Eliz

Levantei antes do amanhecer, me troquei e desci para treinar. A ansiedade me envolvia por completo. Não sabia se era por Leon ser meu treinador ou pela minha ineficiência, mas minha loba dava cambalhotas, ansiosíssima por isso.

Mesmo bem recebida, sinto falta do cheirinho da minha casa, das conversas com minha mãe.

Cheguei à arena de treinamento. É enorme, bem equipada, com vários bancos, como um miniestádio coberto. Ótimo. Minha humilhação será pública.

— Oi, Eliz. Não apanha muito, tá? Não quero ter que andar com você de olho roxo pelas lojas mais tarde — disse Lívia, piscando um olho.

Seu corpo atlético deixa claro que treina desde muito nova, enquanto eu fui treinada para fazer as mais belas cerimônias da matilha.

Eron e Leon estavam ocupados, treinando os outros guerreiros, sérios, com olhares acirrados. Leon me apresentou no meio da arena, onde consigo contar nos dedos a quantidade de fêmeas. Dei algumas voltas, fiz alguns exercícios de aquecimento, tentando parecer confiante.

— Lívia! Vem aqui! — Leon chamou. Ela correu até nós. Seus olhos azuis tinham um tom violeta. Sua lycan estava à flor da pele.

— Faça um ataque em câmera lenta. Vamos testar até onde vai a nossa ruivinha.

Virei um bichinho de estimação agora? Revirei os olhos, mas ele fingiu não perceber.

Nos posicionamos uma de frente para a outra no centro da arena. O burburinho dos machos e as risadas abafadas não passaram despercebidos pela minha sensibilidade lupina.

— Pronta, novata? — ela arqueou a sobrancelha.— Nada de dó só porque é minha amiga, tá?

— "Pronta" é uma palavra forte... mas tô aqui, né?

Forcei um sorriso, sentindo meu coração bater tão forte que pulsava nos ouvidos.

Os machos na arquibancada riram com leveza, achando que seria só um treino divertido. Mas bastou o primeiro passo de Lívia para o mundo desacelerar.

Minha loba sentiu.

Um arrepio desceu pela espinha como um fio de eletricidade. Não era medo. Seus pés se moveram sozinhos, desviando do golpe que Lívia desferiu com precisão. Uma esquiva perfeita. Surpresa, Lívia se virou rapidamente, mas eu já estava atrás dela. Meus olhos brilharam âmbar por um segundo.

— Como... você fez isso? — murmurou a lycan, ofegante.

Eu também não sabia. Mas havia algo fluindo sob minha pele. Como se sua loba interior tivesse, enfim, despertado, perfeitamente sincronizada com meu corpo.

Lívia avançou de novo.

Desta vez, com as garras expostas e uma combinação de golpes rápidos. Eliz recuava, mas seus pés não tropeçavam. Seu corpo girava, fluía. E então, no instante certo, contra-atacou. Um giro preciso, nos calcanhares arrastando na terra e um chute firme no abdômen . Lívia voou mais de dois metros para trás.

A arena ficou em silêncio.

Lívia caiu de joelhos, respirando fundo, incrédula.

Ela se levantou, limpando o sangue no canto da boca, e sorriu.

— Porra...! — gargalhou, com orgulho nos olhos azul-violeta. — Onde você tava escondendo isso tudo, hein?

— Eu... eu não sei — sussurrou Eliz, ofegante, os olhos agora completamente âmbar. — Eu só... senti.

O treino continuou, mas, das próximas vezes, Lívia não usou câmera lenta. Descobri hoje que aprendo rápido. E, principalmente, que minha loba detesta perder.

Saí do treino revigorada. Se o supremo me perdeu, azar o dele. Eu sou uma loba forte. Estou orgulhosa de mim.

Subindo para o quarto, vi a porta do Leon entreaberta. A curiosidade me bateu. Como seria o quarto do futuro alfa? Ele parecia outra pessoa na arena com os olhos frios e atentos. Só uma espiadinha...

Foi o suficiente para ele aparecer atrás de mim. O peito suado do treino colado às minhas costas. Quase morri do coração.

— Perdeu alguma coisa no meu quarto, ruivinha?

— Quer parar de me chamar assim, seu irritante chato?

— Humm... ganhou língua depois do primeiro dia de treino — ele murmurou, se aproximando, fazendo com que eu inale seu cheiro. Era bom. Não tão bom quanto o do supremo... — Imagino o que mais você vai descobrir que gosta por aqui.

Com sua proximidade, ele me empurrou suavemente para dentro do quarto.