Capítulo 02 - Raquel

É domingo e ainda estou na cama, acho que deve ser meio-dia e está fazendo muito frio. E quem está aqui do meu lado é o meu namorado, ontem ele veio aqui depois que saiu do seu turno. A noite foi boa, pedimos comida, claro que paguei, porque o Fabricio não tinha dinheiro. Nós nos divertimos muito, demos boas risadas com uma série que assistimos na N*****x. Foi tudo perfeito. Estou muito ansiosa, não paro de pensar que é amanhã que começarei a trabalhar na Montenegro Advocacia. E meu celular começa a tocar.

Imediatamente me levanto da cama, com cuidado para não acordar o Fabrício. Vou até a minha bolsa que está perto da cama, pego o celular e coloco a mão no alto-falante para abafar o toque, saio do quarto e encostei a porta vou para cozinha. Vejo que é a Patrícia. Raios! Por que está me ligando?

— Oi? Nem no domingo você me dá folga? — sussurro, dou uma espiada para o quarto ver se o meu namorado não levantou. Acho que não. Continua dormindo, que bom.

— Nossa, que mau humor hein? — reclama. — Nem pra isso ele serve, melhor trocar de namorado.

Vou pra cozinha, encostando na pia. Dou aquela bufada pelo comentário da minha amiga.

— Tivemos uma noite ótima, tá? — digo, ela resmunga alguma coisa na linha que ignoro. — Também estou muito ansiosa pra amanhã.

— Depois eu que sou ansiosa, né? — diz, me zombando do outro lado da linha. — Vem cá, você já contou para o Fabrício que você começa amanhã?

— Ainda não... Mas sei que não vai gostar nadinha disso — digo, com celular no ombro enquanto estou pegando o pó de café do armário. — Por enquanto é melhor ele não saber.

— O que é melhor eu não saber? — dou um salto que derrubo o pó de café na pia e o celular no chão, pelo susto que ele me deu.

— Que isso, gata, está devendo? — pergunta sorrindo e se abaixa para pegar o celular que caiu. Em seguida me entrega, depois vai na pia e limpa a sujeira que fiz. Fico por um tempo observando ele.

— Que foi, gata? — especula, ao se virar de frente para mim, apoiando as mãos na pia.

Ele está me fitando, usando uma regata branca e uma cueca boxer preta, ele não é aquele tipo de caras fortes e malhados, pelo contrário é magro, mas um magro bem definido e com aqueles olhos castanhos levemente puxados me encarando.

Como vou dizer a ele que consegui o trabalho dos meus sonhos? Pensa, Raquel! Pensa!

— Raquel? Raquel? — escuto alguém me chamar, olho para Fabrício e ele faz um sinal apontando para o celular que estou segurando. Então, lembro que estou na linha com a Patrícia. Esqueci completamente.

— Oi? Patrícia, estou aqui. — aponto para sala que preciso falar com a minha amiga e Fabrício balança a cabeça concordando.

Saio da cozinha indo para outro cômodo, pelo menos ganho um pouco de tempo para criar coragem, para contar ao meu namorado que conseguir o trabalho.

— Oi, amiga, desculpa. Aconteceu uma coisinha aqui em casa — digo, me ajeitando no sofá.

— Sério? — pergunta. — O que o Fabrício aprontou agora?

— Não fala assim, Patrícia! — sussurro, chamando a sua atenção. — Mudando de assunto, não sei como dizer a ele que vou trabalhar na empresa... — Inclino para frente, dando aquela espiada na cozinha, se ele não está nos ouvindo.

— Garota, para de graça fala que você mandou o currículo e foi chamada. É assim que acontece quando se manda um currículo, você sabe? — ela diz em um tom de ironia.

— Eu conheço o meu namorado, sei que quando contar ele não vai gostar nada. — Encosto no sofá, encolhendo os ombros. — E também ele é muito ciumento.

— Raquel, minha linda, escute aqui. Isso não é ciúme e sim, posse. Você não é objeto dele, acorda! — ela fala um pouco alto, afastei o celular para não ficar surda, mas acrescenta. — E se me lembro isso é seu sonho, não? Como foi difícil terminar sua graduação, noites em claro estudando e ainda você fez de tudo para fazer aquela pós-graduação, vai desistir por conta desse traste do seu namorado?

— Patrícia! — advirto.

— Ok, ok. Foi mal, mas é verdade, amiga. Então fala a verdade, se ele gosta mesmo de você não vai ser contra. Ou prefere ele saber por outra pessoa? — indaga.

Tenho que concordar que ela está certa. Criar coragem e contar pra ele, não posso deixar ele me controlar desse jeito.

— Está bem, vou fazer isso. Obrigada.

— Pra isso que servem as amigas. — sorrio. Agradeço mais uma vez e desliguei o celular.

Levanto-me do sofá e vou para a cozinha, assim que entro ele está debruçado no balcão. Vai lá Raquel. Você consegue. Aproximo-me e faço um carinho no seu braço, ele olha de lado para mim, está com um semblante sério. Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha, quando vou dizer algo ele leva seu braço ao redor da minha cintura, vindo pra cima de mim e me beija, sua língua invade o céu da minha boca, me deixando perdida nos seus lábios que me entrego completamente.

Ergo meus braços na altura do seu peito, me afastando dos seus carinhos, sei que vou me arrepender por isso. Me fita sem entender porque fiz aquilo.

— Achei que estava gostando? — Leva a sua mão no meu rosto e faz um carinho, fecho os olhos sentindo o seu toque.

— Fabrício, tenho uma coisa para te dizer... — Pego na sua mão e a tiro do meu rosto. — Mandei o meu currículo para a empresa Montenegro Advocacia. — Dou um passo para trás, apoiando-se no balcão da cozinha. E acrescento. — Na sexta-feira eles me ligaram e fui aceita para começar amanhã...

— Uau... Que maneiro... — Força um sorriso, a voz está rouca e desanimada. Se vira dando as costas pra mim, que vai para o quarto que fecha a porta com força.

Ok, sabia que não ia ser uma recepção calorosa. Mas essa atitude foi demais, me ignorando completamente. Vou atrás dele? Ele aparece na cozinha com um semblante diferente.

— Olha... Sei que tenho só dado mancada com você... — Levo a mão no peito. Não diz isso, Fabrício. Tento me aproximar, ele me pede para ficar onde estou e em silêncio, balanço a cabeça que sim. — Sei que você ralou muito naquela faculdade, noites em claro estudando. Ralou mais ainda para conseguir aquele tal de pós... — Fico aqui observando, falando daquele jeito, me faz lembrar da minha amiga Patrícia. As mesmas palavras... — Trabalhar nessa empresa é seu sonho... Então, eu dou meu total apoio... — Fico sem palavras. Não estou acreditando nisso, fui pega de surpresa.

Estou em choque depois do que o Fabrício acabou de dizer. Tinha me preparado para seu ataque de ciúmes... Ele está me apoiando? Não estou entendendo nada e não foi nada daquilo que a minha amiga estava falando, que ele quer me controlar... Ai, Jesus! Estou confusa...

— Raquel? Está me ouvindo? — Estala os dedos na minha frente, que me faz levar um susto e o fito.

— Ai, o que foi? — indago.

— Estava dizendo que tenho uma mulher maravilhosa e incrível como namorada. Agora vai trabalhar na empresa... Empresa... — Ele para um tempo de falar e começa a coçar a cabeça. — Qual o nome da empresa mesmo? — Olha para mim sem graça, perguntando o nome da empresa. — Não resisto, solto um sorriso o abraçando.

— O nome da empresa é Montenegro Advocacia. A maior empresa de advocacia do Rio de Janeiro — digo, meus braços estão sobre o seu pescoço.

— Raquel... Você é incrível, linda, esforçada... — elogia, e sorrio para ele. — Você merece isso e mais, já eu... — Vira o seu rosto. Ah, gatinho não fala assim.

— Não diz isso que chega doer o meu coração. — Ergo as minhas mãos no seu rosto fazendo ele olhar pra mim. — Você é incrível também, viu? — Beijo seu rosto, em seguida faço um carinho no seu cenho. — E que tal, mudarmos de assunto?

— E quer falar sobre o quê? — Volta me abraçar. Está com um olhar diferente, gosto desse olhar.

— Pensei de assistirmos um filme... — Começo a fazer carinho na sua nuca.

— Filme? — Faz uma careta. — Tive uma ideia melhor. — Ergue a mão afastando uma mecha de cabelo que estava no meu ombro, jogando para trás e começa beijar o meu pescoço. — Como está frio, poderíamos voltar para o quarto... Deitar na cama...

— Humm... Interessante... — sussurro, ele vai subindo e indo na minha orelha que dar uma leve mordida.

Meu corpo se arrepia com o seu toque. Viro o meu rosto, ele para de morder a minha orelha, indo direto para os meus lábios, sentindo aquele gosto maravilhoso que me faz arfar na sua boca de desejo. Então ele me puxa para si, suas mãos descem indo para a minha bunda, estou apenas usando uma camisa velha de algodão cinza e uma calcinha vermelha, acabo soltando um gemido.

Ele sem perder tempo me pega no colo e sem demora vai para o quarto, a porta está encostada, ele chuta a porta e me deposita na cama. Sem rodeios tira a minha calcinha e vai abrindo as minhas pernas indo direto no meu sexo. Começa fazendo movimentos leves com a língua, dando voltas ao redor do meu clitóris. Levo as mãos para o travesseiro, apertando com força, acho que percebe a minha reação e aumenta o ritmo.

Puta merda! Sentindo sua língua com mais intensidade. Estou quase chegando lá, começo a rebolar o meu quadril freneticamente, ele continua sem parar o ritmo. Nessa velocidade vou gozar... E de repente ele para!

Oi? Como assim? Me levanto e noto que ele está mexendo na sua mochila preta perto da minha penteadeira. Parece procurando algo. Sério? Precisava ser agora? Ele olha para mim encolhendo os ombros.

— Foi mal, gata. Mas meu celular começou a tocar e precisava ver quem é — explica, se desculpando. Atende o telefone e sai do quarto. Jogo-me na cama decepcionada, é assim que me sinto. Estava perto de... E ele para?

Estou com tanta raiva. Pego o travesseiro e coloco sobre o meu cenho, dou grito de raiva, depois me jogo na cama de novo. Não demora muito ele entra no quarto penso que agora vai.

Sua gata está pegando fogo e vem pagar meu gostosão. Então volto abrir as minhas pernas do jeito que estava para ele continuar onde parou, deitada na cama fecho os olhos. Fico assim por tempo, acho que uns dez minutos, logo me levanto da cama e vejo ele se vestindo.

Merda! Inacreditável! Tá de brincadeira, né? Saio da cama para procurar a minha calcinha, só de lembrar começo a sentir raiva de novo. Ah, Fabrício vou te matar!

Fico de pé com os braços cruzados na altura do peito o encarando com o sangue nos olhos. Tem que ter uma explicação. Pelo menos isso, né? Ele se aproxima e diz que conseguiu um emprego hoje com um conhecido dele, um tal de ratão. Um trabalho de motorista. Não sei, não... Não confio nesse cara, mas o Fabrício confia nele.

— Precisa ir? — pergunto, olhando para ele. — Não precisa fazer esse "trabalho", você já tem um trabalho... — Ele me corta.

— Fui demitido — revela. Sentando-me na cama, fico sem ação.

— Demitido? Isso foi quando? — indago, viro o meu rosto olhando pra ele.

— Na sexta-feira. — Encolhe os ombros.

— Mas por que não me contou isso?

— Eu ia te contar hoje, mas você deu sua notícia que vai começar trabalhar na tal empresa dos seus sonhos, fiquei com vergonha em dizer que seu namorado foi mandado embora. — Se inclina para frente para pegar o tênis, que está embaixo da cama. Tadinho do meu gatinho.

Faço um carinho no seu rosto. Depois calça o tênis, se levanta da cama e vai para onde está a sua mochila. Fabrício sai do quarto com a mochila nas costas, mas volta para o quarto e vem na minha direção.

— Já ia esquecendo. Olha, que a cabeça a minha. — Leva a mão na testa. Ufa, que bom. Já estava achando que tinha esquecido de mim? — Tem como você me emprestar uma grana para encher o carro? — Olho para ele incrédula, após a sua pergunta. — E aí, você tem? — Fica ali esperando uma resposta.

— Sim... — Solto o ar, vou para o guarda-roupa e puxo a segunda gaveta para pegar a minha carteira. — Cem reais está bom? — Vou em sua direção separando as notas.

— Pode ser uns trezentos reais? — Paro na sua frente e levanto a sobrancelha. Que merda é essa?

— Trezentos? Pra que tanta grana, Fabrício? — grito, fechando a carteira.

— Vou trabalhar como motorista de aplicativo. Vou ter que encher o carro e comer algo, vou ficar nesse trabalho até meia-noite — esclarece, ajeitando a mochila nas costas. Fala sério. Vai ficar o dia todo fora? Poxa, eu tinha outros planos... — Tudo bem? — Meneio a cabeça que entendo ele ir trabalhar, dou o dinheiro para ele que coloca dentro da mochila, em seguida dá um beijo na minha testa e sai.

Vou para minha cama e me sento, em pleno domingo, sozinha em casa e com um tremendo fogo. Só me resta ir para o banheiro tomar aquele banho, principalmente água gelada para apagar esse fogo, já que o meu namorado me deixou na mão.

Que ódio que estou e não é pouco não. Fabrício, seu filho da puta. Que ódio. Dou um soco no travesseiro de raiva. É, Raquel não tem jeito, engole o choro. Depois do banho gelado, vejo algo na N*****x para me distrair... Mas vai demorar para eu esquecer isso.

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