Capítulo 5
Narrativa de RB Acordei com um gosto amargo na boca e a cabeça pesada, como se tivesse bebido uma garrafa de cachaça barata. A luz do sol invadia o quarto sem pedir licença, iluminando o caos da madrugada passada. Meu corpo doía. Eu estava assado, sensível, como se tivesse sido espremido até a última gota. Olhei pro lado. Mirtes dormia nua, esparramada, com as pernas abertas e o lençol jogado de qualquer jeito no canto. O corpo dela todo marcado — o braço roxo de tanto eu apertar, as coxas vermelhas, o pescoço arranhado como se um gato tivesse pulado nela. Me sentei devagar, sentindo o peso da noite anterior bater de frente com a lucidez da manhã. Encostei as costas na cabeceira, passei a mão no rosto e respirei fundo. Aquilo não era normal. Eu era um homem de tesão, sim, gostava de sexo forte, pegado, mas o que rolou ali... foi bizarro. Selvagem demais, doentio. Tava com a rola ardendo, inchada, e o cheiro do quarto era um misto de suor, sexo e perfume barato. Olhei pra Mirtes de novo. Ela tinha um sorriso idiota no rosto, como quem venceu uma guerra. — Desgraçada... — murmurei. Levantei nu, andando até a cômoda. Peguei a bermuda jeans jogada no chão e vesti sem cueca mesmo. O meu membro latejou. Odiava essa sensação — parecia que tinham esfregado uma lixa nele. Voltei até a cama, olhei pra ela uma última vez. — Mirtes! — gritei. Ela deu um pulo, assustada. Tentou fazer charme, ajeitando o cabelo, ainda com aquele sorrisinho de quem achou que ia ganhar alguma coisa. — Que foi, amor? — Amor é o caramba. Levanta e sai do meu quarto agora. — O que aconteceu? — Você ainda pergunta? Você transa comigo há quatro anos e sabe que não gosto de acordar com vadia no meu quarto. Sai, vai pra cozinha fazer café que daqui a pouco vou sair com minha sobrinha. Quando Mirtes foi em direção à porta, percebi que ela estava entreaberta. — Essa porcaria dessa porta estava assim aberta? — Tava sim. Na hora que entramos você tava tarado e nem fechou. Tá preocupado com quem? Com sua sobrinha? Eu acho que ela viu e ouviu tudo, com certeza. E também, ela não é nenhuma criança pra não saber o que a gente fez essa noite. Vagabunda. Ela fez de propósito. — Sai logo! — gritei, e bati a porta com força. Fiquei com ódio de ter acordado com Mirtes na minha cama. Ainda tava abismado com o sexo que rolou. Eu tava com um tesão absurdo, quanto mais eu metia, mais eu queria. Tô acostumado a transar com ela, sei que toda vez fico tarado nela, é um sexo quente... mas não brutal. Fui tomar banho frio pra esfriar a cabeça e fiquei marolando no banheiro. Foi aí que caiu a ficha: eu tinha sido drogado. A filha da puta me dopou. Assim que saí do banheiro, o telefone começou a tocar. Olhei na tela: número desconhecido. Mesmo assim, atendi. Ligação on: — Alô, quem fala? — O advogado da senhorita Lavinia Romano. — É o senhor Denner? — Sim, o que deseja? — Na semana que vem estarei aí para ler o testamento do senhor Miguel Romano. Estou avisando porque não tenho escritório aí no Rio, então a leitura será em sua casa, já que é o tutor legal da senhorita. O senhor Miguel deixou uma carta registrada em cartório para ser aberta no dia da leitura do testamento, ok? Na semana que vem estarei aí. Um bom dia. Ligação off. Fiquei ali parado digerindo tudo. Me sequei e olhei pro meu corpo, todo marcado. Nunca deixei ninguém me marcar assim. Sei que transamos sem camisinha. Vou mandar uma mensagem pra ela comprar a pílula do dia seguinte. Depois converso com a Lavinia, depois com aquela safada. Bati na porta do quarto dela umas duas vezes. Ouvi passos se aproximando e logo a porta se abriu. Vi a visão do paraíso. Lavinia... Vestida com um pijama transparente e curto, as pernas à mostra e aqueles seios durinhos, com o biquinho rígido — talvez por causa do ar-condicionado. Fiquei galudão na hora. Pedi pra entrar e fui entrando, sentando logo pra ela não ver o volume na minha bermuda. Ela me olhava séria o tempo todo. Sabia que ela tinha visto o que aconteceu entre mim e a vadia da Mirtes. Expliquei pra ela sobre a leitura do testamento, que seria aqui em casa mesmo, e me desculpei pelo ocorrido na noite passada. Ela insinuou que eu e Mirtes tínhamos um relacionamento, o que não é verdade. Tentei explicar o que eu e Mirtes tínhamos, mas ela me cortou. Avisei que íamos sair. Deixei ela ali e fui pro meu quarto. Quando ela mandou eu colocar uma blusa porque aquelas marcas estavam feias, senti que ela estava incomodada com aquilo. Desci pra tomar café. Ela desceu também. Quando Mirtes nos viu no corredor, fez uma cara feia. Nem liguei. Tomamos café. Lavinia não encarava Mirtes, e ela olhava pra Lavinia com a cara fechada. — Vou com vocês — falou Mirtes. — Aproveito e faço as compras. — Não. Eu e Lavinia vamos sozinhos — cortei logo. — E a partir de hoje, é Lavinia quem vai fazer as compras da casa. Terminamos o café. Chamei Mirtes no escritório. Ela achou que era pra transar, porque sempre fazíamos isso ali. E era gostoso. Mas agora era outro B.O. Fui direto: — sua safada... você me drogou? Anda, responde! A história dela não me convenceu. Sei que ela não sente amor por mim. Ela fez aquilo pra marcar território. Já fui avisando: nunca teria condições de ser minha fiel. No máximo, amante fixa. Pensei. Mirtes saiu chorando do escritório. Lágrimas de crocodilo. Aquela víbora me drogou. Mandei tomar a pílula. Se não tomar, problema dela. Levei Lavinia no mirante. Ela ficou muito feliz. Depois fomos às compras. E ali, vi que podemos ser grandes amigos. Mesmo estando lutando contra um amor proibido.