Evelyn
Acordei sentindo meu corpo relaxado como não sentia há dias. Quando abri os olhos, percebi que ainda estava deitada sobre Alexander, seus braços firmes ao meu redor, como se quisesse me impedir de fugir. Levantei a cabeça para olhar seu rosto e o encontrei sereno, em paz.
Ele era um brutamontes. Mandão, arrogante e presunçoso. Mas precisava admitir: depois de Brandon, estar nos braços dele me trouxe a tranquilidade que eu precisava para finalmente dormir.
Senti seu corpo se remexer sob o meu. Por um instante, quis fingir que ainda dormia, prolongando aquela sensação de segurança por mais alguns minutos. Mas então, a realidade da noite passada me atingiu como um choque. O que eu estava fazendo? Como pude dormir nos braços de outro homem logo após enterrar o amor da minha vida?
Eu amava Brandon. Iria me casar com ele. O que as pessoas pensariam se soubessem que passei a noite na cama de Alexander?
Minha respiração acelerou. Eu precisava sair dali. Precisava me afastar dele.
Droga, eu precisava sair daquela cama!
Me desvencilhei dos braços dele e saí bruscamente, o que o despertou no processo.
— Que porra...
Ele resmungou, alarmado, levando a mão para debaixo do travesseiro.
Eu sabia exatamente o que ele estava prestes a pegar. Suspirei e tentei acalmá-lo.
— Sou só eu!
Declarei firme.
Aquela atitude me lembrou Brandon. Ele tinha o mesmo costume: um sono leve, acordava ao menor ruído e, quando assustado ou acuado, imediatamente recorria à arma que mantinha sob o travesseiro.
Os olhos de Alexander encontraram os meus, e percebi que ele já havia se situado. Ele passou a mão pelos cabelos, e meu olhar seguiu o movimento, quase hipnotizado.
Alexander podia ser tudo: arrogante, mandão, insuportável na maior parte do tempo. O completo oposto do homem que eu desejaria. Mas nenhuma mulher, em sã consciência, diria que ele não era bonito.
E ali, com o cabelo bagunçado, a cara de sono e aquela muralha de abdômen exposta...
Ele era uma visão dos céus.
— Por que está de pé?
Sua pergunta veio em uma voz rouca, arranhada de sono, mas ainda carregava aquele tom autoritário de sempre.
— Já passa das dez.
Apontei para o relógio.
Ele virou rapidamente para checar, como se o objeto fosse uma bomba prestes a explodir.
— Merda!
Xingou e se levantou num impulso.
Fiquei ali, parada, apenas observando seus movimentos. Ele caminhou até o closet, pegou algumas roupas e as jogou sobre a cama antes de entrar no banheiro, sem sequer fechar a porta.
O barulho do chuveiro preencheu o ambiente. Alguns minutos se passaram e então ele saiu, com uma toalha frouxamente amarrada na cintura.
Quando percebi o que ele estava prestes a fazer, gritei:
— O que pensa que está fazendo?!
Minha voz saiu meio engasgada.
Ele me ignorou e continuou. Num reflexo, virei de costas.
Já não bastava ter dormido na cama dele, agora vê-lo nu? Isso já era demais.
— Não sei qual o seu problema com coisas óbvias. Estou tentando descobrir se é mania ou estupidez.
As palavras dele me atingiram como um tapa. Irritada, virei sem pensar.
Graças a Deus, ele já vestia as calças.
— Escuta aqui, Alexander, meu problema não são as coisas óbvias, e sim sua falta de pudor!
Ele sequer me olhou. Continuou se vestindo como se eu nem estivesse ali.
— Será que consegue parar por um minuto e me dar atenção?
Cruzei os braços, encarando-o.
— Não tenho tempo para isso.
Ele voltou ao closet.
Deus do céu, como esse homem conseguia ser irritante!
— Precisamos conversar.
Segui até ele. Ele estava olhando para as gravatas como se escolher uma fosse a decisão mais difícil do mundo.
— Alexander!
Chamei sua atenção.
E Nada.
Ele pegou uma gravata e ficou sofrendo para dar o nó.
— Por acaso você sabe o que está fazendo?
Perguntei com sarcasmo, arqueando uma sobrancelha.
Por instinto, segurei a gravata e, com movimentos rápidos, fiz o nó perfeito.
Percebi o desconforto dele com minha atitude, a tensão vibrando de seu corpo.
Pelo visto, não era só com gravatas que Alexander Sterling não estava acostumado.
— Pronto, seu problema foi resolvido. Agora podemos conversar?
Ele olhou para o relógio no pulso.
— Um minuto.
Franzi o cenho, confusa.
— Como é?
— Agora, apenas 50 segundos.
Esse cretino estava contando o tempo?!
— Você realmente tem problemas sérios!
Minha irritação transbordou em cada sílaba.
— Seu tempo acabou.
Ele se afastou, indo em direção ao quarto.
Segui atrás dele e, antes que alcançasse a porta, disparei:
— Estou indo embora.
Alexander virou para mim como se eu tivesse acabado de dizer a coisa mais absurda do mundo.
— Isso está fora de cogitação.
Ele se virou novamente, mas dessa vez fui mais rápida e me coloquei diante da porta, impedindo sua saída.
— Não estou pedindo sua permissão, Alexander. Estou informando.
Ele se aproximou, e meu corpo recuou instintivamente. Até que senti minhas costas tocarem a porta.
— E, para sua informação, estou dizendo...
Sua voz saiu baixa, carregada de intensidade, enquanto ele reduzia ainda mais a distância entre nós, fazendo com que dividíssemos o mesmo ar.
Você não vai a lugar nenhum até que eu resolva esse problema.
A raiva que eu vinha guardando desde a noite passada explodiu dentro de mim. Coloquei as mãos em seu peito e o empurrei para longe.
— Se o problema a ser resolvido sou eu, fique tranquilo. Porque eu não sou problema seu!
Enfatizei a última palavra para não deixar dúvidas.
Mais uma vez ele avançou. Bati as costas contra a porta e, desta vez, ele posicionou as mãos nela, me encurralando entre seus braços.
— Você se tornou um problema meu assim que entrou no meu carro.
Vi a raiva refletida em seus olhos, mas não era por eu querer ir embora. Era pelo desafio que eu representava para ele. Pelo visto, o ego do senhor Sterling era bem grande.
— Gostaria de lembrar que eu não entrei nele.
Cutuquei seu peito.
— Você me jogou dentro dele, me obrigando a vir para Houston.
Antes que ele respondesse, seu telefone tocou. Ele o tirou do bolso e atendeu.
— Benjamin.
Aproveitei para tentar sair dali, mas, com a mão livre, ele me segurou contra a porta.
Tentei me desvencilhar, mas era inútil. Ele era como uma muralha à minha frente.
— Entendido, avise Jackson. Estarei no escritório em alguns minutos.
Assim que desligou, voltou sua atenção para mim.
— Preciso sair. Voltarei em breve. Não me obrigue a trancá-la nesse quarto, Evelyn, porque, se for necessário, eu tranco.
Bufei, cruzando os braços.
— Preciso falar com minha família, meus amigos. Eles devem estar preocupados. Nem mesmo meu celular trouxe comigo!
Puxei o tecido do pijama.
— E eu nem tenho roupas!
Seus olhos desceram pelo meu corpo, e, pelo modo como me olhou, me senti nua.
— Amélia vai providenciar o que for necessário. E, por enquanto, você não vai falar com ninguém. Pode sair do quarto, mas não do apartamento.
Ele segurou meu queixo entre os dedos e apertou de leve. Não para machucar, mas para me lembrar quem mandava.
— Isso é uma ordem.
Me desvencilhei do seu toque.
Sem dizer mais nada, ele abriu a porta atrás de mim e saiu.
— AAAHH! HOMEM IRRITANTE! — Gritei, frustrada.
Cerrei os punhos, determinada.
— Vamos ver, senhor Alexander Sterling, quem realmente dá as ordens aqui.