Capítulo 2
Agarrei aquele manto de seda lunar. O mesmo que carregava noventa e nove esperanças e decepções. Rasguei-o com violência com minha adaga e o lancei na fogueira em chamas.

As labaredas devoraram a seda branca, da mesma forma que consumiram o que restava dos meus sentimentos por Kaelen.

Todos ficaram atônitos, me encarando de boca aberta diante do meu gesto simbólico de rompimento.

E eu... eu apenas senti um alívio que jamais havia conhecido.

De volta à minha tenda, não consegui dormir durante toda a noite.

Kaelen passou a noite com sua preciosa Seraphina, e a dor do vínculo de companheiros queimou dentro de mim até o amanhecer.

No instante em que os primeiros raios de sol atravessaram a lona da tenda, eu já estava de pé e arrumava minhas coisas.

Estava tudo pronto.

Cinco anos atrás, quando deixei o Palácio da Sombra da Lua, abrindo mão do meu título de princesa apenas para encontrar o amor verdadeiro, meu pai me advertiu que o mundo lá fora não era tão encantador quanto eu imaginava. Mas eu, teimosa, acreditei que o amor de um companheiro destinado superaria qualquer obstáculo.

Ainda me lembrava do dia em que conheci Kaelen.

Ele surgiu da floresta e esbarrou direto em mim.

Todo o meu corpo pareceu ser puxado por uma força invisível, meu coração disparou descontrolado e meu sangue fervilhou nas veias. Aquilo era o vínculo de companheiros, mais forte do que qualquer lenda ousava descrever.

E assim, nos apaixonamos.

No começo, ele sabia cada pequeno detalhe sobre mim. Eu tinha medo de trovões, e ele me abraçava firme a cada noite de chuva. Gostava de catar pedrinhas diferentes enquanto caminhava, e ele sempre me trazia as gemas mais bonitas.

Mas agora, ele dedicava toda a sua atenção à Seraphina. Ao olhar para aquelas pedras — Antes tão especiais, agora insignificantes. Joguei-as fora sem remorso.

Então, me preparei para ir até o Conselho dos Anciãos e declarar formalmente minha intenção de partir.

Ao passar pela praça da alcateia, alguns lobos jovens estavam reunidos em volta da “Pedra do Eco”. A versão dos Blackrock para uma rede social, uma pedra especial capaz de gravar e reproduzir imagens.

— Olha, a Seraphina postou uma imagem nova! — Gritou uma garota, empolgada.

Na Pedra do Eco, a imagem de Seraphina estava nítida. Ela usava a armadura de Alfa de Kaelen, aconchegada ao lado dele sob o luar. Sua voz era enjoativamente doce:

— Kaelen disse que a cerimônia era exagero demais, que preferia patrulhar o território comigo. Haha, ele disse que proteger a mim é o que mais ama fazer.

Os jovens me viram e imediatamente interromperam as risadinhas, dispersando-se em pânico.

Senti náusea, como se algo torcesse minhas entranhas.

Mas nada disso importava mais.

Peguei meu bastão de prata e caminhei com firmeza em direção ao Salão do Conselho dos Anciãos.

Era hora de pôr fim a tudo aquilo.

— A futura Luna? — Um ancião perguntou, confuso.

— Eu não sou a Luna de vocês. — Minha voz saiu calma e clara. — Nunca fui.

Os anciãos se entreolharam. Caminhei até o centro da mesa do conselho.

— Eu, Lyra, Princesa do Reino da Sombra da Lua, renuncio aqui ao meu vínculo de companheiros com Kaelen Blackclaw.

Um dos anciãos zombou.

— Princesa? Por causa desse... bastãozinho de prata? Sonhe com isso, garotinha.

Ele derrubou meu bastão de prata com um tapa.

— Você é só uma garota comum que teve a sorte de ser escolhida pelo Alfa, e agora despreza esse presente?

Os outros anciãos riram com escárnio.

— Princesa do Reino da Sombra da Lua? Não se ridicularize.

— Isso é uma blasfêmia! Alguém vá buscar o Alfa. A companheirinha dele está tendo outro chilique.

— Blasfêmia? — Soltei uma risada seca. — Noventa e nove cerimônias de marcação fracassadas. Isso, sim, é uma blasfêmia contra a Deusa da Lua!

Como esperado, a porta do salão foi escancarada logo em seguida. Kaelen surgiu no batente, com o peito arfando, claramente apressado.

— O que está acontecendo? — Ele olhou ao redor, até que seu olhar se fixou em mim. — Lyra, o que você está fazendo? O que é essa roupa?

Endireitei as costas, encarando-o nos olhos.

— Estou solicitando a dissolução do nosso vínculo de companheiros, Kaelen. Estou deixando a Alcateia Blackrock.

— Isso é ridículo! — O rosto de Kaelen passou da surpresa para a raiva. Ele avançou na minha direção. — Você não pode simplesmente decidir ir embora! O vínculo de companheiros é sagrado, você não tem esse direito.

— Eu tenho todo o direito. — Respondi com calma. — Cinco anos, Kaelen. Noventa e nove vezes. Já esperei demais.

— Por causa de ontem à noite? — Ele me olhou, incrédulo, a voz tingida de desprezo. — Só porque eu ajudei a Seraphina? Você tem ideia da gravidade do ferimento no pé dela?

— Não é por ontem, é por todas as vezes, nestes cinco anos, em que você me deixou por último. Todas as vezes em que me ignorou. Todas as vezes em que me abandonou.

— Você está sendo emocional demais, Lyra. — O tom dele era o de quem tenta acalmar uma criança malcriada. — Vamos voltar e conversar direito. Não se exponha desse jeito na frente dos anciãos.

Os anciãos trocaram olhares entre si, quase todos carregados de escárnio e desprezo.

Não era a primeira vez que via aquele olhar vindo deles. Nunca me enxergaram, de fato, como a futura Luna da alcateia. Apenas me toleravam porque Kaelen dizia que eu era sua companheira destinada.

— Minha decisão está tomada. — Olhei para todos os anciãos, depois para Kaelen. — Ao nascer do sol, eu e meu povo partiremos. Não há mais lugar para mim na Alcateia Blackrock.

O rosto de Kaelen escureceu, mas, surpreendentemente, ele não retrucou.

Em vez disso, deu um pequeno sorriso. Um sorriso cheio de confiança e desprezo.

— Tudo bem, entendi. — Ele deu de ombros, com um tom completamente desdenhoso, como se estivesse apenas me agradando. — Já que você precisa esfriar a cabeça, vou preparar um jantar hoje à noite como pedido de desculpas, e podemos conversar melhor sobre a próxima cerimônia.

Ele se aproximou, baixando a voz:

— Para com isso, Lyra. Onde você vai? Ninguém fora da alcateia Blackrock vai aceitá-la. Por que fazer tanto drama por algo que um jantar resolve?

Eu definitivamente tenho para onde ir. Só não vejo motivo algum para você saber onde é.
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