O peso da lembrança
Emilio ficou em silêncio, os olhos marejados, como se as palavras do filho tivessem aberto uma porta trancada há mais de vinte anos. Caminhou até a poltrona perto da janela e sentou-se lentamente.— Você não entende, Vittorio… — começou, a voz grave e embargada. — Dois anos depois que sua mãe faleceu, eu… eu acabei me apaixonando pela Giulia.Vittorio o encarou em choque.— Apaixonado?— Sim. — Emilio passou a mão pelos cabelos grisalhos, como se confessar aquilo fosse ao mesmo tempo doloroso e libertador. — Ela era uma força da natureza dentro de casa. Não era apenas uma funcionária. Ela se dava bem com você, conseguia acalmá-lo quando chorava de saudade da sua mãe. Transformava os dias mais sombrios em algo suportável. E eu, que vivia de luto, encontrei nela um sopro de vida.Os olhos do pai se perderam em algum ponto da memória.— Eu estava disposto a assumi-la, Vittorio. Eu… eu já trazia comigo um