A besta acorda
Naquela mesma noite, Mike estava sentado na varanda da cobertura, o olhar perdido nas luzes distantes da cidade. O cigarro queimava entre os dedos, esquecido. A imagem de Yanika, machucada, assustada, chorando em seus braços... aquilo o corroía por dentro.
A raiva não era comum a ele. Mas aquela noite, ela não vinha em ondas. Era um incêndio — constante, incontrolável, animalesco.
Ao seu lado, o pai, Sebastian, observava em silêncio. Um homem velho, mas muito bonito e conservado para sua idade, dono de uma frieza lendária. Mas mesmo ele parecia desconfortável com o silêncio carregado do filho.
— O que aconteceu? — perguntou, a voz grave, mas sem julgamento.
Mike não respondeu de imediato. Respirou fundo, mas os olhos não desgrudavam da cidade.
— Aarow bateu nela, pai. Humilhou Yanika. Várias vezes.
Sebastian cerrou os dentes, mas não disse nada.
Mike jogou o cigarro fora e se levantou, os punhos cerrados.
— Eu vi o rosto dela, vi os olhos. A vergonha, o medo. El