Quando o Deus Esquecido se desfez em palavras, algo mudou no mundo. Não de forma visível, não de um modo que os jornais noticiariam. Mas no silêncio entre as horas, no espaço entre os pensamentos, o mundo parecia mais lúcido. Como se o esquecimento deixasse de ser uma bênção e passasse a ser uma escolha.
Na sede da Aurora, Kieron estava em silêncio diante de uma prateleira nova. Nela, livros recém-aparecidos ocupavam os espaços: tratados esquecidos, diários perdidos, biografias de pessoas que nunca nasceram. Era como se o mundo estivesse devolvendo o que fora tirado.
— Os registros estão voltando — comentou Agnes, entrando na sala. — Todos os arquivos das Cidades-Memória. Domani, Port Clay, Vallgard… até Tazriel. É como se o tempo tivesse tossido e devolvido o que engoliu.
Kieron assentiu.
— Mas a que custo?
Agnes hesitou antes de responder:
— Evelyn ainda não acordou.
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O quarto em que Evelyn repousava era feito de cristal negro. Uma cápsula entre mundos. Lia passava horas por dia