(Ponto de Vista de Adam)
"Eu quero o divórcio."
Essas palavras ficaram ecoando na minha cabeça sem parar.
Já ouvi muitas merdas ao longo da vida, especialmente exercendo o cargo de CEO, mas nenhuma chegou perto do impacto de Aria pedindo o divórcio sem nenhum aviso. Aquilo foi, disparado, a pior de todas. Sempre me orgulhava da minha força e da capacidade de lidar com qualquer situação, por mais inesperada que fosse, até porque isso fazia parte do trabalho. Ainda assim, por algum motivo, não consegui dizer uma única palavra ou sequer mover os pés até vê-la entrar no carro com meu tio. Quando finalmente recobrei os sentidos, ela já havia ido embora, deixando-me afundado no choque que provocara.
Ficara atônito com a ousadia dela, com a forma como me olhara nos olhos ao lançar aquelas palavras como se não fossem nada. Os olhos frios e cor de avelã de Aria traíram por completo a personalidade submissa e tímida que eu sempre conhecera. Também me surpreendera por ter sido afetado por isso, quando, na verdade, eu não deveria nem ter reagido. Afinal, nunca quis me casar com ela. Os três anos de convivência com Aria sempre pareceram uma prisão moldada pela mentira dela e pela insistência do meu avô.
Nunca me importara com Aria, mas ouvir a palavra "divórcio" me paralisara de tal forma que eu mal conseguia pensar direito, até que a porta do carro se abrira, lembrando-me de que eu ainda estava parado em frente ao cemitério. Logo, meu assistente pessoal saiu do carro, dizendo:
— Senhor, sua reunião com o Grupo Taylor é em trinta minutos, e o local fica a mais de uma hora daqui. Precisamos sair agora, se…
— Cancele. — Voltei ao carro, sem condições mentais para processar coisa alguma, nem mesmo uma reunião que poderia render milhões. Logo em seguida, meu assistente correu atrás de mim, demonstrando claramente estar confuso com a situação.
— Mas, senhor, essa não é a única reunião do dia. O senhor também tem... — Ele começara a listar minha agenda lotada, enquanto eu me acomodava no banco de couro.
— Cancele tudo! — Respondi, afrouxando a gravata ao mesmo tempo, pois parecia que estava perdendo a capacidade de respirar. — Entre e ligue o maldito ar-condicionado. — Ordenei, sem conseguir evitar que a irritação transparecesse na minha voz. Ao perceber a tensão que emanava de mim em ondas, ele murmurou uma resposta e assumiu o volante, tirando o carro do estacionamento.
Já na estrada, o ar saía com força pelas saídas do carro, mas eu ainda sentia um calor crescendo dentro de mim. Nem desabotoar a camisa adiantara. Tudo o que eu conseguia pensar era em Aria... E naquele maldito divórcio. O choque já passara. Agora, tudo que restava era raiva.
"Quem ela pensava que era?
Com que ousadia achava que podia decidir se ia se divorciar ou não?
Se alguém deveria pedir o divórcio, esse alguém era eu. Fui eu quem me casara contra a vontade. Fora ela quem me quisera tanto a ponto de me drogar só para me ter. Se alguém tinha o direito de jogar os papéis do divórcio na cara de alguém, esse alguém era eu." Mas, até então, essa ideia sequer havia me ocorrido...
Ela era uma boa secretária: diligente, eficiente, sempre à disposição. Também era uma esposa razoável, já que nunca me atrapalhava ou exigia atenção. E aceitava tudo que eu oferecia: o pouco tempo, o sexo esporádico, as conversas quase inexistentes… Tudo dentro dos limites que eu julgava adequados para o tipo de relação que tínhamos.
Essa mudança repentina me fizera quebrar a cabeça, tentando entender o que havia dado errado. Então, uma ideia passou pela minha mente e intensificou ainda mais minha raiva, sem que eu soubesse explicar por quê.
— Descubra se a Aria tem se encontrado com alguém ultimamente. Homens, em especial. — Falei. Meu assistente me lançou um olhar pelo retrovisor, e a surpresa em seus olhos era evidente diante do meu pedido: uma investigação sobre minha própria esposa. No entanto, eu não podia ignorar nenhuma possibilidade. "E se Aria realmente estivesse me traindo? Eu podia jurar por Deus que…"
Antes que eu pudesse concluir o pensamento, meu celular vibrou sobre o banco de couro. Era Sophia. Seu nome apareceu na tela, acompanhado de uma mensagem: queria saber quando eu estaria disponível para outra consulta médica.
A mensagem dela esfriou minha raiva, mas trouxe à tona um sentimento ainda mais perturbador.
Pensara em todos os motivos pelos quais minha esposa silenciosa de repente estava pedindo o divórcio, mas nem por um segundo cogitara que engravidar a mulher que um dia amei pudesse ser o principal.
Voltei no tempo, há dois meses, no dia em que mais uma vez deixei a bebida me conduzir à pior das decisões. Tudo o que eu precisava fazer era buscar Sophia no aeroporto, levá-la ao hotel e voltar para casa. Em vez disso, aceitei o convite para tomar uma bebida no quarto dela… "Só por nostalgia." Foi o que ela disse.
A verdade é que, naquela noite, não nos limitamos apenas a beber. Fomos muito além, e agora o resultado crescia dentro dela. Mesmo não considerando aquilo um erro, eu sabia que jamais deveria ter permitido que acontecesse. Ceder à tentação de reviver algo com Sophia, depois de três anos, tinha sido uma fraqueza.
Eu queria aquele filho. Era meu, e não pretendia abrir mão dele. No entanto, essa decisão me colocava diante de algo que nunca previ: o risco de perder Aria em um divórcio.
Eu não podia permitir que Aria se divorciasse de mim, pois precisava dela tanto no escritório quanto em casa. Ela era minha secretária há sete anos, e ninguém desempenhava o trabalho que ela fazia. Além disso, eu a sustentava bem e sempre garanti que nada lhe faltasse como esposa. "Como ela planejava sobreviver sem mim? Será que achava que, ao pedir o divórcio, estava se colocando acima de mim? Que jogo era esse que estava tentando jogar? Ha! Mulheres... Achando que podiam viver sem um homem ao lado."
Enquanto refletia sobre tudo isso, comecei a pensar em como resolver.
No fim, só precisava encontrar uma forma de agradá-la.
— Do que as mulheres gostam? — Perguntei ao meu assistente.
Ele hesitou no início, surpreso com a pergunta repentina, antes de pigarrear e responder:
— Sobre isso... Bolsas de grife, eu acho. Ah, e flores.
Enquanto rolava a tela de uma loja online no celular, fui clicando em todas as bolsas caras que chamavam minha atenção, até acumular compras suficientes para durar o ano inteiro. Depois disso, fizemos uma parada em uma floricultura no caminho de casa.
Foi então que descobri a existência de mais de cem mil tipos de flores, o que me deixou completamente indeciso. Aparentemente, mulheres também tinham flores favoritas, mesmo quando se tratava de algo aparentemente tão insignificante. No fim das contas, escolhi lírios, já que a atendente garantiu que era a preferência da maioria.
Assim, voltei para casa com apenas um pensamento fixo na mente:
Eu não deixaria Aria se divorciar de mim.