Capítulo 3

Passaram-se alguns dias… na verdade, duas semanas e três dias, quando pensamentos completamente insanos começaram a me atormentar. Eu queria voltar. Queria de novo me arriscar naquele leilão clandestino.

Claro, não teria mais minha virgindade para oferecer, mas isso não importava. Eu ainda tinha o que dar. E, se fosse sincera comigo mesma, a última coisa que me movia era o dinheiro. O que eu queria, de verdade, era ele. O homem da máscara.

Durante esse tempo, usei parte do valor que recebi para a cirurgia do meu irmão. O resto, coloquei em uma conta. Nada de roupas caras, joias ou maquiagem importada. Só o necessário: a operação dele, alguns mantimentos e um jantar decente depois de tanto tempo vivendo de restos. Ver meu pai satisfeito, comendo bem, já pagava tudo.

Mas nem por um segundo aquele homem saiu da minha cabeça.

Sempre que tinha um instante sozinha, voltava mentalmente àquele quarto vermelho. Revisitava cada detalhe: o toque dele, o cheiro da pele, a voz firme que soava como música, o peso do seu olhar por trás da máscara. Sinais vagos, eu sei. Mas era tudo o que eu tinha dele.

E foi assim que me vi, dias depois, na minha própria sala, vigiando o celular como uma adolescente apaixonada. Tentava, em vão, ligar para os organizadores do leilão. Nem eu sabia o que diria se alguém atendesse. Minha desculpa parecia ridícula até para mim. Mas precisava tentar.

Dois dias seguidos de silêncio. Só a gravação de uma secretária eletrônica no fim da linha. Meu desespero crescia. Como descobriria a data do próximo leilão? Como teria outra chance de revê-lo?

Na terceira tentativa, quando já pensava em desistir, uma voz atendeu do outro lado:

— Alô.

Meu coração disparou. Fiquei muda, a garganta seca.

— Alô! — repetiu, impaciente. — Vai falar ou vai desligar?

Engoli em seco. Não era hora de vacilar com gente como eles.

— Boa noite… eu queria saber quando será o próximo evento.

— E de onde você tirou esse número? — o tom era calculado, frio.

— Eu estive com vocês… duas semanas atrás. Consegui o contato por uma… amiga.

Um suspiro baixo, e então a voz feminina retornou, mais firme:

— Imagino que o mais valioso você já não possa oferecer.

— Vendi na última vez.

— E o dinheiro já acabou?

O sarcasmo dela me cortou como faca. Respirei fundo antes de responder:

— O dinheiro não era pra mim. Mas sim, você tem razão. O mais valioso já foi. Não espero grandes quantias.

Silêncio por alguns segundos, até que a mulher voltou a falar:

— Podemos aceitar você como… um aperitivo. Se houver espaço.

— Entendido.

— O próximo leilão será em menos de duas semanas. Você receberá um SMS com endereço e instruções. Até lá, providencie todos os exames e documentos necessários. Espero que se lembre da lista. Precisa que eu repita?

— Não precisa repetir, eu lembro. — respondi.

— Então aguarde. — A ligação caiu, deixando só o som frio dos sinais de linha.

Continuei parada, celular colado ao ouvido, como se a qualquer instante fosse ouvir de novo aquela voz. Claro que eu lembrava da lista de documentos, não eram muitos. O principal era o laudo médico comprovando meu estado de saúde, em especial os exames ginecológicos. Fácil de conseguir. Mas, enquanto pensava nisso, um medo me atravessou: e se ele não estiver lá?

E se, naquela noite, ele simplesmente escolher outra? E se eu passar despercebida? Eu sabia que as garotas nunca tinham contato prévio com os compradores. Nada de cruzar com eles no corredor ou na rua. Até mesmo dentro do hotel tudo era mantido em sigilo absoluto. Então, se o homem da máscara não estivesse lá… eu seria comprada por qualquer outro milionário qualquer.

Foi aí que a dúvida me corroeu. Eu havia conseguido o que queria: uma nova chance. Mas queria mesmo voltar? Queria me arriscar a ser de outro, que não fosse ele?

Talvez fosse burrice, talvez fosse típica ingenuidade da minha idade. Mas havia uma centelha de esperança que me impedia de recuar.

Duas semanas se passaram. E lá estava eu de novo, preparada. Corpo limpo, depilada, cada detalhe impecável. A única diferença é que não era mais virgem, e ainda assim, não me sentia menos pura. Depois daquela noite, não procurei outros homens, nem mesmo uma distração. Minha vida foi tomada pela preparação para o vestibular, as idas diárias ao hospital e, aos poucos, o dinheiro guardado começava a se esgotar. Eu até pensei em procurar um emprego compatível com o curso que queria fazer. Não havia espaço para namoros.

Até que o celular tocou. Número privado. Meu coração quase parou. Chegou a hora, Isabele .

A noite estava escura quando me levaram novamente. O carro era o mesmo tipo: vidros pretos, ninguém podia ver para fora. Pelo menos dessa vez não me vendaram. Mas pouco importava. Eu não queria saber para onde ia. Se fosse para o meio de um bosque, não faria diferença, contanto que fosse ele. Eu só desejava uma coisa: que o homem da máscara estivesse lá. Não importava se me escolheria ou não… eu precisava cruzar com aquele olhar mais uma vez.

O carro parou diante de um hotel luxuoso. O porteiro de uniforme exagerado abriu a porta com pressa, como se eu fosse alguma princesa mimada. Entrei no saguão e quase perdi o fôlego: o lugar fervia. Luzes, gente apressada, vozes por todo lado.

Percebi rápido: ali, na entrada principal, só passavam as garotas. Fazia sentido. Nada de misturar “mercadoria” e clientes antes da hora. Ou seja, eu não teria como encontrar meu comprador ali, por mais que meu olhar buscasse por ele. Restava apenas seguir o fluxo.

Fui até a recepção. Outras mulheres chegavam também, algumas tão lindas que pareciam modelos de passarela. Diferentes de mim no primeiro leilão, muitas já vinham com experiência estampada no jeito de andar, no olhar seguro. Algumas até aconselhavam as novatas, passando palavras de encorajamento ou impondo hierarquia.

Eu não tive tempo para isso. Apareci quase em cima da hora, com a respiração presa no peito e a sensação de que, a qualquer instante, poderia desmoronar.

O espaço reservado para nós ficava afastado, num canto do saguão, como se quisessem nos esconder dos outros hóspedes do hotel. Mas, pelo barulho que fazíamos, eu tinha certeza de que já estávamos incomodando. As garotas falavam sem parar, gargalhando alto, como se aquilo fosse apenas mais uma festa.

Na recepção, entreguei meu RG e os documentos exigidos. Em troca, me deram formulários para assinar. Havia mesas por todo lado para preenchermos, mas confesso que preferia ter chegado atrasada de novo. O barulho era tanto que eu mal conseguia me concentrar.

Pouco depois, chamaram uma das mais falantes para outro setor e, enfim, consegui terminar meu formulário em paz. Entreguei para a recepcionista, recebi um número e fui me sentar num sofá afastado da confusão.

Foi aí que a sorte resolveu brincar comigo: a garota mais tagarela, agora sem companhia, veio direto se instalar ao meu lado.

— Oi! — disse com um sorriso enjoativo. — Acho que nunca te vi por aqui.

— Estive há um mês atrás — respondi seca. Não exatamente naquele hotel, mas não ia me explicar.

— Ah, então você deve ter chegado atrasada, por isso não te notei. Vendeu a virgindade? E aí, como foi?

Fingi que não ouvi. Mas ela não parecia se importar com meu silêncio.

— Qual é, pode contar pra mim. Eu sou praticamente veterana aqui.

Suspirei. Estava claro que não se calaria. Então decidi cortar de vez:

— Escuta — minha voz saiu mais dura do que eu pretendia. — Nós não somos amigas, nem conhecidas. Assim que eu sair daqui, vou esquecer que você existe. Então, faz um favor: desaparece da minha frente e tenta baixar o tom, porque a minha cabeça já está latejando.

— Tá bom… — ela respondeu, tentando esconder a mágoa. Mas não demorou a ir despejar sua tagarelice em cima de outras meninas, provavelmente contando o quanto eu era grossa. Paciência.

Finalmente, apareceu o mesmo rapaz da última vez, chamando meu número. Não sei como organizavam a ordem, mas não parecia ter lógica nenhuma. Também não importava. Eu só queria sair daquele saguão o mais rápido possível.

A sequência era a mesma: trocar de roupa, esperar nos bastidores, e então subir no palco improvisado. O leiloeiro já estava em ação, voz firme, repetindo valores que subiam rápido, até bater o martelo e encerrar mais uma venda.

Era isso. Ela tinha saído. Agora era minha vez.

A garota passou por mim e, no mesmo instante, senti o sobretudo deslizar até meus pés. Eu já sabia o caminho, não precisava que ninguém me guiasse.

Dessa vez, não havia medo. Nem vergonha. Ao contrário: meus olhos vasculharam o salão sem descanso. Até que encontrei.

Quarto corredor, última poltrona à direita. Ele estava lá.

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