JESS DOIS ANOS ANTES
— Então, Jessica, como passou esses últimos quinze dias?
— Nenhuma novidade Dra. Elisabeth.
— E os pesadelos?
— Continuam, infelizmente.
— Podemos trocar a medicação para dormir por um relaxante mais potente.
— Acho que não é questão de medicação, estou com alguns sentimentos estranhos.
— Por favor, fale sobre eles.
— Uma inquietude, uma vontade de partir, encontrar um novo emprego, um lugar desconhecido e estabelecer uma nova rotina.
— Conversou com alguém sobre isso?
— Não, só com você.
— Ok. E a meta da última consulta, em conhecer alguém, fazer um amigo?
— Fracassei, não consegui sair, me arrumei, mas antes de sair mirei-me uma última vez no espelho e desisti.
— Entendi. Uma pergunta, como veste-se em casa?
— Confortável.
— E sob a roupa confortável?
— Depende, quando é muito calor não uso nada.
— O que eu quero saber é como são suas lingeries, Jessica?
— Isso importa, Dra.?
— Importa para o que eu quero descobrir.
— Certo. Minhas lingeries são normais.
— São bonitas? Pequenas, renda, laços, detalhes são importantes para o objetivo da pergunta.
— Sim, gosto de comparar lingeries bonitas, a maioria são sexies, me sinto bem, sabendo que só eu me vejo com elas, eu gosto, das mais variadas.
— Gosta do seu corpo nelas?
— Pensando agora, gosto sim.
— Ótimo. Quero que você tente uma coisa nova, vou viajar daqui alguns dias e ficarei fora uns meses, vou te passar um cartão senha de um clube que eu frequento.
— Como assim viajar? E minhas sessões? — Meu Deus! Sem terapia eu vou enlouquecer.
— Tenho uma especialização fora do estado, calma que vou te passar um profissional da minha confiança para atender você.
— Não vou me abrir com outra pessoa, fora de cogitação.
— Então você fará isso que vou te orientar, pelo menos até eu retornar.
— Acha que pode ajudar?
— Não proporia se não houvesse essa finalidade. Já ouviu falar em BDSM?
— Pouco, li alguns livros e filmes que abordam esse tema.
— Esqueça essa bobagem de 50 Tons de cinza — Um leve brilho passa pelo olhar dela provocando um arrepio em minha espinha.
— O clube foi repaginado, e por esse motivo será ideal para você, está mais leve e com práticas digamos assim mais artísticas, não é do meu agrado, no entanto. Se depois quiser se aprofundar na prática BDSM, terei prazer em ajudar. Mas a princípio tenho a impressão de que vai ajudar ir até lá e descobrir o que você gosta.
— E como ir a um clube de perversão pode me ajudar com meus complexos?
— Talvez você se identifique com algo, poderá ser uma pessoa diferente lá. Descobrir coisas novas, abrir a mente. Vou passar alguns detalhes por e-mail, mas acredito que se sairá bem.
A consulta termina e retorno para minha casa com mais dúvidas do que quando saí dela. Entretanto Dra. Elisabeth é a pessoa que mais confio, e confesso que estou curiosa sobre isso.