Ellie Carter – Narrando.
“O número discado, encontra-se indisponível ou fora da área de cobertura. Por favor, tente novamente mais tarde” – A mensagem tocou pela quinta vez.
A mesa do jantar ainda estava posta, mas agora, a comida já estava fria; macarrão, frango assado e o bolo cor- de -rosa cheio de brilhos e as velas intactas.
Charlie se negou cantar o parabéns.
Ela o esperava com sua roupa de princesa e a coroa torta na cabeça, como se aguardasse pelo príncipe encantado. Mas agora, ao invés do sorriso em seus lábios, havia apenas a frustração.
— “Papai”. – Charlie chamou com a vozinha carregada de tristeza, enquanto adormecia de tanto chorar.
Naquele instante meu peito se apertou. Segurei as lágrimas e me sentei ao lado da minha filha, afanando os cachinhos loiros dela, tentando a confortar.
—Calma meu amor, o papai está a caminho. – Menti.
Eu tive que fazer isso; ela não precisava descobrir tão cedo o que significa ser esquecida. Eu já passei por isso, mas não a deixaria sentir o mesmo.
Respirei fundo e peguei o meu celular, engolindo o orgulho para tentar mais uma vez. E antes mesmo de desbloquear a tela, a notificação chegou.
“Não insista. Ele não voltará hoje para casa”. – Suspirei profundo. Eu sabia de quem era aquela mensagem.
Era de Jenifer. Minha meia-irmã.
Eu sabia que eles estavam juntos. Eu sempre soube, mas tudo o que queria era o mínimo: que ele se importasse com a nossa filha e a colocasse em primeiro lugar ao menos uma vez na vida, como havia prometido no nosso casamento.
Respirei fundo e me levantei para pegar a minha bolsa, voltando até Charlie em seguida. Me abaixei e depositei um beijo em sua cabeça, vendo-a adormecida, com o rosto úmido pelas lágrimas.
—A mamãe já volta, minha princesa! – Falei suavemente, como uma promessa.
Respirei fundo e a cobri, saindo do quarto em seguida.
Assim que passei pela porta, peguei meu celular e disquei para Rose, minha melhor amiga para pedir ela se cuidar da Charlie. Ela é a pessoa na qual mais confio neste mundo.
Não demorou muito até que Rose passasse pela porta; por sorte, ela não morava muito longe dali.
—Ela já adormeceu. Voltarei antes mesmo de ela sentir a minha falta! – Falei caminhando até ela, vendo-a me responder com um sorriso fraco e um aceno de cabeça.
—Se precisar de mim já sabe. É só ligar!
Assim que ela falou, eu a abracei e saí.
Fui até a calçada chamar um táxi, sentindo meu sangue ferver em minhas veias. Só consegui me acalmar quando vi o carro parando na porta da casa do meu pai.
Assim que entrei na casa, avistei meu pai sentado no sofá fingindo ler o jornal, ao lado de Marta, minha madrasta.
—O que faz aqui? Não era para estar em casa cuidando da sua filha? – Perguntou ela com um olhar desdenhoso.
—Aonde ele está? Está aqui, certo? Cadê eles? – Perguntei sentindo a decepção me consumir.
—Ellie... - Chamou meu pai, mas eu o interrompi.
—Vocês sabiam? – Perguntei vincando as sobrancelhas.
Marta riu.
—Querida... Nós não temos culpa alguma sobre a sua crise matrimonial.
—Crise? – Perguntei incrédula. —Ele sumiu na noite do aniversário da filha dele para passar a noite com a própria cunhada e você chama isso de crise?
—O que queria que fizéssemos? Você apareceu grávida sabe-se lá de quem e nos forçou a darmos um jeito nisso. Ainda quer ter razão?
—Ele se casou comigo por escolha dele. Sabia que eu estava grávida e aceitou.
—Cale-se! – Gritou meu pai. —Alex se casou para limpar a sua barra. E se não fosse por ele a nossa família seria uma vergonha nessa cidade.
—Pai...Eu passei a vida me dedicando para me tornar uma mãe, uma filha e uma esposa perfeita e...
Antes que eu terminasse de falar, fui interrompida por Marta.
—Não venha com os seus dramas para cima da gente, Ellie. Se não consegue segurar o próprio Homem, não é problema nosso. – Disse ela vindo até mim e me empurrando para fora. —Agora saia e não volte mais aqui!
A lágrima que eu tanto segurava, desceu sem previsão.
Por que ele está me tratando assim? Eu sou a filha legítima do meu pai, afinal! Parece que já fui abandonada pelo todo o mundo.
Não voltei para casa. Não queria que Charlie me visse naquele estado.
Meus pés me levaram até o centro da cidade. Um bar de luzes fracas e com um letreiro piscando: “Esqueça quem você é por uma noite”.
Era tudo o que eu precisava.
Ao passar pela porta, um homem alto, uniformizado e mascarado me abordou.
—Senhorita...Seja bem-vinda! – Disse ele me estendendo uma máscara preta com brilhos.
Assenti com um aceno de cabeça e a vesti, indo até o balcão de bebidas.
Pedi um drink. Depois outro. E mais outro.
Enquanto eu sentia a bebida queimar em minha garganta, minha mente voltava aos anos em que eu pensava que seria feliz. As promessas, os olhares, os sorrisos.
Ele dizia que a minha filha seria amada, que ela teria o melhor pai e que eu não precisava me preocupar. – Mas todas as promessas foram quebradas.
Respirei fundo engolindo a tristeza e ao pedir mais um, senti uma presença forte, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar.
De repente, uma voz soou atrás de mim.
—Você parece querer esquecer o mundo. – Me virei, vendo um Homem alto e forte. Seu corpo marcava pela roupa social já com o colarinho afrouxado.
Ele tinha um cheiro marcante; como se meu corpo o reconhecesse de algum lugar.
Sorri levemente, levando a bebida até os lábios.
—Pensei que esse fosse o lema do bar.
Ele sorriu ladino.
Os olhos dele desceram pelo meu corpo, voltando para os meus olhos cobertos pela máscara.
—E é, mas você precisa de algo mais forte que isso. – Disse ele pegando o copo da minha mão, colocando-o em cima do balcão, mantendo os olhos fixos em mim. — Vem comigo e eu te mostrarei.