Capítulo 3
Olhei nos olhos dele e vi a confiança que ele carregava.

Ele estava certo de si. Convencido de que eu estava apenas sendo emocional, certo de que eu não teria coragem de deixá-lo de verdade, seguro de que um simples jantar bastaria para me fazer mudar de ideia.

Era assim que ele me enxergava depois de cinco anos juntos:

Uma garota fácil de acalmar, alguém sem firmeza, sem voz própria.

— Tudo bem. — Concordei, para surpresa de todos. — Hoje à noite, no Restaurante do Desfiladeiro dos Sussurros do Vento.

Kaelen assentiu, satisfeito, com um lampejo de triunfo nos olhos.

— Vou pessoalmente providenciar a melhor mesa e os melhores pratos.

Virei-me e saí sem dizer mais nada.

Atrás de mim, ouvi nitidamente Kaelen dizer aos anciãos:

— Não se preocupem, ela só precisa de um pouco de atenção e segurança. Mulheres, vocês sabem como elas são.

As risadinhas abafadas dos anciãos ecoaram em meus ouvidos.

O que eles não sabiam era que tudo já estava arranjado. Aquela noite seria meu adeus definitivo.

Às sete da noite, cheguei ao Restaurante do Desfiladeiro dos Sussurros do Vento, vestindo um simples vestido branco. Kaelen já estava lá, esperando, agora trajando o uniforme formal de Alfa.

— Você veio. — Disse ele, levantando-se, com um brilho de felicidade nos olhos, como se tivesse esquecido completamente da discussão mais cedo. — Olha, aquelas outras noventa e nove vezes, a culpa foi minha. Sinto muito mesmo. Você me perdoa? E sobre a próxima cerimônia, eu estava pensando que poderíamos...

Antes que eu pudesse responder, uma voz familiar me interrompeu:

— Kaelen!

Seraphina.

Usava um vestido vermelho vivo, como uma chama dançante, e correu direto até ele, entrelaçando o braço no dele.

— Ouvi dizer que era um jantar de despedida. Eu simplesmente tinha que vir dar tchau pra Lyra.

Notei como ela se sentou ao lado de Kaelen. O lugar tradicionalmente reservado à Luna. E, ainda mais absurdo, Kaelen não a impediu.

Os garçons começaram a trazer os pratos: carne assada de fera flamejante, frutas silvestres caramelizadas com mel, raízes assadas... só pratos pesados e doces. Nada, absolutamente nada, do que eu gostava.

— Experimenta isso. — Disse Kaelen, colocando uma costela de fera flamejante no meu prato. — A Seraphina disse que você com certeza ia amar.

Olhei para aquele pedaço gorduroso de carne e quase ri. Por causa da minha linhagem única, sempre preferi pratos vegetarianos e peixes leves. Ele costumava saber disso.

— Obrigada. — Respondi, empurrando o prato para o lado. — Não estou com muita fome.

Durante todo o jantar, a atenção de Kaelen esteve quase totalmente voltada para Seraphina. Ele gargalhava a cada história entediante que ela contava. Eu era apenas um enfeite na mesa. Invisível.

— Ah, certo, Lyra. — Kaelen finalmente se virou para mim. — Sobre a próxima cerimônia... o que você acha da próxima lua cheia...?

De repente, Seraphina segurou o estômago, com o rosto contorcido de “dor”.

— Ai... Meu estômago... Está doendo tanto...

— O que foi? — Kaelen perguntou na hora, já esquecendo completamente da minha existência.

— Acho que comi algo estragado no almoço... — Ela gemeu, se apoiando em Kaelen. — Me sinto péssima...

— Eu vou te levar de volta. — Disse Kaelen, levantando-se imediatamente. Só então se lembrou de mim, e falou com certo constrangimento. — Lyra, você...

— Vá. — Respondi, com tranquilidade. — A saúde da Seraphina é mais importante.

Ele hesitou por um momento, então assentiu.

— Eu volto logo.

Observei enquanto ele ajudava a “frágil” Seraphina a sair do restaurante. Antes de cruzar a porta, ela virou o rosto e me lançou um sorriso vitorioso.

Continuei sentada ali, em silêncio, vendo-os se afastarem, com o coração estranhamente tranquilo.

Chega. As atitudes dele me deram todas as respostas.

De volta à tenda, arrumei rapidamente o que ainda precisava levar. Foi então que ouvi a voz de Kaelen pelo elo psíquico:

“Lyra, a Seraphina precisa que eu cuide dela esta noite, então não vou voltar à tenda principal. Quando ela estiver melhor, vamos planejar a próxima cerimônia direitinho. Desta vez, eu juro que vou te fazer minha Luna!”

Sorri friamente, retirei da bolsa a runa ancestral do Reino da Sombra da Lua e comecei a entoar o feitiço de ruptura do elo.

“Não precisa.” — Respondi pela conexão. “Eu já deixei o território Blackrock com meu povo. Kaelen, nosso vínculo de companheiros termina aqui. Que a Deusa da Lua seja minha testemunha: nunca mais nos veremos.”

Como princesa do Reino da Sombra da Lua, eu tinha o direito de usar a antiga técnica real de rompimento de vínculo.

Quando a última sílaba foi proferida, a runa emitiu uma luz prateada ofuscante... Uma dor lancinante atravessou meu corpo, mas cerrei os dentes e suportei.

Foi nesse instante que um grito agudo rasgou o ar, vindo da direção do acampamento.

Eu sabia que era Kaelen, sentindo a agonia do vínculo se partindo.

Quanto a mim, livre daquele laço pela primeira vez em anos, sentia-me mais leve do que nunca.

— Vamos. — Disse aos meus Guardiões da Sombra da Lua, que esperavam nas sombras. Lancei um último olhar em direção ao território Blackrock. — Está na hora de voltar para casa.

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