— Caterina, você realmente acha que esse seu teatrinho vai funcionar?
Eu tinha acabado de sair do prédio da empresa de Rocco quando a voz de Scarlett invadiu meus pensamentos pela ligação mental.
— Damon? Por favor. Você realmente acha que Rocco vai deixar você ir?
Cada palavra na mente soava impregnada de triunfo e arrogância.
— Ele está furioso. Provavelmente já planejando como vai conquistar você de novo e levá-la de volta para a cama. Qual será a desculpa desta vez? Um pedido de desculpas? Outra promessa vazia?
Eu não respondi, apenas reforcei minhas barreiras mentais.
Mas ela estava certa.
Rocco não me deixaria ir facilmente.
Desta vez, porém, a decisão não cabia a ele.
As luzes de neon da cidade passavam borradas pela janela do carro. Pedestres apressados seguiam pelas ruas, cada um com um destino, um lugar ao qual pertenciam.
E eu estava prestes a deixar esta cidade para sempre.
Três dias até o voo.
Era meia-noite quando finalmente retornei ao covil vazio.
Uma luz permanecia acesa na sala.
Rocco estava sentado no sofá, exausto. O terno amarrotado, os cabelos desgrenhados, os olhos avermelhados.
— Caterina. — Ele se levantou, a voz incomumente suave. — Me desculpe. Eu passei dos limites mais cedo.
Ele caminhou até mim, passos cautelosos, como se tivesse medo de assustar um animal ferido.
— Eu só fiquei tão apavorado com a ideia de perder você. — A voz dele tremia. — Você não entende, Caterina? Você é o meu mundo.
Era a primeira vez que eu ouvia Rocco soar tão humilde, tão arrependido.
— Nosso aniversário está chegando… — Ele continuou, parando a poucos passos de distância e observando atentamente minha expressão. — O que você quer fazer? Podemos ir para as Maldivas, ou para a Islândia ver a aurora boreal, como você sempre quis. Eu prometo, sem interrupções. Podemos até desligar os celulares.
— O que você quiser. — Minha voz saiu plana.
Rocco claramente não esperava essa reação fria. Ele aguardava lágrimas, gritos, uma reconciliação dramática.
Mas eu estava como uma estranha educada, distante e gelada.
— Vou tomar um banho. — Passei por ele em direção ao banheiro.
— Caterina. — Ele chamou, a voz tingida de ansiedade. — Você está… bem? Parece…
Virei-me para encará-lo. O homem que um dia fez meu coração disparar, por quem eu teria abandonado tudo. Consegui apenas um sorriso cansado.
— Estou bem.
Na ducha, a água quente escorria quase em brasa pela minha pele. Eu esperava que o calor lavasse o cheiro dele, a sensação de vazio, o torpor que me dominava.
Mas era inútil.
Quando saí, Rocco não estava mais na sala.
Ele estava parado diante do closet, olhando fixamente.
Antes, estava cheio das minhas roupas. Agora, restavam apenas alguns casacos antigos fora de estação.
— Onde estão suas roupas? — Perguntou, confuso.
— Fiz uma limpeza. Doei o que não servia mais. — Respondi com calma, indo até a penteadeira.
O olhar dele percorria o quarto, buscando mais sinais.
Mas eu havia sido meticulosa: deixei apenas o essencial.
— Caterina. — Ele se aproximou e abriu os braços.
Não me afastei.
O abraço era quente, o peito largo, o cheiro de Alfa familiar e seguro. Mas eu não sentia nada. Nenhum arrepio, nenhum consolo.
— Eu amo você. — Sussurrou em meu ouvido. — Você é a minha única Luna.
Palavras que um dia eu teria implorado para ouvir.
Rocco me apertava, tentando sentir algo pelo vínculo de companheiros.
Mas o que encontrou foi rigidez e frieza. Nenhum eco de amor, apenas uma distância intransponível.
Sua testa franziu. A dor surda que nascera em seu peito desde que assinara aquele documento voltou a latejar.
De repente, minhas barreiras mentais foram violentamente invadidas.
Imagens e memórias inundaram minha mente.
Ligações privadas entre Rocco e Scarlett, acumuladas ao longo de seis anos. Um tapete sufocante de mentiras.
[Rocco: Caterina fez seus scones de mirtilo favoritos hoje. Penso em você cada vez que como.]
[Scarlett: Sério? Sinto falta dos cafés da manhã que você preparava para mim.]
[Rocco: A forma de loba de Caterina realmente se parece com a sua, principalmente os olhos. Às vezes fecho os olhos e finjo que é você que estou segurando.]
Quadro após quadro, o veneno se infiltrava.
Rocco, imaginando o rosto de Scarlett enquanto me tocava.
Rocco, mentalmente entrelaçado com ela enquanto me abraçava.
Rocco, conectando-se a ela até mesmo durante a nossa cerimônia de vínculo.
Seis anos sendo apenas uma substituta.
As lágrimas marejaram, mas eu as contive.
Ergui novamente minhas barreiras com força.
Basta.
Essa dor acabava agora.
— Caterina? — Rocco notou meu estado. — O que foi?
— Nada. — Afastei-me de seus braços. — Só estou cansada.
— Descanse, então. — Disse com suavidade. — Amanhã te levo ao cinema, como fazíamos antes.
Assenti mecanicamente, indo até a janela.
Atrás de mim, ele ainda falava, planejando.
— Depois, podemos ir à praia. Já reservei a suíte presidencial naquele hotel à beira-mar. Lembra? O da nossa primeira viagem…
Eu estava quase adormecendo quando a porta do quarto foi escancarada com violência.
Rocco estava parado no batente da porta, o rosto que momentos antes fora gentil agora sombrio e aterrador.
Na mão, ele segurava um papel amassado, retirado do lixo.
Era o rascunho da minha petição aos Anciãos, cheio de anotações sobre o processo e as justificativas para remover a marca do vínculo de companheiros.
— Caterina. — A voz dele saiu num rosnado baixo e perigoso. — Explique isso. Por que você está pedindo aos Anciãos para remover a nossa marca?