Pedro me viu levantar e lançou um olhar frio e indiferente.
— O que foi? Finalmente cansou de fingir e resolveu levantar?
— Olívia, se você não quer trazer a comida, pode falar diretamente, não precisa fingir.
Lucas, que estava ao lado, aproveitou o momento para concordar.
— Mamãe, você sempre me ensinou a ser uma criança honesta, que não pode mentir...
— Mas por que você está mentindo então?
Na idade em que as crianças costumam dizer apenas o que pensam, Lucas conseguiu dizer algo que me deixou com o coração gelado.
— Chega, já que você está bem, vamos para o hospital.
Em um instante, aquela casa enorme ficou apenas para mim.
Tinha acabado de desmaiar e minha cabeça estava pesada, a dor fraca ficou ainda mais intensa.
Tomei uma garrafa inteira de analgésico, só assim meu corpo se sentiu um pouco melhor.
A sensação de torpor me dominou e acabei caindo no sofá.
— Papai, será que a tia Eunice vai gostar de rosas? Vamos encher a casa de flores?
A voz infantil e animada de Lucas chegou aos meus ouvidos e abri os olhos.
O dia, antes tão claro, continuava claro.
Eu tinha dormido no sofá por um dia e uma noite inteiros.
Pelo visto, Pedro e Lucas não tinham voltado para casa na noite anterior.
Apoiei meu corpo e fui até a cozinha tentar preparar algo para comer, mas Lucas me impediu.
— Mamãe, você esqueceu? Hoje é o dia que a tia Eunice vai sair do hospital, vamos comemorar juntos!
Comemorar?
Eu não sabia, ninguém nunca me falou nada.
Pedro ouviu a voz de Lucas e, com um olhar frio, lançou um olhar a ele antes de se voltar para mim.
— A comemoração vai ser no Hotel de Ouro. Daqui a pouco vou buscar a Eunice, vá você sozinha!
Depois disso, Pedro e Lucas continuaram decorando a casa.
Nunca imaginei que Pedro, sempre tão sensível ao romantismo, pudesse criar um ambiente tão acolhedor.
No fim das contas.
Eu não era a pessoa no coração dele.
Quanto à reunião de família, não quis participar e recusei.
— Não estou me sentindo bem, não vou.
Pedro também não queria que eu atrapalhasse o clima de felicidade, então apenas assentiu.
Depois do café da manhã, voltei a me deitar.
Meu estado de saúde estava piorando cada vez mais, e só deitada eu conseguia aliviar o desconforto.
No meio da sonolência, meu celular tocou.
Atendi de forma automática, meio fora de mim, e ouvi a voz de Pedro do outro lado.
Não entendi nada do que ele disse, apenas desliguei por reflexo.
Não sei quanto tempo se passou, mas no quarto silencioso, de repente, um barulho alto ecoou.
Esse barulho me acordou.
Olhei para a porta do quarto, os olhos cheios de sangue.
Pedro entrou furioso, me vendo meio sentada, deu três passos largos até mim e arrancou meu cobertor.
— Olívia, você fez de propósito? Estamos todos te esperando, e você está em casa dormindo?
— Se está insatisfeita com alguma coisa, fale diretamente, por que precisa agir assim?
— Você sabe que por sua causa a Eunice teve que voltar para o hospital?
Eu fiquei sem entender nada com tudo aquilo.
Por minha causa?
Eu já tinha recusado ir à comemoração há muito tempo.
Pedro estava me culpando?
Antes que eu pudesse reagir, senti uma pressão forte no meu pulso.
De repente, a dor em meu corpo aumentou centenas de vezes, e uma sensação de ardência percorreu minhas costas.
O calor úmido se espalhou pelas minhas costas e, na pele antes clara, começaram a brotar gotas de sangue.