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Capítulo 2: A Estratégia

Dois anos se passaram. A dor aguda da traição de Anny havia se transformado em uma cicatriz profunda, enterrada sob camadas de sucesso profissional e um cinismo cuidadosamente cultivado. Tobias não era mais o homem ingênuo e confiante que acreditava em contos de fadas de casamentos perfeitos. Ele havia aprendido, da forma mais cruel, que relacionamentos podiam ser transações, e sentimentos, meras ferramentas de manipulação.

Ele estava sentado no mesmo tipo de bar escuro e barulhento que se tornou seu refúgio na noite em que seu mundo ruiu. Não era o mesmo bar de dois anos atrás, mas a atmosfera era a mesma: discreta, com a penumbra servindo como um manto de anonimato para almas solitárias ou simplesmente em busca de algo passageiro.

Tobias frequentava vários desses lugares pela cidade, misturando-se à multidão, um lobo em pele de cordeiro.

Seus dedos tamborilavam no balcão de madeira polida, o tilintar suave do gelo em seu copo de uísque ecoando o ritmo lento de sua respiração.

Em seu dedo anelar esquerdo, a aliança ainda brilhava. Não a aliança de noivado verdadeira, aquela ele guardou, escondida em uma gaveta, um lembrete silencioso e amargo. Esta era uma aliança nova, discreta, mas inegavelmente presente. Ele a comprou semanas depois da fatídica noite, em um acesso de... o quê? Sarcasmo? Desafio? Ele não tinha certeza na época. Só sabia que não conseguia se livrar do símbolo do casamento, mesmo que o casamento em si fosse uma farsa.

Naquelas primeiras semanas após o rompimento com Anny, a ferida estava aberta. Ele se jogou no trabalho, operando por horas a fio, buscando exaustão física para silenciar o barulho em sua mente. Evitava amigos, família, qualquer coisa que pudesse forçá-lo a falar sobre o ocorrido.

Apenas Zenon, seu assistente na clínica, testemunhou de perto a transformação de Tobias, oferecendo apoio silencioso e eficiente, sem invadir seu espaço.

Foi em uma dessas noites solitárias no bar que aconteceu pela primeira vez. Ele estava olhando para a aliança, girando-a distraidamente, perdido em pensamentos sobre como algo que deveria simbolizar amor e união podia se tornar a representação máxima da traição. De repente, sentiu uma presença ao seu lado. Um homem, bonito e com um sorriso charmoso, inclinou-se levemente e disse, com um tom conspiratório e divertido: "Aliança bonita. Mas parece que ela não te impede de olhar para cá."

Tobias ficou momentaneamente confuso. Ele? Casado? Sim, a aliança... Ah. A aliança. Ele percebeu o mal-entendido, ou a leitura intencional do símbolo. Em vez de corrigir, um impulso estranho o dominou. Um misto de curiosidade e um desejo súbito de testar algo novo, algo perigoso. Ele sorriu de volta, um sorriso sedutor e misterioso que ele sabia usar bem em sua profissão. "Algumas alianças são apenas... acessórios", respondeu, sua voz baixa e rouca.

A partir daquela noite, um padrão começou a se formar. A aliança, ironicamente, tornou-se um ímã. Rapazes solteiros, e às vezes até comprometidos, pareciam intriga-se pela presença da joia em seu dedo. Havia um mistério em Tobias, o homem aparentemente "tomado", que estava sozinho em um bar tarde da noite.

Alguns eram atraídos pelo frisson do proibido, outros talvez vissem nele alguém que não buscava compromisso sério – afinal, ele já "tinha" uma vida, certo?

Tobias, inicialmente surpreso, logo percebeu o potencial. A aliança não era mais apenas um lembrete da dor; tornou-se uma ferramenta. Uma espécie de escudo, garantindo que os encontros que surgissem fossem, por definição, casuais. Ele não precisava mentir sobre ser solteiro ou buscar algo sério, pois a aliança já dizia: "Eu sou complicado. Não procure compromisso aqui."

Ele abraçou essa nova persona. O cirurgião plástico bem-sucedido durante o dia, o homem casado misterioso e sedutor à noite. O jogo era simples. Ele trocava olhares, sorrisos, palavras sugestivas. Se a outra pessoa mostrava interesse, o roteiro se desenrolava. Uma conversa regada a drinks, a tensão crescendo, a saída do bar... E a noite.

Eram noites passageiras, intensas, mas sem profundidade. Tobias se tornou um mestre na arte da desconexão emocional nesses encontros. Ele estava presente fisicamente, charmoso e atento no momento, mas sua mente e coração permaneciam distantes, protegidos pela muralha do cinismo que ele havia construído. Ele não perguntava sobre a vida deles além do superficial, e não compartilhava nada sobre a sua. Eram bolhas de desejo e flerte que estouravam ao amanhecer.

A parte crucial do "jogo" era a fuga pela manhã. Tobias nunca passava a noite inteira. Ele sempre encontrava uma desculpa para ir embora antes que o sol nascesse, antes que a conversa pudesse se aprofundar, antes que o silêncio da manhã pudesse se tornar desconfortavelmente íntimo.

Ele saía de fininho, deixando a outra pessoa dormindo, sem deixar recado, número de telefone ou qualquer rastro que pudesse levar a um contato posterior. Era a sua forma de manter o controle, de garantir que a regra do "sem compromisso" fosse rigidamente aplicada.

Essa rotina durou dois longos anos. Tobias se tornou expert em encontros casuais. A aliança em seu dedo era sua armadura, sua desculpa pronta, seu filtro contra qualquer resquício de apego ou expectativa. Ele não estava buscando amor, nem mesmo carinho genuíno. Estava buscando distração, validação superficial de seu magnetismo (que Anny o fez questionar) e, acima de tudo, uma maneira de provar a si mesmo que podia ter controle total sobre suas interações românticas/sexuais, algo que lhe foi cruelmente tirado no passado.

Alguns poderiam ver isso como um comportamento destrutivo ou patético. Para Tobias, era sobrevivência. Era a única maneira que encontrou de lidar com a dor da traição sem ter que se abrir novamente ao risco de ser ferido. Ele havia se tornado a versão distorcida do que a aliança representava: comprometido com a falta de compromisso, preso a um símbolo de união para garantir sua própria solidão emocional segura.

Ele se convenceu de que estava feliz assim, livre de dramas, de expectativas, de corações partidos (o dele e o alheio). Cada noite casual era uma pequena vitória, uma confirmação de que ele não precisava de laços para se sentir desejado, mesmo que esse desejo fosse baseado em uma fachada.

Contudo, no fundo, o brilho da aliança em seu dedo era um lembrete constante. Não apenas da traição de Anny, mas também da vida que ele pensou que teria, da intimidade e confiança que ele agora acreditava serem impossíveis. Ele era bem-sucedido, charmoso, cobiçado... e profundamente sozinho por escolha. Ele ainda não sabia que, em breve, esse jogo cuidadosamente orquestrado seria virado de cabeça para baixo por um encontro inesperado, e que a aliança, o símbolo de sua proteção, se tornaria a fonte de sua maior complicação.

Ele pediu outro uísque, o gelo tilintando. Olhou ao redor do bar. Outra noite, outro potencial encontro sem sentido. A rotina era segura, previsível. Exatamente como ele gostava. Ou pensava que gostava.

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