Laçando o supremo que me traiu.
Laçando o supremo que me traiu.
Por: Charlene C.
capitulo 01 Acordo quebrado.

Eliz

Caminhava com o convite do meu aniversário de dezesseis anos nas mãos. Eu mesma deveria entregá-lo ao Alfa Supremo do Norte. Nossos pais haviam acordado nossa união desde o meu nascimento. Nem ele, nem eu tivemos voz sobre isso.

A matilha dele é a maior e mais poderosa, e a minha vem logo em seguida. Para meu pai, eu deveria esquecer qualquer noção de companheiro e encarar a responsabilidade herdada. Sou filha única. Uma herdeira.

Mas... uma pontinha de curiosidade me picou.

Pedi ajuda a,Lívia, minha melhor amiga. Ela conseguiu um colar de ônix negra enfeitiçado. Se meu companheiro se aproximasse de mim, eu saberia, mas ele não saberia de mim. O colar funcionaria como um escudo, um bloqueio contra o vínculo. Era só curiosidade. Só queria saber quem... ou o que... eu estava perdendo.

Minha mãe teve complicações no meu parto e não pode ter mais filhos. Por isso, todos vivem com medo de que algo me aconteça. Se eu morrer, o dom morre comigo. O Supremo do Norte, por sua vez, teme que se eu me acasalar com um lobo forte demais, sua matilha perca o posto de liderança. Minha mãe vive tentando nos aproximar. Por isso me mandou pessoalmente, o que nunca adiantou muita coisa. Ele sempre foi... educado, polido, mas distante. Frio. Não me lembro dele sorrindo. Anda sempre sério, como quem sai pra arrancar a cabeça de alguém.

Ainda assim, desobedecer significaria horas de sermões. Cruzei os portões do território dele. Ninguém me barrou pois sou “a noiva”, desde que nasci. Todos me conhecem.

— Senhorita Eliz... — murmurou uma serva, abaixando a cabeça. Vi o vacilar nos olhos dela, mas segui em frente. Como sempre.

Foi então que... parei.

Meus pés simplesmente travaram.

O colar funcionou. Ele não sentiu minha presença.

Mas eu vi.

A cena memorável gravou-se nos meus olhos como ferro em brasa.

A pele bronzeada dele brilhava de suor. As costas largas e definidas, os músculos dos braços tensionados. Ele se movia com força bruta sobre uma loba branca e loira, que apoiava um joelho no sofá e empinava o quadril — a pele da bunda avermelhada pelo tapa que ele acabara de dar.

Meus olhos se arregalaram. Mordi o lábio inferior até sentir o gosto metálico do sangue. Uma dor aguda me atravessou o peito. Me faltou o ar.Na minha mente, minha loba urrava “companheiro”, arranhando por dentro como uma fera enjaulada.

Mas eu engoli a palavra.

Segurei o colar com força. Como um escudo. Um lembrete.

Ele já buscava outro orifício da fêmea, pronto para continuar. Foi quando pigarreei.

Ele largou a loba imediatamente, como se queimasse. Ela vacilou sem o apoio dele e caiu sentada no sofá, me olhando incrédula enquanto tentava catar suas roupas.

— Na sala? Com todos vendo? Todos sabiam? — meu tom saiu... estranhamente calmo. Uma calma assustadora, comparada com a avalanche dentro de mim.

A fêmea ia vestir-se quando ele a impediu com um gesto seco.

— E o que esperava? Que eu ficasse puro e casto até você fazer dezoito anos? — Sua voz era fria. Sem desculpas e nem remorso. Apenas... lógica.

— Então... então eu posso me deitar com quem eu quiser também? — minha voz subiu uma oitava. Só percebi o quanto estava tremendo quando senti as unhas cravadas na palma da mão.

Ele rosnou. A voz saiu grave.

— Nenhum macho da minha ou da sua matilha tem tanto desejo de morrer.

Parecia que agora ele se daria ao trabalho de se vestir, de conversar... de agir como meu noivo. Mas seu membro ainda brilhava com os sulcos da outra loba, e só a visão disso me deu ânsia.

— Então ótimo — disparei, tirando a aliança do dedo. — Vou pra uma matilha distante. Vou dar a minha buceta pro primeiro lobo que eu encontrar.

Joguei a aliança no chão. O som metálico tilintou, quicando até parar aos pés dele.

A dor no meu peito era agora opressiva, física, esmagadora.

Ele avançou um passo na minha direção.

E eu...

dei um passo pra trás.

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