Querido diário,
Hoje faz dois anos que eu me apaixonei perdidamente pelo amor da minha vida. Se alguém tivesse me contado que tudo ia acontecer desse jeito, eu teria rido na cara da pessoa! Nada disso foi planejado, muito menos racional. Você sabe bem, as coisas simplesmente aconteceram. Eu, que sempre achei que tinha o controle de tudo, me vi completamente rendida por esse amor quase impossível que brotou sem pedir permissão.
Mas estão me chamando! Prometo que volto depois com uma fofoca fresquinha, daquelas que você vai adorar. Segura aí, diário, porque a história de hoje é quente!
Beijos, Denise.
— Já estou indo, mãe! — gritei enquanto fechava o diário com um suspiro.
Aqui em casa, a palavra "calma" não existe. Meus pais, eu juro, devem achar que são coelhos, porque a casa vive cheia de crianças. Eles adoram essa bagunça! A mesa na hora das refeições parece uma festa, todo mundo falando ao mesmo tempo, e no final do dia é sempre aquela algazarra. Gente correndo pra lá e pra cá, risadas altas, conversas cruzadas, e claro, uma confusão básica. É como se o caos fosse um membro da família!
Com 19 anos agora, claro que já me acostumei, mas quem olha de fora provavelmente pensa que é uma completa loucura.
Calço minhas pantufas do Stitch, aquelas que comprei na nossa última viagem à Disney, e saio do quarto sem a menor ideia de para onde ir.
— Mãe? — chamo, esperando que ela responda, e logo a vejo surgindo no corredor, com meu irmãozinho de dois anos nos braços, que está enrolado na toalha de banho.
Minha mãe, Rosa, é simplesmente a mulher mais linda e forte que eu já conheci. Ela tem uma história cheia de altos e baixos, mas, para mim, é o maior exemplo de superação. Mesmo no meio do caos que é nossa casa — afinal, cuidar de todos nós não é pouca coisa —, ela sempre está impecável. Unhas feitas, cabelo no lugar, e nunca, nunca sem um batom nos lábios. Se um dia eu conseguir ser ao menos um terço do que ela é, já vou me dar por feliz.
— Pode desligar o forno, por favor. — ela pede, e antes que eu possa dizer algo, desaparece no quarto do Benjamin.
Desço as escadas quase correndo e vou direto para a cozinha, onde o aroma de algo delicioso e salgado invade meus sentidos. Assim que me aproximo do forno, giro o botão, desligando-o com cuidado. Mas, claro, não resisto a espiar o que está lá dentro. O cheiro é bom demais para ignorar!
Ao abrir o forno, o vapor quente escapa com força e b**e direto no meu rosto, me obrigando a dar um passo para trás. Por alguns segundos, espero o calor dissipar, e quando finalmente consigo espiar lá dentro, vejo a deliciosa torta douradinha. Mesmo sendo enorme, eu já sei que essa torta não vai durar dois minutos com tanta gente em casa.
Com cuidado, pego as luvas de cozinha e tiro a torta do forno, colocando-a sobre a bancada. O cheiro é irresistível. Tiro as luvas e, quando me viro, quase tenho um ataque de susto.
— Mariana do céu! Quer me matar do coração? — exclamo, ainda me recuperando da surpresa.
Minha irmã, Mariana, me encara com um sorriso travesso nos lábios. Seus olhos azuis brilham, cheios de malícia, e o batom rosa que ela está usando mal disfarça o fato de que, na verdade, quase chega a ser vermelho. Seu rosto está todo maquiado, e, sinceramente, nem eu teria conseguido fazer uma maquiagem tão impecável assim. Mariana é um capricho só.
Ela é minha segunda irmã entre os vários que tenho, e também a gêmea do terrível Enzo, que, assim como ela, herdou os cabelos loiros e os olhos azuis do papai. Os dois têm doze anos agora, e vivem aprontando juntos. Não dá para baixar a guarda com esses dois nem por um segundo.
— Desculpe. — Ela se aproxima da torta, inclinando o rosto para sentir o aroma maravilhoso que sobe do recheio. Não a culpo, o cheiro está mesmo irresistível. — Me empresta sua jaqueta jeans? — pede, desviando o olhar da torta para mim com um brilho esperançoso nos olhos.
— O que eu já te disse sobre usar as minhas coisas, Mariana? — pergunto, cruzando os braços e tentando parecer firme.
— Por favor, Denise! — implora, seus olhos grandes e suplicantes assumindo aquele famoso olhar de “gatinho do Shrek”, o que só dificulta ainda mais. — Eu preciso dela para ir ao aniversário da Carina!
Respiro fundo, contando até dez mentalmente. É sempre assim. Ela vem com esse jeitinho fofo, toda desesperada para parecer a nova adolescente descolada da turma, e eu simplesmente não consigo dizer não. Não mais. Porque, antigamente, as coisas não eram tão fáceis para ela. Eu sei bem, já estive nessa fase de adolescente rebelde que queria se expressar através de roupas e estilo próprio.
Mariana é minha irmã mais nova, e, sinceramente, vê-la passar por essa fase é como me ver no espelho alguns anos atrás.
— A sua sorte é que eu sou baixinha e a jaqueta te serve. — comento, meio contrariada, mas não consigo segurar o sorriso ao ver o rosto dela se iluminar com um sorriso vitorioso.
— Já sabe as regras, né? — pergunto, levantando uma sobrancelha de leve, só para reforçar.
— Não emprestar, não perder, não rasgar, não manchar e devolver lavada. — Ela repete automaticamente, como se as regras já estivessem gravadas em sua mente. Antes que eu possa dizer qualquer outra coisa, ela me abraça com força, envolvendo minha cintura com seus braços magrinhos.
— Obrigada, Denise! Você é a melhor! — diz, já correndo em direção à porta.
Eu fico parada, observando-a sair apressada, provavelmente porque já está atrasada para a festinha da amiga. Enquanto vejo Lorena sumir pela porta, não consigo evitar um suspiro. Eu conheço bem esse olhar empolgado e aquela pressa de adolescente que quer estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Espero que ela siga as regras, mas, conhecendo a minha irmã, tenho minhas dúvidas.
Eu me lembro bem dessa fase da minha vida. E, honestamente, eu não tinha nem um terço da vaidade que Mariana tem hoje. Enquanto ela é toda delicada e poderia facilmente ser comparada a uma daquelas patricinhas de filmes adolescentes, eu era completamente o oposto. Fui a típica adolescente "blá", aquela que achava que o mundo inteiro conspirava contra mim e que ninguém merecia minha atenção.
Na minha lista de CDs favoritos estavam Avril Lavigne, Green Day, e por aí vai. Mamãe, coitada, sempre tentava me comprar roupas fofas, cheias de cores vibrantes, mas eu dava um jeito de trocá-las ou vendê-las nos brechós da cidade. Tudo isso só para aumentar minha coleção de roupas pretas. Meu armário era basicamente um buraco negro de camisetas de banda e calças rasgadas.
Essa fase, no entanto, durou até meus 16 anos, quando eu descobri que gostava de John. Sim, o John, o cara mais popular da escola. Foi aí que tive uma epifania: se eu quisesse que ele reparasse em mim, eu precisaria me vestir de maneira mais “adequada”. Claro, isso fez a alegria da mamãe, que aproveitou a chance para me arrastar para um shopping e me dar um verdadeiro banho de loja.
E, acredite ou não, funcionou. Uma semana depois, lá estava eu, sentada com John no refeitório da escola, como se fosse algo casual. O fato chocou toda a escola, claro. Afinal, ele era o astro do time de basquete, e eu, até então, a invisível rebelde que, de repente, virou popular da noite para o dia. Tudo porque tive a ideia brilhante de entrar para a equipe de líderes de torcida. Por sorte — e para surpresa de todos, inclusive minha — eu tinha talento. Em pouco tempo, virei o assunto da escola.
Agora, todo mundo queria ser amigo de Denise Braga, e John estava completamente na minha. Claro que não cedi de cara; dei uma de difícil por um tempo, seguindo os conselhos da mamãe. Ela sempre dizia que um pouco de mistério nunca fazia mal a ninguém.
Ouço as vozes familiares dos dois homens adultos da casa: papai e seu filho Lucca. Meu coração acelera instantaneamente ao reconhecer a voz de Lucca. As minhas mãos começam a suar, e uma onda de ansiedade mistura-se com a empolgação de estar perto dele. Mesmo depois de dois anos desde que me apaixonei, eu ainda sinto esse frio na barriga cada vez que ouço sua voz, quando seu olhar se cruza com o meu, e especialmente quando estou em seus braços em um momento de tranquilidade.
— Oi, seus lindos! — digo, caminhando em direção à sala. Ambos se viram para mim, e seus sorrisos quase idênticos brilham ao me ver.
Não consigo evitar o choque com a semelhança entre os dois. É como se Lucca fosse a versão mais jovem do meu pai. Ambos têm o mesmo tom de cabelo loiro, olhos azuis e praticamente a mesma altura. Mas não é só a aparência física que é impressionante; é a maneira como eles olham, sorriem e até como mexem nos cabelos. Lucca poderia facilmente passar por um clone do Sr. Henrique, sem nenhum esforço.
— Oi, De. — Lucca me cumprimenta com um sorriso, e eu não consigo deixar de corresponder. Enquanto vou em direção a ele, Mariana aparece repentinamente à sua frente.
— Estou pronta, Lucca! Vai mesmo me levar, não é? — ela pergunta, com um olhar ansioso e um brilho de expectativa.
Papai observa a cena e, sem perceber, Lorena permanece de costas para ele. Ela sabe que ele desaprovaria a maquiagem que ela usou. Papai ri ao ver Mariana celebrar com um entusiasmado “Yes” ao receber a confirmação de Lucca. É um momento divertido e típico da nossa casa, onde as pequenas surpresas e interações diárias sempre trazem um sorriso aos nossos rostos.
— Sabe onde está sua mãe? — pergunta papai, me dando um beijo carinhoso no topo da cabeça. Enquanto observo Lucca e Mariana desaparecerem pela porta, sinto uma onda de calma e um sorriso se formando no meu rosto.
— Ela está no quarto com o Ben.
— E os outros meninos? — Papai pergunta, abrindo o paletó e olhando em volta, estranhando o silêncio da casa.
— Felippo e Enzo estão jogando videogame, e Luana Maria estava desenhando.
— Ótimo. Vou tomar um banho. — papai diz, começando a sair.
Vejo papai se afastar e respiro fundo, ponderando se devo voltar para o quarto ou procurar algo para fazer enquanto Lucca não volta. O silêncio da casa, por um momento, parece um convite para refletir ou para aproveitar um momento de tranquilidade.
Decido ir para o quarto e me jogo na cama, olhando ao redor e sorrindo ao ver como meu espaço mudou ao longo dos anos. Fecho os olhos e um sorriso se forma no meu rosto ao visualizar a imagem de Lucca em minha mente. O amor que sinto por ele é mais profundo do que eu jamais imaginei ser possível, e agora entendo melhor a dedicação que minha mãe tem por papai.
É incrível testemunhar o amor deles. Eles têm uma conexão tão profunda, uma sincronia impressionante e um carinho que faz qualquer um sentir uma pontinha de inveja.
Cansada, dou um bocejo e me ajeito na cama, colocando o braço sobre os olhos para tentar bloquear a luz que entra pela janela. A claridade está me impedindo de ver a imagem de Lucca com mais clareza em minha mente, e eu desejo desesperadamente poder mergulhar ainda mais nesse pensamento sereno e amoroso.
Você deve estar se perguntando: “Você está apaixonada pelo seu irmão?” Posso dizer que é quase isso. Mas na nossa história, há alguns detalhes que complicam um pouco as coisas.
“Tudo começou quando minha mãe conheceu meu pai no Brasil. Naquela época, a vida dela não estava exatamente no melhor momento, mas trouxe um presente maravilhoso: eu, rsrs. Não me chamem de convencida; é o que sempre ouvi ao longo da minha vida. Que eu sou um presente para ela.
Como nem tudo é perfeito, eles não combinavam muito e, infelizmente, não ficaram juntos.
Quando eu era uma garotinha, talvez com quatro ou cinco anos — ah, vamos ser honestos, eu era tão pequena que não lembro de tudo com precisão. Enfim, naquela época, minha mãe conheceu meu pai e logo começaram a morar juntos. Sim, eu chamo meu padrasto de pai porque, ao contrário do meu pai biológico, ele me criou e me amou desde o primeiro momento em que nos conhecemos. Meu pai biológico, por outro lado, nunca se preocupou em saber se eu estava bem. Por isso, considero Henrique o meu verdadeiro pai. E é daí que a história começa a ficar complicada.