07. Alvo sob os olhares.

Damon Thorn

"Reforçou a segurança da propriedade?", ajeitei o terno, encarando meu beta.

"Sim, meu Alfa."

A sala de jantar principal da propriedade estava pronta para o jantar daquela noite. Velas acesas, taças alinhadas, cristais importados e uma mesa longa, preparada para acomodar os principais alfas da região. Convidados que, apesar de aliados, nunca deixavam de ser potenciais ameaças caso eu demonstrasse fraqueza.

Geralmente, eu suportava esse tipo de reunião. Alianças eram sempre bem-vindas — e minha alcateia era visada.

A cozinheira estava na cozinha, mas eu já conseguia sentir seu cheiro. Estava no ar antes mesmo do jantar ser servido. Eu não precisava vê-la para saber que ela estava ali. Meus sentidos nunca me enganavam.

Eu esperava que ela fizesse a comida como eu havia ordenado.

Os convidados começaram a chegar. Victor, meu beta, estava ao meu lado, como sempre.

"Tudo pronto, Alfa."

Discutimos alguns detalhes. A mesma chatice de sempre: territórios, ameaças, filhos, lobas desobedientes…

A humana surgiu carregando a travessa principal com uma segurança quase irritante. Os cabelos presos num coque baixo, o uniforme perfeitamente alinhado. Elegante. Controlada.

Parei de respirar por um segundo. A aura dela era quente demais. Distraía. Confundia.

Ela colocou o prato principal no centro da mesa com destreza, depois se voltou para os convidados, sem nem ao menos me dirigir um olhar.

"Boa noite, senhores. O prato principal é cordeiro ao molho de vinho com purê de batata trufado e legumes glaceados na manteiga de ervas. Tudo fresco e feito hoje", explicou com a voz firme.

Um silêncio breve se espalhou entre os alfas, seguido por murmúrios de aprovação.

"Cheiro bom, senhorita..." disse Nathaniel, um dos alfas, se inclinando para observá-la com mais atenção.

"Hart", ela sorriu.

"Mas o prato não é a única coisa interessante por aqui."

Ele riu.

Meu sangue ferveu.

"Você sempre esconde essas joias aqui, Thorn?", acrescentou outro, cruzando os braços com um sorriso enviesado.

A mandíbula travou.

Caroline sorriu com educação, mas eu conhecia bem aquele olhar — estava desconfortável. Ela recuou, prestes a sair, mas Nathaniel esticou o braço e segurou o pulso dela com leveza.

"Já pensou em cozinhar em outro território, minha querida?"

A cadeira arrastou bruscamente no chão quando me levantei.

"Ela trabalha aqui, para mim, e só aqui." Minha voz saiu fria, firme, ecoando como uma ordem. "E se alguém mais tocar na minha cozinheira, eu vou arrancar a mão."

O silêncio caiu sobre a mesa.

Todos os alfas voltaram aos seus lugares, evitando me encarar.

"Pode se retirar, senhorita Hart", ordenei.

Caroline hesitou por um segundo, depois se virou e saiu da sala.

Victor me lançou um olhar de canto.

"Está perdendo a cabeça por ela, meu Alfa?", murmurou em tom baixo, só para mim.

"Não diga tolices. Ela é só uma funcionária", respondi entre dentes. "Que precisa aprender a não provocar a matilha."

Mas, no fundo, eu sabia. O que me incomodava não era ela cozinhar para todos eles.

E então aconteceu novamente.

Um dos alfas mais antigos, Harold, riu alto e bateu a taça sobre a mesa.

"Preciso dizer, Thorn, que comida deliciosa. Você deve nos convidar mais vezes para essas reuniões. Nunca comi algo tão bom."

Alguns risos se espalharam pela mesa, mas meu maxilar travou.

"Você fala da comida ou da humana?", outro alfa provocou.

"Ambos, claro", Harold sorriu. "Se ela fosse minha, não a deixaria sozinha na cozinha."

Victor me lançou um olhar atento, percebendo meu incômodo. Mas ninguém ousou dizer nada. Eu apenas servi mais vinho, como se não estivesse prestes a atravessar a mesa e arrancar a garganta de Harold.

O sangue rugia nos meus ouvidos.

Eu estava prestes a perder o controle.

Me levantei da mesa sem dar explicações.

"Com licença", murmurei, me afastando sem olhar para trás.

Atravessar o salão foi como atravessar uma maldita fogueira. Meu corpo inteiro ardia. Que merda estava acontecendo comigo? Eu não era assim. Não por nenhuma mulher. Nunca.

Empurrei a porta dupla de vidro do terraço e respirei o ar gelado da noite quebrando o primeiro vaso que vi pela frente.

A floresta ao longe estava silenciosa, como se aguardasse o meu próximo movimento. Meus olhos focaram o nada, os músculos do maxilar travados. Eu não conseguia entender... por que me importava tanto?

"Senhor Thorn..."

A voz dela veio suave atrás de mim. Frágil. E irritantemente doce.

Fechei os olhos. Maldição.

"É... já posso servir a sobremesa?"

Respirei fundo antes de virar.

"Você não sabe a hora de ficar longe, não é?", minha voz saiu mais baixa, mais rouca.

Ela piscou, confusa.

"Eu só perguntei..."

Antes que pudesse terminar a frase, a puxei com força e a pressionei contra a parede de pedra do terraço.

Ela soltou um suspiro baixo, os olhos arregalados.

Meu corpo se aproximou do dela como se fosse atraído por um ímã. Inclinei o rosto, inspirando profundamente. O cheiro dela me atingiu — doce, quente, envolvente. E irritante. Porque não deveria me afetar assim.

"Você sabe o que está fazendo comigo, Caroline?", murmurei, a voz rouca colada à sua orelha. "Você entra na minha casa, mexe com meus sentidos, provoca meus aliados… e ainda age como se fosse inocente."

"Eu não estou fazendo nada..." ela sussurrou, o coração disparado contra meu peito. "Eu não os provoquei."

"É isso que me deixa mais louco." Meus dedos apertaram a cintura dela. "Essa sua cara de boa menina enquanto o seu cheiro grita outra coisa."

Ela tentou empurrar meu peito, mas suas mãos tremiam.

"Você está maluco. Aquela noite entre nós foi uma terrível coincidência. Agora me solte."

"Terrível?", ri. "Me diga que não sente nada… que não pensou em mim desde aquela noite." Minha boca roçou a pele do pescoço dela, sem tocá-la. "Me diga, e eu solto você agora."

Silêncio.

A respiração dela estava irregular, o cheiro do desejo misturado ao medo — uma combinação perigosa.

"Eu..."

Eu a encarei. Seus olhos estavam molhados, não de lágrimas, mas de raiva contida. E algo mais.

"Você me odeia por te afetar, não é?", sorri de lado. "Mas adivinha, Hart… isso é recíproco."

Soltei seu corpo devagar, mas me mantive próximo.

"Volte para dentro. Sirva a sobremesa. E, da próxima vez que um dos meus convidados ousar encostar em você, eu mesmo o arrancarei."

Ela me lançou um último olhar, e depois saiu sem dizer nada.

Fiquei ali por mais alguns minutos, com o coração batendo mais forte do que eu gostaria de admitir.

Ela era uma distração.

Mas também estava se tornando um problema que eu não queria resolver.

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