22:00 PM

— Antes de qualquer coisa, não haja assim. — sugiro, decidida — Da forma com a qual falou foi muito arrogante e pretensiosa. Acha mesmo que ela sequer te ouviria se chegasse falando dessa forma? Se fosse eu, certamente não.

— E como eu devo chegar nela? — Hector pergunta, sua voz adquirindo um tom mais intenso de desespero: — Inferno! Estou um caos. Eu não quero parecer um babaca, é só que eu estou muito nervoso e não sei o que fazer.

Posso afirmar com todas as letras de que eu não iria querer estar na pele dele. Ter que declarar-se abertamente para alguém é de dar nos nervos, e a mínima possibilidade de que isso aconteça comigo — de que eu tenha que me declarar para algum cara a quem gosto, — me dá enjôo e me deixa tonta.

— Primeiramente, se quer jogar a verdade escancarada sobre ela, faça isso de forma simples e não passiva-agressiva. — lhe digo: — Seja cuidadoso com as palavras, não precisa chegar todo arrisco já falando que o cara é um babaca, isso só te torna o babaca.

— Então como eu devo falar? Quais palavras tenho que usar? — Hector está desesperado. Parece mesmo empenhado em conquistar Suzane.

— Tente seguir a mesma linha de raciocínio da pergunta que fez, mas trocando algumas palavras e o tom de voz. — sugiro.

Hector pensa. Há um momento de silêncio em que talvez ele esteja dialogando consigo mesmo para saber qual melhor opção é a certa a tomar. Sinto os olhos castanhos de William sobre mim. Queimam como uma fogueira simples que acaba de causar um grande incêndio. Não o encaro. A porta branca parece ser a coisa mais atrativa do Universo nesse exato momento. Não quero olhá-lo pelo simples fato de ter recebido a Angelina adolescente de volta novamente. Sinto que sou boba. É claro que sou. Ou, ao menos, nesse exato momento estou sendo.

Posso vê-la. Os olhos estão atentos, esperançosos. Seu corpo miúdo permanece inclinado para a frente, como se estivesse assistindo um filme em seu ápice total. Sinto que meu coração está acelerando, e pensamentos aleatórios e vergonhosos atravessam a minha mente na mesma velocidade em que uma música vinda não-sei-de-onde toca de fundo, ofuscando a música alta que toca do lado de fora desse banheiro.

Respira. Eu peço. Para com isso. Eu digo.

Meu coração vai desacelerando e batendo no compasso em que deve, embora uma batida mais forte venha a surgir de vez em quando.

— Suzane, sei que a gente não namora, e que o lance que temos foi conversado antes entre a gente, mas… — pausa a fala: — Eu só quero saber o que está acontecendo entre a gente. Você sabe, eu sei que está saindo com esse cara, eu só quero saber o que isso significa…

Agora sim! Eu quase sorrio, porque as palavras usadas foram boas.

— Está muito bem. Acho que está pronto.

— Mesmo?

— Mesmo!

Silêncio.

Isso está começando a me irritar, por que quero logo que ele vá atrás da chave com as meninas e nos tire daqui. Eu não quero — e nem posso —, mais ficar em conjunto a William dentro desse banheiro. Eu só não posso.

No intervalo de tempo em que fico esperando sua resposta, olho para os meus pés descalços. Ah, por favor! O que quer fazer? Simplesmente ignorá-lo? Para com isso. Respiro fundo e o encaro, mas para o meu alívio ele está encarando seus pés também. Por ter se movido, é claro, seu cabelo está para trás novamente, e a regata preta que veste deixa à mostra sua tatuagem. Quero olhá-la, mas não consigo. Parece que a qualquer momento vou ser pega no ato e acabar envergonhada.

Quando estou quase desviando, ele me pega no flagra. Não que eu esteja fazendo algo de errado, no entanto, minha expressão denota que a alguma coisa a mais e que isso me envergonha.

Meu coração volta a acelerar feito um motor de carro de fórmula um. Sinto quando ele entrar na corrida, dando largada, correndo loucamente e depois ele desacelera só um pouquinho, permitindo que eu respire.

Eu quero falar algo. Acho que ele também. Conquanto, quando ele abre a boca, o moço decide responder:

— Mas não é só isso! E depois? E quando ela responder? E se não for o que eu espero? E se…

— Sei que vai conseguir. — digo, tentando lhe denotar convicção.

— Não. Eu não vou, você está mentindo. Ainda não estou pronto. Eu não confio em você. — sua voz soa como a de uma criança cheia de vontades.

Estou sem paciência, mas respiro fundo tentando achá-la.

— Mas eu não acabei de te ajudar? Tenho certeza de que vai se sair bem. — tento outra vez, disposta a convencê-lo: — Você já sabe o que falar, como chegar nela. O resto vai acontecer naturalmente.

— É, mas antes disso você disse para eu desistir, lembra? Talvez esteja querendo me sabotar. Talvez não queira me ajudar direito porque quer que eu me dê mal. Você sabe que eu vou sair quebrado dessa de qualquer forma. — diz ele, choramingando novamente.

Ouço quando ele pergunta por qual motivo esse tipo de coisa sempre acontece com ele a ninguém especifico, xingando a si mesmo e chorando como um bebê. Sei que esta assim porque está bêbado, então não o julgo.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo