JOSELLYN
Aquele dia as coisas não tinham começado bem. Eu estava muito preocupada com o fato de não ter visto meu pai no café da manhã. Fora isso, eu já tinha começado com o pé esquerdo na escola. A vadia da Cláudia não vale nada. Em todos os anos que estudei naquela escola, desde o fundamental, eu tenho que lidar com ela e sua mania de me fazer de passatempo. Ela fazer piada de mim para a escola toda, eu nem ligo, mas ser tão baixa a ponto de usar a minha mãe, alguém que não está aqui para se defender e que já morreu, isso é muito baixo. Ela faz isso porque sabe como me machuca, desde o dia em que me ouviu chorar numa comemoração do Dia das Mães, quando criança. Eu simplesmente não me controlei e tive que bater nela. Já fazia mais de uma semana que, sempre que eu chegava à escola, ela fazia a mesma piada imbecil. Eu estava no limite. E pensar que fui parar na diretoria e fui chamada a atenção por conta de uma criatura odiosa como a Cláudia. Depois daquela bronca que levei na diretoria, as aulas finalmente começaram. A idiota foi para a enfermaria e depois teve que seguir para o hospital, pois estavam sem médicos hoje, e ela também precisava tirar um raio-X para ver se não foi nada grave. Sinceramente, fiquei feliz. Quebrei o nariz da vadia e ainda a mandei para o hospital. Ficaria pelo menos esse dia inteiro sem ela para me atazanar. Levei uma advertência, mas fiquei feliz. Quando voltei para a sala de aula, o professor havia acabado de chegar. Eu confesso que a matéria era ótima, mas eu não gostava muito dele. Tinha algo no seu olhar que me deixava desconfortável, só não sabia o que era. Quando sento, os meus amigos, curiosos, vieram correndo para saber o que tinham falado para mim. Eles são fofos, mas adoram uma fofoca. - E aí, o que rolou? - Os dois falam ao mesmo tempo. - Haha, vocês são mesmo hilários. São tão parecidos que até pensam igual... Respondendo à vossa pergunta, eles me deram uma advertência porque sou uma aluna exemplar, segundo eles, mas disseram que vão mandar um recado para meu pai. - Poxa, amiga... Isso é mesmo chato. Eles nem ligam para ver que você teve que aturar aquela megera todos os anos desde o fundamental, ainda fazendo piadas péssimas sobre a sua mãe. Isso é mais que injusto. - disse Francielle, ao segurar minha mão. - Flor, você vai passar por essa fase logo! Pensa que esse é o último dos anos terríveis que passou tendo que aguentar a Cláudia. Depois daqui, vamos para a faculdade juntos, eu, você e a Fran. Vamos estudar fora daqui e vamos nos livrar dessa chata inconveniente. - disse Chris, com um olhar de carinho e as bochechas escarlates de tão envergonhado. - Vocês três aí atrás, querem compartilhar com a turma o assunto que é tão interessante que não podem deixar para o intervalo? - falou o professor. - Desculpe, professor, não vai mais acontecer! - respondi envergonhada, recebendo um olhar desgostoso. Brigando na escola, indo para a diretoria, levando chamada do professor... Esse realmente não foi o meu dia. Graças ao meu bom Deus, eu vou ter que aguentar somente mais uma aula e poderei ir embora. Enquanto a aula passa, eu não assisto realmente. Estou parada, pensando nos acontecimentos. Por causa daquela vaca, eu acabei na diretoria levando uma advertência, logo eu, que nunca havia sequer sido chamada a atenção. Meus pensamentos estão um turbilhão. Naquele momento, eu estava tão nervosa que nem me dei conta de que dei um soco num rapaz que não tinha culpa de nada e só estava tentando me acalmar. E agora, o que eu faria? Como encontraria aquele rapaz para pedir desculpas se nem me lembro direito do rosto dele? Pensando nisso, todo mundo estava presente, então resolvo falar com meus amigos assim que a aula acabar. Eles são perfeitos, mas também observam tudo e todos, então provavelmente viram melhor o homem que me segurou. Ele não era um aluno, isso sei bem, porque ele parecia ter mais de 23 anos, fora que eu nunca o havia visto aqui. Quando a próxima aula começa, eu confesso que já quero que acabe. Não aguento mais esse dia. A única coisa que mais quero nesse momento é ir para casa. Esse dia já deu o que tinha que dar. A aula passa relativamente depressa, levando em conta que eu estava com muita pressa. Até que ela foi descontraída e rápida. Quando o sinal b**e para o fim da aula, vejo meus amigos se levantando e arrumando suas coisas para ir embora. Pelo jeito, eles estavam tão apressados quanto eu. Me apresso a juntar tudo também e espero por eles para que eu possa obter respostas. - Pessoal, antes de cada um ir para um lado, eu preciso realmente da ajuda de vocês. É bastante importante. - Para o quê? - Falam os dois ao mesmo tempo. Se eu não os conhecesse, diria que são irmãos gêmeos, porque, além de se parecerem, eles têm essa mania de falar juntos, o que eu acho bastante fofo, aliás. - Então... um de vocês se lembra daquele cara que me segurou quando eu estava batendo na Cláudia? - Mas é claro que vi! Eu jamais esqueço o rosto de um cara gato, e aquele cara, então... Se pesquisar perfeição no dicionário, vai encontrar uma foto dele do lado. - Só você mesma, hein? Não precisa ficar encantada sempre que vê um rapaz bonito. - Eu que tenho que parar? Quem é que está atrás dele, hum? Se eu não te conhecesse, diria que você está apaixonada por ele. - Para, Fran, ela não é como você! - Meu amigo é mesmo muito fofo, meu Deus. - Tá querendo se jogar para cima dele e nem o conhece. - Bem, tudo bem, vou parar de brincar por enquanto, mas a minha resposta é sim. Eu prestei bastante atenção nele e, pelo que vi, depois que ele saiu, ele não veio aqui sozinho, não. Ele estava acompanhando um garoto que eu acho que vai aparecer aqui novamente. Ele parecia um ex-aluno. Mas a pergunta que não quer calar é: por que você está tão empenhada em achar esse cara? - Amiga, se você reparou em tanta coisa, também se lembra que ele me segurou para parar a briga e eu dei um soco nele. Tudo o que eu queria era pedir desculpas. Não foi intencional, sabe? Eu estava realmente nervosa com o que aquela vaca tinha dito da minha mãe. Ele não tinha nada a ver. - Bom, eu acho que seria mesmo uma boa você pedir desculpas. Vamos tentar encontrá-lo. Terminamos a conversa e vamos em direção às nossas casas. Estou cansada, esse dia foi exaustivo e estou emocionalmente quebrada. Não demora muito para pegar o ônibus, e dou graças a Deus que só preciso de um. Ele não demora para chegar onde moro. Corro para casa como uma flecha, quero poder descansar um pouco e tomar aquele banho antes de começar a preparar o jantar. Quero estar com tudo pronto para quando papai chegar. Estou com saudades e também quero perguntar sobre mais cedo. Ele sempre me avisa quando não vai estar em casa, o que não foi o caso dessa vez. Quando chego em casa, tenho mais uma surpresa. Escuto sons de vozes e risos. Quanto mais me aproximo, o som fica ainda mais alto. Ao chegar na sala, vejo papai de costas, sentado no sofá, porém, muito próximo de uma mulher. Quando me aproximo, consigo ver que ela é loira, tem os cabelos longos e bem cacheados, a pele dela é bem branca e, mesmo sentada de costas, vejo que ela é uma mulher muito elegante e usa um perfume muito delicioso, porém, só um pouco doce. - Papai! - Falo de uma só vez, antes que perca a coragem. - Filhinha querida, eu estava mesmo esperando por você. Que bom que chegou! - diz meu pai, ao se aproximar e me dando um beijo na testa. - Nossa, Maxuell, sua filha é mais linda do que você tem me dito. Fofa, linda e sensual. Nossa, ela tem uma pele tão branca que me lembra os filmes de vampiros e aquelas lindas mulheres com trajes de época. - Ela realmente é muito linda. Ela é como a mãe dela. Pensei por um momento que a mulher à minha frente ficaria com raiva pelo comentário do meu pai, porém, ela abre um enorme sorriso e me abraça forte. Me surpreendo com a atitude, mas, mesmo assim, retribuo. Agora, olhando de perto, essa mulher não é somente elegante, ela é linda, e, nossa, ela tem olhos azuis tão lindos que parecem as águas do mar, tão azuis e cristalinos. Saio do meu devaneio quando papai começa finalmente a falar novamente. - Então, querida, eu gostaria de apresentar. O nome dela é Alexia. Estava ansioso para que vocês se conhecessem. A conheço há um tempo, mas não era a hora de apresentar vocês. Ela é viúva, assim como eu. Trabalhamos juntos em uma das minhas viagens e começamos a nos conhecer. Finalmente decidimos estabelecer um compromisso um com o outro, e eu gostaria que você soubesse que vamos nos casar em breve. A hora não poderia ser mais oportuna, porque recebi uma proposta de trabalho enorme e vamos ter que viajar por um tempo. Não vou poder ficar com você em casa. Alexia tem quatro filhos, eles são mais velhos que você e são responsáveis. Ainda vamos encontrá-los para contar a novidade. Querida, você vai morar com eles, não há problemas, afinal, serão seus irmãos e poderão cuidar de você. Essa notícia de casamento por si só caiu como uma bomba na minha casa, e eu não tive nem oportunidade de me preparar, e já me jogam outra dinamite. Como assim, do nada, eu ganho uma madrasta e quatro irmãos, e ainda por cima vou ter que morar com eles?