Capítulo 2

ZAHARA

Chiara me atentou o juízo desde o momento que soube que estava na cidade, ela queria que eu a acompanhasse numa festa, que acabei cedendo. Ela não me deu muito detalhes, mas eu sabia que seria uma festa para pessoas ricas e influentes e tinha cara de que seria muito chata.

Quando meu celular começou a tocar em cima da cama, já sabia que era minha melhor amiga, mas dei uma espiada só para confirmar e acabei atendendo.

— Oi, Chiara.

— Estou aqui parada na frente do seu hotel tem uns cinco minutos.

— Já estou saindo — respondi enquanto trancava a porta e me dirigia ao elevador.

Assim que o motorista dela abriu a porta do carro, pude perceber o olhar de surpresa de Chiara. Não sei se por causa do tempo que não nos víamos ou se era por conta do vestido vermelho ou os brincos de diamantes que balançavam a cada passo que eu dava.

— Chiara, você está tão linda.

— Não tanto quanto você, Zah.

— Mas ainda assim, muito bonita.

Como já era de se esperar, assim que a porta traseira foi aberta, uma chuva de flashes disparados quase me cegou. Passei o braço pelo de Chiara, passamos pelo tapete vermelho e entramos juntas no local. Como já era de se esperar, o salão estava lotado de homens e mulheres, acabamos atraindo muitos olhares.

Enquanto andávamos pela multidão, pelo canto do olho notei dois homens nos observando, pensei em comentar com Chiara, mas deixei de lado quando fui apresentada a algumas pessoas importantes da cidade.

 Depois que minha melhor amiga encontrou o namorado, me vi vagando sozinha pelo salão, por ter ficado tanto tempo longe de casa, aquelas pessoas eram completas estranhas para mim. Até avistei alguém conhecido. Era Theo, o irmão de Chiara.

— Theodoro! — Chamei-o.

Quando se virou em minha direção, pude perceber a surpresa estampada em seu rosto, talvez não esperasse me reencontrar, ainda mais numa festa.

— Zah, que surpresa vê-la por aqui. — Lá estava o apelido carinhoso que ele tinha me dado quando éramos crianças.

— É bom vê-lo também, Theo.

— Quando chegou?

— Desembarquei hoje pela manhã.

— E pretende ficar até quando na cidade dessa vez?

— Uma ou duas semanas porque depois tenho um desfile em Nova York.

— Veio sozinha?

— Chiara me arrastou para cá. Você sabe que ela não sossega enquanto não consegue o que quer.

— Minha irmã é mesmo impossível, nem parece minha gêmea.

— Exatamente.

— Você está deslumbrante — Ele me elogiou enquanto me fez dar uma voltinha.

Nossa conversa foi interrompida quando o aniversariante se aproximou de nós, com um sorriso presunçoso estampado no rosto. Ele parecia ter envelhecido, não sei se por conta da bebedeira ou se por conta do cigarro.

— Parabéns pelo seu aniversário. —  O felicitei, mas logo me afastei por conta do cheiro de cigarro, que eu odeio.

— Obrigado, gatinha.

— Você me daria a honra de uma dança?

Pensei em recusar, mas seria uma desfeita muito grande recusar uma dança ao aniversariante, então acabei aceitando. Enquanto ia com Gabriel para o meio da pista, pude perceber o a raiva nos olhos de Luca. Foi então que me surpreendi quando senti alguém segurar minha outra mão e assim que me virei, vi Luca.

— Theo, meu migo, por acaso está querendo roubá-la de mim? — Gabriel perguntou ao amigo.

— Não, só que eu te conheço e não acho uma boa ideia você ficar perto dela.

— Ela já é maior de idade e pode decidir se ela aceita ou não dançar comigo.

— Você quer mesmo dançar com ele, Zah?

Algumas mulheres poderiam achar atraente dois homens disputando sua atenção, mas eu não estava gostando nada daquela confusão. A minha vontade era sair correndo dali, mas decidi ir com Gabriel para a pista de dança. Quando a música terminou, me desvencilhei dos braços de Gabriel e saí a procura de Theo. Acabei encontrando-o sentado no bar, com uma garrafa de água com gás nas mãos. 

A festa estava muito chata. Eu já participei de muitas festas e soirée, mas essa estava mais parecendo um enterro. Era notório que Gabriel não sabia organizar uma boa festa de aniversário. A música que tocava era lenta e instrumental, que juntamente com as conversas entediantes estavam me deixando com sono.

— Pretende ficar na festa por muito tempo? —  Perguntei, torcendo para que ele dissesse que não e me levasse para longe dali.

— Na verdade, eu só passei para cumprimentar o Gabriel.

— O que acha de sairmos para tomar um drinque? — sugeri.

— Pode ser. Com certeza lá deve estar mais animado do que aqui.

— Você veio de carro? — perguntei assim que cruzamos as portas.

— Sim.

— Ótimo. Porque eu vim com a doida da sua irmã e ela simplesmente sumiu.

Depois que o manobrista trouxe o carro de Theodoro, decidimos ir para o Lucky's, um bar que costumávamos frequentar quando éramos adolescentes. Onde tudo fazia lembrar uma taverna viking e o dono tinha muito orgulho. Logo que passamos pela porta, um recepcionista colocou sobre nossas cabeça um chapéu viking, daqueles com chifres saindo de cada lado.

— O que você vai querer beber? — Theo perguntou.

— Não posso voltar para casa e deixar de tomar o chopp local.

Theo fez sinal para um barman que anotou nossos pedidos e em seguida deslizou por cima do balcão duas enormes canecas de chopp. Depois de um brinde, tomamos um gole do líquido gelado, que foi um refresco para o calor que estava fazendo ali dentro. O lugar fedia a cigarro e suor, trazendo boas lembranças. Tinha sido bem ali que eu tinha dado o primeiro beijo e não poderia ter sido com outra pessoa senão Theodoro.

— E como anda a vida amorosa? Da última vez que li em alguma revista, você estava saindo com um ator.

— Essas revistas inventam muitas mentiras, ultimamente eu ando é fugindo dos homens.

— Zah, ser uma mulher amarga não combina nadinha com você.

— Sim, mas é que depois de ser magoada e usada tantas vezes, a gente acaba cansando.

— Não desista, pode não parecer agora, mas ainda existem homens bons por aí, querida — Ele apoiou a mão sobre a minha em cima do balcão.

— Tipo você?

— Eu não sei se me encaixo nesse quesito.

— Mas você é diferente, posso confiar que não vai me machucar meu coração.

— Porque sou seu amigo.

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