22:04 PM

— Eu não faria isso. Não sou tão má quanto pensa! — respondo Hector com o tom de voz mais calmo que consigo, porque, apesar de saber que ele está bêbado, sua postura de bebê chorão está começando a me irritar consideravelmente e sei que não posso falar da forma com a qual quero, afinal, preciso dele para sair daqui.

Sei que as horas estão correndo, mas sequer sei que horas são. Não uso relógio e não reparei se há algum no pulso de William. De qualquer forma, sei que já se passou um tempo considerável, e tudo o que quero fazer é sair logo daqui.

— E se ela disser não? — Hector pergunta. Sua voz está novamente nublada. Ele ainda está chorando, mas agora o choro é contido.

Respiro fundo, buscando as melhores palavras para dizer. Não sei se falo o que penso ou não, pois já notei que Hector não sabe lidar bem com verdades. Na verdade, quem sabe? Nem eu mesma sei.

— E se ela disser não, não é melhor uma resposta negativa do que nenhuma?

O que estou falando? Sou hipócrita. Eu mesma não falaria nada. Deixaria como está, e tentaria esquecer. Deixar que o distanciamento entre nós se tornasse cada vez maior e, com o tempo, eu seria capaz de conviver melhor, mesmo ainda tendo a lembrança. Porque não acho que simplesmente esquecemos de alguém. A gente só aprende a viver sem aquela pessoa, mesmo que no começo seja difícil. 

— Eu não sei. É e ao mesmo tempo não é. Só é… tudo tão confuso. Queria que as coisas fossem mais fáceis. — ouço quando ele soca a porta.

Na verdade, isso me assusta um pouco, pelo motivo de que estou bem próxima a ela. Ainda estou com muita pressa de sair logo daqui, e a possibilidade de ficar aqui dentro por mais algum tempo ainda me dá nos nervos. Entretanto, começo a me sentir um pouco mais empática em relação ao bêbado. Coitado! Em seu lugar estaria enlouquecendo. Viraria as costas, iria para casa e me trancaria no quarto, disposta a sofrer por horas a fio por sentir demais.

De repente, pego-me pensando que gostaria de poder abraçá-lo, mesmo que ele ache que eu queira sabotá-lo.

— As coisas vão acontecer da melhor forma possível, Hector. Se está mesmo disposto a tentar, sugiro que faça logo isso antes que perca a coragem. — digo. — Já estive no seu lugar. Tive a minha chance e a desperdicei. Não faça isso também.

Respiro fundo. Não quero ter que tocar nesse assunto, mas talvez o ajude.

— E o que aconteceu? — Está fungando novamente.

Como alguém consegue chorar tanto? Eu mesma sou chorona, mas esse cara consegue ganhar de mim com facilidade.

Respiro fundo. Não volvo-me para o lado porque sei que William está me encarando. De alguma forma, sinto o seu olhar queimando a minha pele.

— Eu perdi a oportunidade por medo, e depois nunca mais tive outra. Não quero que isso aconteça contigo. Tenha coragem! Lembra que só precisa de alguns segundos de coragem.

E nesse momento reconheço que, além disso, não tenho mais nada para falar a ele. Eu sou uma péssima conselheira.

— Eu vou tentar. Me deseja sorte?!

— Boa sorte, Hector. Você consegue. — digo firmemente.

— Eu já vou então, volto com a chave para tirá-los daqui. — diz ele. Ainda está chorando.

— Boa sorte, cara. — William fala. — Faça como eu te falei. Não pense muito nas consequências. As vezes a gente precisa ser um pouco impulsivo.

Hector se despede completamente desorientado, se afastando. Eu me sento contra a porta. Estou cansada de ficar de pé.

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