Minhas mãos suavam frio. A proximidade entre nós estava me deixando tonta.
Saí daquele terraço com raiva.
O ar gelado do corredor não aliviava o calor que ele deixava no meu corpo.
Me recostei contra a parede de pedra, tentando controlar a respiração. Ele tinha me encurralado, quase como se estivesse marcando território. Mas por quê? Ele nem gostava de mim. Ou gostava?
A vibração do celular me despertou. Para minha surpresa, havia sinal ali.
Era Magie.
Atendi no segundo toque, a voz dela veio carregada de tensão.
"Como estão as coisas, Carol? Os advogados estão recorrendo sobre a revogação do contrato, mas o Zion não vai facilitar."
Mordi o lábio inferior, sentindo uma pontada de angústia no peito.
"Claro que não facilitaria. Mas as coisas estão indo..."
"E o trabalho?"
"O novo chefe... é uma pessoa complicada." sussurrei, olhando para o chão.
"Como assim?"
"Nós dormimos juntos." murmurei, baixinho.
"O QUÊ?" ela praticamente gritou do outro lado da linha.
"Ainda não nos conhecíamos, foi por acaso, enfim." passei as mãos nos cabelos. "Eu preciso desligar, tenho que voltar."
"Carol, espera—"
Mas eu já tinha encerrado a chamada.
Fechei os olhos por um instante. Que droga de vida era essa que eu estava levando?
Guardei o celular e respirei fundo, ajeitando o uniforme. A sobremesa ainda precisava ser servida.
Voltei para a sala de jantar com uma bandeja de taças nas mãos, me obrigando a manter a postura. Senti todos os olhares voltados para mim no instante em que entrei — mas um, em especial, queimava.
Damon.
Estava de volta à cabeceira, com o rosto sério, mas os olhos? Me acompanhavam com uma intensidade que eu não conseguia explicar. Era como se me analisasse, como se estivesse pronto para reagir ao menor movimento.
Fui até a mesa e anunciei a sobremesa com a voz firme.
“Senhores, o encerramento da noite será um crème brûlée de baunilha com crosta de açúcar mascavo e framboesas frescas.”
Alguns murmúrios de aprovação surgiram entre os convidados, mas eu não conseguia prestar atenção neles. Só nele.
Coloquei a primeira taça diante de um dos alfas que havia me elogiado mais cedo. Ele sorriu abertamente para mim.
“Você cozinha como um anjo, senhorita Hart. Eu adoraria ter você na minha alcateia.”
Revirei os olhos mentalmente, mantendo um sorriso educado.
Mas quando me virei discretamente para olhar Damon, ele já estava com o punho fechado contra a mesa, os olhos semicerrados, como se lutasse contra algo dentro dele.
Foi então que percebi.
O surto dele no terraço não tinha sido apenas sobre os convidados... Foi sobre mim.
Ciúmes?
Mas por quê?
Ele nem sequer demonstrava um resquício de sentimento. Era rude, frio, mandão. E, ainda assim, estava furioso por eu ser o centro das atenções naquela mesa.
Enquanto colocava as últimas taças sobre a mesa, senti o olhar dele me atravessar como lâmina.
Que tipo de jogo ele estava jogando?
E por que, mesmo sabendo que tudo aquilo era uma loucura... uma parte de mim ainda queria continuar jogando também?