Eliz
— Se me quer tanto assim, amanhã falo com seu pai e adiantamos a cerimônia. Teremos uma ninhada de lobinhos — ele desdenhou de mim como se eu fosse uma loba desesperada por atenção. Como aquelas Marias caça-Alfa da matilha. — Eu não arriscarei ter nenhum filhote com um lobo frio, sem alma e sem respeito como você, Supremo — minha loba parou de arranhar por dentro. Definhava agora. — O que acha que está fazendo? Não pode acabar com nossa aliança, isso se trata do nosso povo, da nossa matilha... não de nós — ele falou frio, como sempre. — Eu quero que o povo vá pro inferno. E você junto! — gritei, sentindo o ar escapar do peito pela dor da nossa rejeição. Por um momento pude ver surpresa estampada em sua face, não durou muito aproveitando minha distração, ele me pegou pelo braço e me arrastou até a porta da rua. — Você terá nossos filhotes, Eliz. Eu terei você do jeito que quiser, na hora em que quiser, e onde eu quiser. O preço que paguei foi desistir da minha companheira destinada... por você. Surpresa pelas palavras furiosas, não prestei atenção ao fim do piso. Torci o pé e caí de bunda no chão.Vá pra casa, sua criança mimada e irritante — ele falou entre os dentes, antes de fechar a porta na minha cara. — Eu prefiro montar o diabo no inferno a deixar você me tocar algum dia! — gritei, e sabia que com sua maldita superaudição, ele tinha escutado cada sílaba perfeitamente. Virei-me para ir embora. Meu pé doía, meu orgulho estava ferido, minha loba em frangalhos... e agora eu tinha um problema sério. O Supremo pode ser frio, insensível e controlador, mas uma coisa ele não é: mentiroso. Se disse que estará amanhã na minha casa para adiantar nossa união, estará. Tão certo quanto o nascer do sol. Me arrastei até em casa. O sorriso da minha mãe morreu ao me ver chegar com os olhos marejados, mancando, minha aura enegrecida. Ela pousou a bandeja de doces — que deveria enfeitar minha mesa de aniversário e me abraçou. — Eliz? — Mãe... eu serei... uma parideira. Foi pra isso que me criou? — O quê? Não... — ela enxugou minhas lágrimas com a mão.Eu tremia. Estava apavorada com o vislumbre de um futuro em que seria apenas uma esposa oficial, enquanto outras fêmeas dividiriam a cama dele. Algumas parideiras ainda criam os filhos das amantes, para que os filhotes não carreguem o estigma de bastardos. Minha respiração era entrecortada. — Ele estava com uma loira na sala. Todos os servos sabiam. Eu vi nos olhos da criada quando entrei. Serei uma piada nas duas matilhas. E ele... ele é meu companheiro... eusenti. Ele usará o vínculo contra mim. Vai me aprisionar, mãe. — Escute. Temos que ser rápidas. Seu pai não deixará você quebrar o acordo — ela subiu correndo e voltou com uma mochila nas mãos — Se você pedir abrigo a qualquer outro lobo, vão te devolver pra cá, e seremos obrigados a entregá-la de volta a ele. Então vá para a matilha da Lêda, minha amiga Lycan. Lá, ele não tem poder. — Obrigada, mãe — a abracei apertado — E o papai? — Ele não sabe de nada. E eu vou fingir surpresa também. Aqui tem dinheiro, seu celular... — ela soluçou, sem conseguir terminar a frase, olhando em volta enquanto enfiava coisas na mochila — Você ainda é minha menininha. Me dê notícias quando chegar lá. E lembre-se: se você se vincular a qualquer outro macho, o Supremo pode declarar quebra de contrato. Isso significa guerra aberta entre as matilhas. Ele pode até desafiar seu pai para um duelo até a morte. Nossa matilha é menor, e seu pai não tem força contra um jovem Supremo. — Eu não farei isso. Juro que não tomarei outro macho por companheiro, mãe. Ele e meu pai, mesmo magoada por esse contrato estúpido, eu entendo que ele quisesse evitar uma guerra quando nasci. E não quero os membros da matilha machucados por minha causa. E o supremo talvez case com essa loba que estava com ele ou com outra quando cansar de me esperar. Viverei sem companheiro. E assim começou minha longa caminhada pelos territórios. Quando a noite caiu, além da dor no peito, um calor incontrolável começou a tomar conta de mim. Meus ossos doíam. E então, minha primeira transformação começou. Sozinha, no momento mais vulnerável da minha vida. Que a deusa me ajude. E que nenhum lobo errante sinta meu cheiro.