Dois anos e meio atrás...
S
aio do colégio meio distraída, a mochila pesada batendo nas minhas costas, quando, de repente, vejo John correndo na minha direção. Sim, O John. O garoto mais gato da escola, o cara que todas queriam e que, por algum motivo misterioso, estava flertando comigo. E olha, eu sei que parece sorte, mas eu gosto de pensar que tem mais do que isso envolvido. Porque, vamos combinar, John não era do tipo que saía distribuindo sorrisos por aí. Ele era praticamente inalcançável, aquele tipo de garoto que mal levantava a sobrancelha para as meninas que jogavam charme na cara dura.
A galera chegou até a começar uns boatos de que ele era gay, porque, sério, era impossível alguém ser tão indiferente às investidas. Mas John? Ele nem se incomodava. Enquanto os outros garotos saíam em defesa da sua “honra” ao menor comentário, ele dava de ombros, com aquele jeito maduro e confiante que me deixava ainda mais intrigada. “Não preciso provar nada para ninguém,” ele dizia, como se tivesse 30 anos e a vida toda resolvida. E sabe de uma coisa? Ele tinha razão. Para um garoto de dezesseis anos, John era surpreendentemente maduro. Não era de briga, não fazia escândalo. Ele simplesmente... existia, no meio de um mar de hormônios adolescentes, com uma calma que me fascinava.
E agora, lá estava ele, correndo na minha direção, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Meu coração começou a acelerar, e eu fiz o máximo para não parecer nervosa, mesmo que por dentro eu estivesse gritando como uma fã em um show da Taylor Swift.
— Estou indo com o pessoal na lanchonete da esquina, quer ir com a gente? — John pergunta casualmente, como se minha vida não estivesse prestes a virar de cabeça para baixo com aquele convite.
Sorrio nervosa, tentando controlar o rubor que sinto se espalhar pelas minhas bochechas. Claro que quero ir. Quer dizer, quem não iria querer? Mas, ao mesmo tempo, já sinto a sombra da voz da minha mãe me perguntando onde estou. Respiro fundo.
— Eu adoraria — respondo, torcendo para não parecer tão ansiosa quanto me sinto. — Só preciso ligar para casa e pedir permissão. Se você quiser ir, te encontro lá.
Minha insegurança praticamente escorre das palavras, e por um segundo penso que talvez eu tenha soado como uma pateta. Será que ele vai achar que sou uma criançona por ter que pedir permissão?
Mas, para minha surpresa, John não parece incomodado. Ele me olha com aquele sorriso meio de lado que faz meu coração dar uma pirueta.
— Pode ligar. Eu espero.
O quê? Ele vai esperar? John, o garoto mais descolado da escola, está disposto a esperar eu ligar para casa? Eu congelo por um instante, como se o mundo ao redor tivesse parado. Será que é real? E só percebo que estou parada feito uma estátua quando ele estende o celular na minha direção, com aquela tranquilidade toda.
Ah, claro. Ele provavelmente acha que eu não tenho celular... o que faz sentido, já que nunca pedi o número dele e ele nunca pediu o meu.
— Ah, não precisa, eu ligo do meu!
Reviro os olhos enquanto pego meu celular, escondido no bolsinho secreto da minha mochila vermelha. Era quase um ritual: encontrar o celular ali, entre um chiclete velho e algumas moedas perdidas. Aperto o número da minha mãe, já me preparando psicologicamente para o turbilhão de recomendações que viria. Não deu outra.
— Não se esqueça de levar um casaco, viu? E nada de andar sozinha à noite. Ah, e me manda mensagem quando chegar! E mais uma coisa...
Suspirei internamente enquanto ela continuava. Depois de uma lista interminável de "lembretes", ela finalmente me autorizou a ir. Mas, claro, tinha uma condição.
— Seu pai vai te buscar, e isso não é negociável.
Sério? Como se eu tivesse algum poder de barganha nesse jogo.
— Tá, tá, tudo bem... — respondi, tentando parecer o mais casual possível. Mas, por dentro, já sabia que não adiantava discutir. Eu? Concordei? Hã, como se eu tivesse outra opção, né?
É a primeira vez que o John me chama para sair. Ok, eu sei que não posso considerar isso um "encontro" de verdade, porque, né, não vamos estar sozinhos. Mas, mesmo assim, meu coração está batendo forte, como se eu estivesse prestes a viver um momento épico.
— Vamos? — ele pergunta assim que me vê guardando o celular, sua voz cheia de expectativa.
— Sim, vamos! — respondo, tentando soar casual, mas por dentro estou uma pilha de nervos.
Começo a andar pela calçada, já pensando no que dizer, quando, de repente, sinto a mão de John envolvendo a minha. Uau! Ele entrelaça os dedos nos meus, e eu olho para baixo, maravilhada com a imagem das nossas mãos unidas. É como se tudo ao meu redor tivesse desaparecido e só nós dois existíssemos naquele instante. Meu coração quase sai pela boca de tanto nervosismo e felicidade.
Olho para o rosto dele, e lá está John, me mirando com um olhar carinhoso e um sorriso que poderia iluminar a cidade inteira. Garota, você tirou a sorte grande! Sinto uma onda de alegria e um frio na barriga, como se tudo estivesse se encaixando perfeitamente. O que mais poderia acontecer nessa noite mágica?
Seguimos caminhando pela calçada até o final da quadra, e juntos atravessamos a rua, já sob os olhares curiosos dos nossos amigos que nos aguardavam em frente à lanchonete. Uau, a pressão! Os olhares de surpresa e os cochichos me fazem corar instantaneamente. É como se eu quisesse desaparecer em um buraco, mas me controlo. Não vou deixar que esse momento especial seja estragado!
Sem que ninguém dissesse nada, todos entram e somos os últimos a nos sentar. O único espaço disponível nas mesas unidas é lado a lado, e eu vejo John puxar a cadeira para que eu me sente. O quê?! Ainda existem homens assim na face da Terra? Estou me sentindo uma verdadeira princesa!