Capítulo 06

Aniele,

Estou confusa, primeiro o homem não queria que eu visse seu rosto, agora entra sem tampar minha face e com a dele exposta, não é sobre dinheiro e possuem algo para me mostrar, o que esse povo está querendo?

— Não tente nenhuma gracinha, trouxe apenas um filme para que você possa se distrair um pouco! — Ele fala e meu corpo se arrepia, tenho pavor de imaginar o que possa estar planejando nesse momento.

O moço bonito volta ao corredor e traz uma cadeira, me manda sentar e eu obedeço em silêncio, sinto que vem coisa ruim por aí, olho assustada para ambos que sorriem.

— Calma, belezinha, o show ainda nem começou, eu também anseio pelo fim para que eu possa brincar com você. — O segundo fala me olhando com maldade, sinto uma pontada em minha mente e uma fraqueza no corpo.

O tablet está ligado em minha frente, a primeira coisa que vejo é uma foto minha com todos os meus amigos, todos sorridentes e vivos, uma dor tremenda aperta meu peito e uma lágrima corta meu rosto.

Uma sequência de fotos nossas são exibidas, momentos aleatórios de nossas vidas ao longo dos anos de amizade, a nostalgia e a tristeza de saber que não tenho mais eles ao meu lado me destrói.

Quando morre alguém que amamos dói a alma e embora digam que passa eu duvido muito, ver as fotos e saber que os tiros que ouvi enquanto estava naquele porta-malas eram neles me faz querer desistir de tudo e me encontrar com eles do outro lado.

As lágrimas tomam conta de mim e um choro infindável domina minhas emoções, sem forças para continuar assistindo viro a face para o outro lado, sinto uma mão me puxar os cabelos voltando minhas vistas para a tela e então o que já estava ruim fica ainda pior.

Minhas vistas escureceram e eu não me lembro de mais nada, acordo com a cabeça dolorida, deitada no colchão, aos poucos as lembranças tomam conta da minha memória e um desperto invade meu corpo.

Não sei quanto tempo estou aqui, não faço ideia de como vou conseguir sair e se vou conseguir, na verdade eu já nem sei mais se eu quero lutar contra tudo isso, estou sem forças e com medo.

— Pai, me tira daqui, eu não aguento mais! — Sussurro baixinho.

A porta está sendo destrancada e eu não faço ideia de quanto tempo fiquei apagada, espero que não seja outra sessão de terror, cruzo os dedos e torço mentalmente para que não seja.

Pisco os olhos fazendo uma pausa e quando os abro a grávida está entrando novamente, ela traz duas sacolas, uma com roupa e outra com comida, dessa vez não falo nada apenas a observo em silêncio e ela me dá um sorriso gentil.

— Anda logo Mabel, é só entregar e sair— O grosso fala e ela sai apressada, ao menos agora sei seu nome.

A porta é trancada novamente e consigo ouvir vozes alteradas, levanto apressada para tentar entender as falas, mas é em vão. Desisto e volto correndo para minha marmita, a comida está com uma aparência maravilhosa, como desesperadamente sem me importar com talheres ou etiqueta a fome está me consumindo, não sei dizer a quanto tempo estou nesse jejum forçado.

Provavelmente pelo tempo sem comer e pela pressa com que ingeri o alimento meu organismo não assimilou muito bem, sinto uma ânsia de vômito insuportável, pego a sacola que veio a marmita e uso-a para pôr para fora tudo que está me fazendo mal.

Limpo minha boca com a mão e me encosto na parede esperando que a fraqueza alivie e eu consiga caminhar, noto que trocaram a água enquanto estava desacordada e para minha alegria essa garrafa está um pouco mais aceitável, bebo o líquido que desce refrescando meu organismos e hidratando minha sede.

— Coloca sua roupa suja e todos os lixos nesse balde, em alguns minutos eu venho buscar se não tiver pronto eu vou deixá-la em meio aos lixos— Carrancudo fala com a voz irritada, como não sei seu nome o apelidei assim.

Dentro desse quarto, sem ver horas, noites ou dias, não consigo precisar quanto tempo estou aqui, a rotina se repete em comida, água, higiene, sessão de torturas com fotos dos meus amigos e vez ou outra uns t***s que segundo carrancudo são para me deixar mais esperta.

Mabel vem todos os dias, ou melhor eu conto o tempo pelas vindas dela e deduzo que cada uma seja um novo dia, totalizando assim dez dias nesse inferno, ela sempre me lança um sorriso acolhedor e eu sei que se eu quiser sair daqui certamente deve ser com a ajuda dela.

Algo que me incomoda muito é o tempo que já se passou e nem eles pediram resgate a minha família e nem meu pai conseguiu me localizar, eu nunca esperei que ele pudesse ter tanta dificuldade para solucionar um sequestro, tampouco o meu sequestro.

Muita coisa atordoa minha cabeça, muitos sentimentos confusos invadem meu peito, não sei o que pensar sobre tudo isso, às vezes penso até que seria melhor que tivesse me matado, em meio a esses devaneios um pensamento surge em minha mente.

Meus olhos se enchem de lágrimas, olho para o balde onde coloco minhas roupas diariamente e então pego a calça que tirei, meço sua perna em meus pescoço e então corro um olhar sobre o espaço procurando um ponto, que Deus e meus pais sejam capazes de me perdoar, mas eu realmente não aguento mais.

Ouço passos no corredor, olho para a porta e no mesmo instante a maçaneta mexe acompanhada do barulho de chaves, ando até o balde colocando a calça de volta onde estava, um perfume familiar toma conta do ambiente, respiro saudosa e então a porta é aberta, carrancudo e Miguel entram na frente e logo atrás dele eu vejo quem eu não imaginei em momento algum todos esses dias aqui. pisco meus olhos algumas vezes e forço minhas vistas para ter certeza.

— Oi, Aniele!

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