Capítulo 03

Joaquim Sanches - Paraguai

Desembarco em Assunção acompanhado de Álvaro, esse dia mais parece um pesadelo, como pode a minha menina perder a vida tão jovem… eu vou vingar o desgraçado que fez isso com ela.

— Ainda não acredito que nossas crianças se foram, meu Carlito! — Álvaro desabafa enquanto caminhamos até o carro.

— Quem fez isso vai se arrepender por cada gota de sangue derramada, pode acreditar — Falo, mas em meu coração isso é uma promessa.

Cuido de todos os trâmites legais para o cortejo da minha Maitê e do Carlito, um pedaço de mim está sendo levado para sempre, não há palavras que mensure o tamanho da minha dor.

Entro na mansão da família Gonzalez, somos aliados de longa data, nossas filhas eram amigas íntimas, certamente Aniele deve saber de algo.

Chego pensando que a reunião seria entre eu, Juan Gonzalez e Alberto de Castro, no entanto, me surpreendo ao encontrar também com Vicenzo Di Ferrari.

A relação entre Alberto e Vicenzo é um pouco alterada, não cehgam a ser inimigos, mas não são aliados e vê-los pacificamente no mesmo espaço ainda que na atual circunstância me causa estranheza.

— Boa tarde cavalheiros! — Cumprimento a todos com um aperto de mão e recebo um abraço de consideração.

Enquanto me acomodo em meu lugar, uma funcionária da casa me traz uma água e Juan me serve uma bebida, bebo enquanto ninguém pronuncia uma palavra sequer.

— Senhores, acredito que nem todos estejam cientes de toda reviravolta que envolve essa tragédia em nossas famílias, o fato é que nesse momento precisamos esquecer todas as nossas diferenças e unir forças para encontrar quem está nos fazendo mal... levaram nossos bens mais preciosos, nossas crianças. — Alberto inicia a pauta, quebrando o silêncio ensurdecedor que havia na sala.

— O que nós não estamos sabendo? seu discurso não condiz com o que sei sobre essa madrugada... — Falo levemente alterado, preciso voltar para enterrar Maitê, esse lenga lenga não está adiantando nada.

— Calma senhor Sanches, eu sei que é difícil, mas temos de ser fortes! — Gonzalez interrompe — Você não está a par de tudo pois não recebeu os emails que foram enviados, porém vou explicar. Aniele e Julia estão sequestradas, essa é a nossa linha de investigação, quem levou as duas foi a mesma pessoa que matou os demais.— ele explica e eu fico perplexo.

A reunião não foi muito longa dada as circunstâncias, traçamos algumas buscas e cada um disponibilizou uma equipe para essa missão. Nos despedimos e deixamos marcado um novo encontro para o mais breve possível.

Nem nos meus piores pesadelos eu imaginei um dia vir aqui para buscar o corpo da minha filha, não consigo imaginar as razões para tamanha crueldade, estamos em tempos de paz, ou melhor, estávamos.

Desembarcamos em Sinaloa, Mari nos recebe aos gritos, uma histeria só. Tento segura-la mas sou acometido por murros de desespero, é necessário que dois dos meus homens a contenha.

— Isso é culpa sua! Mataram minha menina, mataram a minha menina... — Ela grita e se entrega ao choro.

— Eu vou encontrar quem fez isso e vou acabar com a raça do desgraçado! — Falo me aproximando dela e abraçando — Venha, precisamos ser fortes.

— Se você não tivesse permitido que ela entrasse na máfia hoje nossa menina estaria viva... — Ela insiste em me acusar, eu respiro fundo para não debater, eu sei que é a dor de uma mãe que está enterrando a filha cedo de mais.

Os dois caixões são colocados juntos, Maitê e Carlitos, partiram juntos para a eternidade. O cortejo é muito bonito e foi aberto apenas as duas famílias, Mari ainda tentou se jogar no caixão no momento do enterro deixando tudo mais pesado e doloroso.

Ainda que extremamente cansado, já estou sem dormir há dois dias, não sei dizer quantas vezes já revi essas fitas de segurança, quem está por traz disso é muito bom, cuidou de cada detalhe.

— Álvaro, não sei se você consegue, mas se conseguir, assista essas fitas e veja se encontra algo. Deve ter algum detalhe! — Peço entregando o HD.

— Para achar o assassino eu assisto quantas vezes forem necessárias. — Ele fala aceitando o HD e saindo em seguida.

Esse sequestro está estranho, essas mortes não tem fundamento, dois dias que tudo aconteceu e nenhum contato foi feito, tem chumbo grosso nisso, e vai ter muito sangue derramado ainda

Todos estamos empenhados na solução desse problema, os melhores homens do mundo estão fazendo essa busca, sei que não será fácil, contudo não é impossível.

— Vai descansar, você ainda não dormiu! — Mari me fala encostada na porta do escritório.

— Não posso dormir agora, não posso descansar enquanto esse desgraçado respira por aí... — Ela coloca o dedo nos meus lábios me impedindo de continuar falando.

— Beba esse comprimido, vai te desacelerar! — eu abro a boca e ela põe entre os meus lábios e me entregando um copo com água.

— Achei que você já tivesse ido embora, não precisa ficar por minha causa... sei que você não gosta daqui. — Falo sincero.

— E te deixar aqui nesse estado? De jeito nenhum! Você vai subir, descansar e quando você estiver melhor eu vou embora, agora você está derrotado. — Mari fala me guiando pelo braço.

Agradeço pelo cuidado e peço desculpas pelo trabalho, afinal eu é quem deveria estar cuidando dela, eu quem falhei na proteção da nossa filha, eu quem permiti que essa família fosse devastada de tal forma.

— Me perdoa Mari, me perdoa ! — Peço em um súbito desespero.

— Depois conversamos, agora você descansa. — Ela fala me deitando na cama e tirando meus calçados.

Mari e eu nos apaixonamos ainda na adolescência, namoramos escondidos, noivamos tempos depois e por fim nos casamos e tivemos nossa Maitê.

Uma família de comercial de margarida, felizes e completos, o único problema é que Mari nunca aceitou a máfia, não é por menos que ela sempre exigiu que Maitê escolhesse uma faculdade e fazia questão de acompanhar a evolução da nossa filha.

Maitê sempre puxou para o meu sangue e desde criança sempre planejou administrar meus negócios, respeitando os limites da sua capacidade e sua idade gradativamente fui inteirando -a de como tudo funcionava, seria uma ótima sucessora.

Acordo atordoado, não sei quanto tempo eu dormi, tomo um banho e desço para o escritório, peço que a dona Clara me leve uma sopa, estou faminto.

— Eu acho que encontrei algo, veja! — Fala Álvaro entrando as pressas no escritório sem ao menos bater.

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