo e com novos maquinários.
— Alfa, por que está quieto? — Condor fala, e olho para ele.
— Aquela bruxa me deu informações sobre caçadores com livros sobre seres místicos. Preciso avisar o rei sobre isso. Temo que ainda há homens que se arriscam a usar nosso sangue para benefício próprio.
Condor me olha, assustado.
Após chegar em casa, subi direto para o meu quarto. Preciso tomar banho. Estava cheirando a humanos — não que eles não cheirem bem, mas é muito cheiro para um ser que tem o olfato apurado.