2 Lançada para a morte;

Capítulo.2

Olhei ao redor procurando Lana. Pensei que talvez… só talvez… pudéssemos trocar de lugar. Mas ela mal me dirigia a palavra desde o dia que ela tentou me matar.

Os corredores estavam silenciosos, como se a casa inteira respirasse por conta própria.

Passei pelos retratos antigos, pelas flores já murchas no vaso de cristal, e me perguntei quando aquele lugar deixara de ser lar. O som de risadas me fez parar.

Vinha da sala de música.

Aproximei-me com cuidado. A porta estava entreaberta, e por aquele pequeno vão vi Lana, sentada no banco perto da janela, o corpo curvado num jeito elegante e calculado.

Dois rapazes estavam com ela, amigos de infância, rostos que eu conhecia o suficiente para saber o que vinha depois de cada riso, maldade disfarçada de brincadeira.

— Mal posso acreditar — um deles disse, rindo alto. — A inútil da sua irmã vai se casar com o Alfa.

— É quase poético — o outro completou. — Uma alma morta ganhando um trono que nem sabe usar.

Lana não respondeu.

Apenas cruzou os braços e olhou para o vazio à frente, com um meio sorriso, o tipo de sorriso que esconde desprezo demais para caber numa expressão leve.

Ela parecia entediada, ou talvez apenas satisfeita em deixar que os outros dissessem o que ela mesma pensava.

— E então, Lana? — um deles insistiu. — Você não se sente mal? Sua irmã morta-viva vai se casar com o Alfa, pensei que gostaria de estar no lugar sendo a rainha.

Ela levantou o olhar, e por um instante, juro que o ar na sala pareceu mudar de temperatura.

A voz dela saiu calma, quase doce, mas cortante como vidro.

— Maya não vai viver nem um dia desse casamento, por isso não é algo que eu devesse invejar.

Os dois riram, como se ela tivesse contado a melhor piada da noite.

— Cruel como sempre — disse um deles. — Você não tem pena dela?

Lana apenas deu de ombros, um gesto lento, quase elegante.

— Pena é desperdício.

Fiquei ali parada, encostada à parede, sentindo o peito apertar, não de dor, mas de uma estranha lucidez.

Ela estava certa.

Talvez eu realmente não vivesse nem um dia daquele casamento, então seria apenas um martírio e morte.

E, se o Alfa era tudo o que diziam, talvez fosse melhor assim.

Não queria mudar meu destino encaixando ela, talvez ela acabe sofrendo por minha causa se eu fizesse isso, Não queria ser um nome falado nas costas, nem uma sombra de algo que nunca seria meu, mas não posso fazer nada a não ser aceitar e finalmente ver aquele alfa.

Dei um passo para trás, o suficiente para a madeira do piso ranger. Ninguém percebeu.

Afastei-me em silêncio, o coração batendo calmo, como se tivesse desistido até de sentir.

Quando alcancei meu quarto, esqueci o motivo que me levara a sair.

Fechei a porta, encostei a testa na madeira e respirei fundo.

Depois apenas deixei para lá.

Algumas coisas, descobri cedo demais, são mais fáceis de esquecer do que de entender. Comecei a me arrumar para seguir para a mansão Kan com meus pais.

Vesti um traje simples, de tecido leve e sapatilhas brancas. Coloquei uma flor dourada presa ao cabelo apenas para parecer mais agradável.

Disseram que o vestido do casamento fora feito por um homem importante, provavelmente sob as medidas que meus pais forneceram.

Não importava quão luxuoso fosse, o medo me consumia.

Toda a família seguiu para a imponente mansão Kan. Uma comitiva de líderes aguardava ansiosa pelo enlace.

Ao chegarmos, a grandiosidade da propriedade se revelava em um silêncio quase sepulcral.

Apenas empregados e seguranças se moviam pelo local, contrastando com a vastidão vazia da mansão.

A grandiosa estrutura era um verdadeiro labirinto de opulência, adornada

Mas eu não me importo com todo esse luxo, a cada segundo que esse momento se aproxima, mais eu penso no único homem que eu podia tocar sem doer.

O vestido chegou pela manhã, dentro de uma caixa enorme, branca como neve, envolta por fitas prateadas e o selo dourado dos kans, o império do alfa mais temido entre todas as alcateias.

Dizem que ele é cruel, que sua voz pode silenciar um salão inteiro, que o próprio chão se curva sob seus passos. Dizem muitas coisas. Mas eu… eu só sei que, no dia em que ele me tocar, eu vou morrer, e pode ser hoje ou amanha.

Abrir a caixa só por casualidade, O vestido brilha como se tivesse engolido o céu noturno, o tule cravejado de pequenas pedras que refletem a luz como estrelas.

Quando abro a tampa, um perfume doce me invade, misturado ao cheiro de medo que vive dentro de mim há anos. O medo do toque. O medo da dor.

Porque ninguém pode me tocar desde meu nascimento, Nem mesmo o vento parece me alcançar sem me queimar por dentro.

Meu corpo rejeita o contato, minha pele reage com dor a qualquer toque, como se o mundo me lembrasse de que não pertenço a ele. Exceto por ele.

Desde meu nascimento, eu nasci amaldiçoada, com uma adaga magica escondida em meu peito, cravada em meu coração, e nenhuma magia foi possível remover isso, nem minha mãe entende o motivo de eu ter nascido assim e por isso me escondeu para me proteger, ou porque desde meu nascimento, eu só vim abrir os olhos quando eu já estava com quase catorze anos, a adaga reagia a qualquer toque e por isso nem mesmo meus pais podiam me abraçar, mas graças a tentativa de Lana de se livrar de mim, eu tive um martírio e uma benção que me marcou para sempre.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App