— É tradição da alcateia. — Menti com suavidade. — A marca é purificada antes de um aniversário para fortalecê-la.
Faltavam três dias para minha partida.
Mentir para Rocco estava se tornando assustadoramente natural.
Ele me encarou, os instintos de Alfa gritando que algo estava errado.
— Olhe nos meus olhos, Caterina. — Disse ele, aproximando-se da cama. — Você está mentindo.
Encarei-o sem vacilar.
— Rocco, não tenho motivo para mentir.
Ele colocou o papel sobre o criado-mudo e sentou-se lentamente na beira da cama.
Não insistiu no assunto.
— Venha cá. — Disse, suavizando a voz enquanto abria os braços. — Quero te abraçar.
Obedeci, permitindo que me puxasse para dentro de seus braços.
Ele me envolveu com força, o queixo repousando no topo da minha cabeça.
— Caterina, eu te amo. — Murmurou na escuridão, a voz incrivelmente suave. — Você é a minha única Luna, a coisa mais preciosa da minha vida. Não importa o que aconteça, eu nunca vou deixar você partir.
— Quero que se lembre disso.
Ele sussurrava as palavras certas, e seu peito ainda guardava o calor familiar que eu conhecia tão bem.
Mas meu corpo estava rígido, e meu coração era uma pedra.
Rocco não sentia o calor que esperava do nosso vínculo.
Antes, sempre que ele me abraçava assim, eu me derretia, com pequenos gestos e suspiros que mostravam o quanto o amava.
Agora, não havia nada.
Apenas distância e resistência.
E quanto mais ele se aproximava, mais forte era o impacto da rejeição. Eu sabia que ele estava sofrendo.
Tanto física quanto mentalmente.
— Caterina? — Ele se afastou, procurando meu rosto com olhos aflitos. — O que há com você? Por que parece tão distante?
— Não estou. — Respondi friamente. — Estou bem aqui, meu amor.
Nesse momento, uma chamada frenética irrompeu pelo elo mental.
— Alfa! Emergência! — Era a voz apavorada de Beta Marcus.
Rocco franziu o cenho e aceitou a chamada.
— Scarlett foi atacada por renegados durante a caçada! Ela está gravemente ferida! — Marcus quase gritava. — Perdeu muito sangue e está inconsciente. Os médicos dizem que é crítico!
A cor desapareceu do rosto de Rocco.
O pânico cru e a angústia de alguém temendo pela vida de quem ama estavam estampados em suas feições.
Dez vezes mais intensos do que quando eu mesma havia me ferido.
— O quê? Como ela encontrou renegados? — Exigiu, levantando-se da cama num pulo. — Onde estavam os outros? Os guardas?
— Os Renegados estavam atrás dela. Parece ter sido um ataque planejado. Todos os guardas ficaram gravemente feridos. Ela é a única que…
— Já estou indo!
Rocco já vestia as roupas às pressas, os movimentos frenéticos.
— Caterina, Scar está em perigo. Preciso ir vê-la. — Disse, ajustando o cinto, a voz carregada de urgência.
— Vá. — Respondi com calma.
Ele hesitou, claramente abalado com a minha reação serena.
Antes, só de ouvir sobre eles sozinhos, eu teria mergulhado num turbilhão de ansiedade.
— Voltarei em breve. — Disse, parando na porta. — Espere por mim.
— Está bem.
Depois que a porta se fechou, ouvi-o correndo pela sala.
Poucos minutos depois, o som do motor rugiu e desapareceu na distância.
Levantei-me da cama e caminhei até a janela.
Ao ver as lanternas traseiras sumirem na noite, senti uma estranha sensação de paz.
Sem raiva, sem ciúme. Nada.
Apenas o alívio silencioso de estar finalmente livre.
Nos dois dias seguintes, fiz meus preparativos finais.
Telefonei para o advogado para confirmar a divisão dos bens.
Enviei uma mensagem à minha mãe, dizendo que logo estaria em casa.
Empacotei os portfólios de design da estante, um por um.
As últimas roupas do armário foram dobradas e colocadas na mala.
Seis anos da minha vida, completamente apagados.
No terceiro dia — nosso aniversário de vínculo e o dia que eu havia escolhido para partir — acordei às cinco da manhã com uma dor lancinante.
Meu peito parecia estar sendo rasgado. Cada respiração era um novo corte de faca.
Era isso. A agonia final da quebra do vínculo.
A bruxa Sage havia me alertado que a rejeição forçada traria um período de dor insuportável.
Era a última chance oferecida pela Deusa da Lua: se os companheiros se reconciliassem, o vínculo poderia ser salvo.
Cerrei os dentes, suportando enquanto o suor frio encharcava minha camisola.
A dor aumentava até minha visão começar a se turvar.
Eu estava perdendo a batalha.
Com as mãos trêmulas, consegui forçar uma conexão mental até Rocco.
— Rocco… dói… pode, por favor, voltar?
A mensagem ecoou no vazio.
Silêncio. Nenhuma resposta.
Outra onda de agonia me atingiu, e finalmente desabei no chão.