Mundo ficciónIniciar sesiónFoi dias antes de anunciarem meu casamento com o alfa, a quase três anos atrás, quando fui empurrada, naquele lago. Era inverno, e a água parecia agulhas.
Lembro da mão dela, da minha irmã gêmea, empurrando-me para trás com um olhar que eu nunca soube decifrar. Raiva? Ciúme? Medo? Nunca soube, mas também... não sinto magoa, aquilo me deu uma esperança.
A água me engoliu inteira. O mundo ficou silencioso e pesado, e eu pensei que morreria ali, nas profundezas.
Mas antes que a escuridão me levasse, eu o vi. Ele mergulhou sem hesitar. Os olhos dele me encontraram no meio do nada, olhos que pareciam brilhar mesmo sob a água. E quando ele me tocou, não houve dor. Nenhum grito. Nenhuma queimadura. Apenas calor. E paz.
Eu senti o vínculo naquele instante, como se algo dentro de mim tivesse despertado. Mas então tudo se apagou. Quando acordei, o lago estava vazio. Somente os feiticeiros que auxiliam minha família estavam ali.
E foi naquele dia também que eu senti pela primeira vez a minha loba, e foi a única vez, e continuei sendo uma fêmea sem força, sem poder, sem voz. A inútil da família, isolada e mantida em segredo, sonhando com um homem que nem mesmo lembro o rosto, a não ser suas luzes verdes vibrando em seu corpo, familiar e quente.
Eu estava cansada de esperar os maquiadores, meus pais tinham sumido e Lana tinha entrado disfarçada para ninguém perceber a nossa similaridade.
Caminhei pelos corredores para passar o tempo. Meus passos ecoavam no mármore polido, e a luz dourada do sol poente criava reflexos nas paredes, aquele lugar parecia tão vazio quanto minha casa.
Foi quando notei uma porta monumental entreaberta, talhada em madeira maciça com relevos em espiral. A curiosidade me venceu.
Aproximei-me e, através da fenda, vislumbrei um escritório luxuoso onde três homens conversavam e riam.
Eram trigêmeos, idênticos como gotas d’água, cada um com uma beleza estonteante.
O mais próximo da porta, de cabelos negros e olhos castanhos, segurava uma taça de vinho tinto com ar despreocupado. Ao seu lado, os outros dois exibiam a mesma presença, três vezes o mesmo pecado, astutos e sorridentes.
— Tudo certo — disse um deles, com um sorriso irônico. — Quando ele vier nos encontrar, daremos isso a ele e mancharemos sua imagem. Ele tem mantido uma postura incorruptível, mas ninguém é intocável por muito tempo. Basta uma gota disso.
Ele ergueu um pequeno frasco com líquido lilás que brilhava sob a luz.
— Seria bom que ele morresse de uma vez! — exclamou outro, com brutalidade.
— Não esqueçamos que ele tem origem divina — ponderou o terceiro, em voz calma. — Lobos da linhagem dele não morrem fácil. As chances de sobreviver são grandes, por isso é melhor tramar e sujar sua imagem. Assim, poderemos acabar com esse medo que ele causa nas pessoas.
Afastei-me silenciosamente, o coração disparado. Conspirações entre grandes famílias eram comuns, e eu não podia me envolver, não quero saber de quem eles falam, quem poderia ter uma origem divina? Ele vão acabar se encrencando por conta própria.
Meu destino já estava traçado. E, em breve, eu seria apresentada ao Alfa Samuel Kan e era somente nisso que eu deveria focar..
Volto para o meu quarto com o coração latejando forte,
E agora As paredes daquele cômodo agora me cercam, o brilho das pedras e o perfume das flores tentando esconder o medo que lateja em mim.
Sento-me à beira da cama e passo os dedos sobre o convite dourado do casamento que estava junto a caixa, Meu nome, ao lado do dele, parece uma sentença. As letras unem dois destinos que nunca se tocaram.
Mas meu desejo... esta apenas em encontrar a única pessoa que acabou marcando a minha vida.
— Me pergunto se ele esta vivo e se lembra de mim...
Logo entrou um batalhão, maquiadoras, cabeleireiras e costureiras, todas em ritmo de urgência, ajustando um vestido.
Era deslumbrante, digno de um casamento luxuoso... e de um pesadelo também.
Duas horas depois, eu estava pronta. Linda, impecável, e completamente desesperada.
Do lado de fora, uma multidão se aglomerava. Eu os observava pela janela, tentando ignorar o nó no estômago.Diziam que Samuel Kan ainda não havia chegado.
O casamento começaria em minutos, e ele simplesmente não apareceu. Cada segundo que passava era uma tortura.— Ele não cumpriu o acordo! Eu quero ir embora! — explodi quando meus pais entraram no quarto. — Não vou ser uma noiva abandonada no altar!
Minha mãe tentou me acalmar com a voz trêmula, mas o olhar trocado entre ela e meu pai dizia tudo.
será que ele tinha desistido?E eu, finalmente, tinha uma brecha para fugir.
— Eu não quero mais me casar! — gritei, mas ninguém parecia ouvir.
Meus pais estavam cegos pela ganância.Tentei correr, mas o braço forte do meu pai me segurou e isso causou um momento de dor que rapidamente o fez me solta, eu tinha que estar acordada para o casamento.
O vestido pesado me prendeu, e ele me arrastou de volta, me empurrando sobre a cama.— Você não vai a lugar nenhum! — rugiu. — Mesmo que ele venha amanhã, você vai esperar!
— Eu não sou um brinquedo! — chorei, sentindo o gosto salgado das lágrimas. — Diga a ele que eu não vou me casar! Eu não quero ser forçada a me casar com alguém que vai me matar. — disse em pânico, eu estava desesperada, a calma e o sentimento conformado que eu mantinha, morreu.
O tapa veio rápido, seco, cortando o ar, e tudo dentro de mim.
— apenas se comporte e não estrague tudo! — ele asseverou antes de sair.
Naquele instante, entendi. Eu não era filha, nem pessoa. Era uma transação.Quando eles saíram, fingi rendição.
Mas assim que a porta se fechou, corri para a janela.O jardim lá embaixo estava silencioso. A noite era perfeita, as fileiras de pinheiro separada a entrada principal da mansão por onde os convidados seguiam da minha área onde eu estava mais distante.
Todos deviam estar ocupados, esperando o noivo.
Subi no peitoril, o coração disparado. Um pinheiro alto e robusto se erguia ao lado da janela, minha única chance.
Saltei, agarrando um galho. A dor correu pelos braços, mas eu me mantive firme. Com esforço, fui descendo até alcançar o solo em um pulo que me fez estabanar no chão.A grama úmida acolheu meus pés descalços.
Corri o mais rápido que pude, o vestido se rasgando a cada passo, o ar gelado cortando minha pele. A mansão ficou para trás, enquanto eu corria me escondendo entre os arbusto e pinheiros naquela escuridão, Mas quando alcancei a parte mais escura do jardim, algo me fez parar. Entre as moitas, um homem estava caído no chão. Respiração irregular. Mão sobre o peito.A noite escondia seu rosto… de início pensei em ignorar e fugir dali, era a minha chance, mas ele parecia estar morrendo.
Me aproximei dele vagarosamente e lá estava ele, agonizando seus olhos oscilando de vermelho, verde a preto, era completamente surreal.
— você está bem?
— se afaste... por favor! — ele pediu me encarando em pânico, mas eu não conseguia ler sua expressão, é como se fosse uma fera me encarando, mas algo nele... não me deixou me afastar, tentei tocar sua testa, mas sua mão segurou meu pulso numa velocidade que meus olhos se esbugalhando assustada, ainda mais quando ele me puxou com força contra o corpo dele.







