Capítulo 3°

Nina chegou em casa tarde e para sua surpresa, todos dormiam com exceção dos muitos seguranças da mansão.

Ela subiu as escadas tranquilamente e respirou aliviada. A última conversa com o pai não tinha sido fácil.

Abriu a porta do seu quarto e estranhou a luz acesa.

— Nonna!— exclamou.

Giulia levantou-se da cama e foi abraçar a neta.

— Abraça a tua nonna e vai ficar mais calma, hein?— ela disse carinhosa.

Nina quase chorou naquele abraço. Precisava tanto que alguém soubesse o quanto estava se sentindo infeliz com o ultimato do seu pai.

Giulia se afastou afagando os cabelos da neta e disse emocionada:

— Ma io acho que tu precisa casar Nina! Má io acho que tu tem que casar com um noivo igual a tua mamma, capisce?

Nina assentiu com a cabeça e sentou-se à beira da cama trazendo a sua avó com ela.

— Nonna, eu amo um homem que non é mafioso! Mas non é nem um poco nonna!

Giulia sabia que a neta não gostava de falar a língua italiana e quando começava a misturar os idiomas é porque estava nervosa, então a abraçou tentando acalmá-la.

— Si, si amore, io sei, io acredito em tu Nina!

Nina suspirou e se afastou secando as lágrimas.

— Me deixa no meu canto, nonna, me deixa amar este homem do meu jeito! Eu não estou fazendo mal para ninguém! Nem mesmo para ele, nonna! Ele nem mesmo sabe do meu amor!

Giulia sorriu e brincou:

— Estás apaixonada por um desses belos de novela?

Nina cobriu a boca, riu achando graça e mentiu:

— Si nonna, como és inteligente!

Giulia sorriu satisfeita.

— Ma io sou muito mesmo! Tu madre nunca mi enganou quando ficou enrabichada pelo tu padre, han?

Nina segurou as duas mãos da avó e disse sorrindo:

— Me diga, nonna! Como a minha mãe se apaixonou pelo meu pai.

— Ma foi una coisa orríbile! O teu nonno ficou louco. Imagina ter una filha apaixonada por um mafioso! E olha que tu padre só era um motorista de Don Paolo Vicenzo, han? Ele se dizia mafioso, achava bonito e foi por isso que fomos perseguidos por aquela organização mafiosa!

Nina ouvia admirada a avó narrar.

— Minha mamma ficou cega pelo papá, nonna?— ela quis saber.

Giulia respondeu rapidamente:

— Si, e non ouvia ninguém! Teu nonno quase infartou.

— Mas ele infartou, não foi nonna?— Nina indagou curiosa.

Giulia ficou confusa, nunca contou a verdade sobre a morte do seu marido, nunca deixou a neta saber que ele fora morto por causa da vingança entre as duas máfias italianas, assim como os irmãos de Salvatore e os pais e foram tantas mortes, até que um dia ela percebeu que estava sendo seguida quando passeava com Nina, ainda bebê.

As lembranças vinham fortes para Giulia e pareceu viver no passado novamente. A sua voz voltava a sua mente no dia em que falava com o genro:

— Vai esperar o quê, Salvatore? Alguém tirar a vida da sua filha? Vamos embora desta terra m*****a!

Salvatore passou a mãos pelos cabelos impaciente e disse baixinho:

— Nunca matei ninguém, mamma! Sou apenas motorista! Não sou mafioso!

Giulia apertou os olhos e deu alguns t***s nos ombros do genro falando nervosa:

— Ma io sempre soube disso, han! Tuo só engana Gioconda!

Giulia olhou para a neta e não via mais motivos para esconder a verdade dela, então disse:

— Teu nonno foi vítima de vingança, come questo, tutta la nostra famiglia.

Nina baixou a cabeça e ficou em silêncio digerindo todas aquelas informações.

Giulia falava sem parar, olhando a neta deslumbrada com tanta história da terra da qual não se lembrava, de onde veio tão pequena.

— E tua mamma tem muito medo de tu seguir o mesmo destino, han! Má tu tem que casar Nina, ma io sinto isso no mio coração, aqui dentro, capisce?

Nina baixou a cabeça e lembrou-se de Valentim. Suspirou deixando a paixão soprar de dentro do seu peito o quão grande e platônico era aquele amor.

Não podia contar para a avó sobre o seu amor, afinal ele era o maior inimigo do seu pai.

Giulia sacudiu a neta para que ela lhe escutasse:

— Nina, você já cresceu, não pode ficar a sonhar com moços belos da tela, han! Tem que casar, ter o seu marido.

Nina ergueu os olhos para responder com mágoa:

— E deixar o meu pai escolher um maldito mafioso como esposo? É isso que quer pra mim, Nonna?

Giulia suspirou e disse se levantando, enquanto soltava as mãos da neta:

— Non tem outro jeito Nina! Se tu escolher outra persona fora de la organizzazione, pode nos levar la morte!

Nina engoliu em seco e não disse nada, apenas acompanhou os passos da avó com o olhar.

Nina se deixou cair sobre o seu leito macio e fechou os olhos pensando em Valentim.

— Você ainda vai ser meu!— disse para si mesma, entre um sorriso e ao mesmo tempo um medo terrível de ter que tirá-lo do coração. Ele estava ali há tanto tempo que nem se lembrava desde quando o viu pela primeira vez na televisão. Nina passava na frente do aparelho e pensava que ele falava com ela. Ela parava e ficava o olhando muito tempo por trás da poltrona do pai, até que Salvatore se aborrecia e desligava a televisão, deixando-a desolada.

Depois de um tempo, ela pediu ao pai que lhe comprasse uma TV para o seu quarto e nunca mais precisou depender de ninguém para assistir ao seu amado.

Valentim, repórter investigativo, cobrava sempre das autoridades uma ação mais enérgica contra o tráfico que italianos patrocinavam no Brasil. Ele dizia que a máfia italiana estava instalada no país. Citava o nome de Salvatore sempre que uma reportagem falava desse assunto. " Todos sabem que Don Salvatore veio para o Brasil na intenção de se esconder das autoridades italianas. Ele era investigado há vinte anos, como podem esquecer desse homem inescrupuloso!"

Nina suspirava ouvindo-o falar. Não se magoava pelo que ele dizia do seu pai, pois era isso mesmo que Salvatore era. O que queria era poder ver o seu amor ali falando o tempo todo.

Valentim devia ter os seus trinta e cinco anos e Nina já percebeu que ele não usava aliança. Já estava decidido no seu coração que seria ele o homem com quem ela se casaria um dia.

Já era tarde quando Nina levantou e viu pela janela do seu quarto, o carro do pai saindo.

Entrou no closet e saiu vestida de calça colada na pele e blusa de mangas longas, tudo na cor preta. Ela saiu do quarto, foi na direção de uma janela no final do corredor e abriu. Em seguida desceu por uma corda presa à parede externa.

Quando alcançou o chão, um homem de cabeleira farta a esperava com um capacete na mão.

— Luca, vamos rápido!— ela disse, pegando o capacete.

Os dois sumiram no meio da escuridão do jardim e saíram por uma passagem secreta que ficava entre uns arbustos encostados no muro e a parte externa do mesmo. Havia uma porta de ferro e Luca tinha a chave. Ele era o homem de confiança de Salvatore e cúmplice de Nina. Uma moto estava estacionada do lado de fora, Nina montou nela e sumiu em alta velocidade.

Luca a acompanhou com o olhar e em seguida voltou para dentro da casa.

Nina estacionou a moto no acostamento da estrada e a arrastou para um lugar seguro onde podia observar a cena em que Salvatore saía de um depósito, numa parte isolada dos arredores da cidade.

Ele vinha acompanhado de quatro homens, todos de terno preto. Ela sempre estava acompanhando os negócios do pai. Daquela mesma forma, se fazendo invisível.

Salvatore carregava uma mala na mão. Ela viu ele entrar no carro e sair. Ficou um pouco ali e percebeu uma movimentação estranha. Se aproximou por entre o mato rasteiro e deslizou até a parte de trás do galpão.

Haviam dois homens fazendo a segurança do lugar.

Ela ficou observando até que saiu de lá dois homens conversando. Ela conseguiu ouvir a conversa, pois o silêncio ali era muito grande:

— Amanhã ele vem buscar o resto e vamos surpreendê-lo!— um deles disse acendendo um charuto.

O outro sorriu e cuspiu no chão.

Nina franziu a testa e segurou a sua arma contendo o desejo de descarregar toda a sua munição neles dois.

Os homens conversaram um pouco e entraram.

Nina se afastou sorrateiramente e voltou a sua moto que estava próxima da estrada.

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