Harper Ward
— Ai, meu deus, aquilo é fogo? — Aprill gritou, apontando para a mulher que dançava segurando uma baliza. Aquilo era bem exagerado, e eu me perguntei aonde havíamos nos enfiado.
Olhei ao redor, e embora as mulheres estivessem com roupas curtas, não parecia ser o caso dos homens desse lugar. Terno, fraque, e um desfile de três peças sob medida e eu soube que aquilo era muito, muito chique.
— Ainda bem que ele nos deu acesso vip. Você teria que vender seu carro para pagar uma dose de bebida aqui. — Resmunguei.
— Mas no fim deu tudo certo, não é? — Ela estava falando comigo, mas eu estava distraída demais prestando atenção em um casal de mãos dadas, desaparecendo pelas escadas. — Vamos beber. É de graça! — Ela agarrou a minha mão e nós duas saímos andando rápido, como duas loucas.
— Boa noite. O que vão querer?
Eu olhei para Aprill e deixei que ela decidisse. Eu não fazia a menor ideia do que dizer. Nunca bebi na vida, e para falar a verdade, nem tinha idade legal para isso ainda.
— Tequila? — Ela não passou nenhuma confiança na forma como perguntou aquilo.
Apertando as pálpebras, ele a encarou. — Você costuma beber?
— Não em um lugar como esse.
— Certo. — Eu podia apostar que a roupa daquele barman pagaria um mês de aluguel da Aprill.
Ele se afastou, e voltou com dois copos, os deslizando pelo balcão de madeira até nós duas.
Eu não tinha muita certeza se deveria fazer isso, mas toda vez que as imagens insanas vinham na minha cabeça, eu começava a enlouquecer um pouco mais.
— Tintim.
— Arriba! — O barman corrigiu, antes de se dirigir a um casal do outro lado.
Demos de ombros e entornamos aquilo de uma só vez. A sensação não foi boa como eu esperava. Ardeu até a minha bunda. — Nossa, que droga é isso? Parece que eu bebi gasolina.
Aprill começou a rir como uma doida. Ela não era muito forte para bebidas, aparentemente.
— Vejo que prefere algo mais suave. Prove isto! — Aquele homem se inclinou limpando a bancada. Depois de me observar entornar aquilo, ele piscou um olho e sorriu. — Afrodisíaco, doce e belo, como você.
— Uuui, parece que você achou um candidato. — Aprill zombou, mas aquele homem riu.
— Cala a boca.
Nós bebemos mais algumas doses daquela bebida deliciosa. E embora eu tenha me sentindo bem entorpecida, não estava tão bêbada quanto esperava ficar. Só me sentia bem... Feliz.
— Vamos dançar! — Aprill me arrastou para a pista antes que eu dissesse que não.
— Acho que eu deveria fazer uma lista do Vai se ferrar. — Disse, alta demais, e o homem que chegou bem pertinho de me chamar para dançar recuou, pensando que falava com ele.
Nós rimos muito.
— Como assim?
— Sabe, eu deixei de fazer tanta coisa por causa daquela família idiota. Agora eu quero que vá tudo para o inferno. A minha primeira da noite é encher a cara. Riscado! — Comemorei.
— A segunda é transar com um desconhecido gostoso.
Eu fiquei bem vermelha, mas não o bastante para corrigi-la. Eu disse que faria isso, e eu vou fazer!
Então, nós estávamos dançando e olhando ao redor, mas ninguém parecia bom o bastante. Aprill, no fim, se cansou de procurar comigo e desapareceu com um, aparentemente rico de uns vinte e tantos anos.
Eu continuei dançando a música Russian Roulette da Rihanna, me sentindo a coisinha mais sexy do planeta. Eu não estava olhando para lugar nenhum em particular, mas, de alguma forma, como se um fio me ligasse a alguém, senti que estava sendo observada. Devagar, e ainda no ritmo, eu joguei o cabelo para o lado e olhei por cima do ombro, onde só havia a alça fina do vestido. Aquela foi a primeira vez na vida que não senti o órgão entre as minhas pernas como um pedaço de carne inanimado.
Deus do céu, que homem é esse?
Ele devia ter uns quarenta anos, e era o ser mais sério e observador que eu já tinha visto na vida. Aquele homem me comia com os olhos, e sinceramente, compara-lo com qualquer outro naquele lugar seria bem injusto. Eu nunca vi alguém como ele na vida.
Aquela forma de se sentar, levar a bebida até a boca com uma calma irritantemente calculada estava me fazendo sentir tremores dos pés a cabeça. A música já havia mudado, e eu simplesmente tentei fingir que ele não me afetava. Fechei os olhos e continuei dançando como uma louca, deixando meu cabelo deslizar para um lado e para o outro, só que não demorou muito para sentir mãos firmes prenderem a minha cintura, e me apertar.
Aquele cheiro, meu deus.
Por que ele precisava ser tão cheiroso assim.
Eu continuei dançando, mas ele não.
Olhei por cima do ombro. — Não vai dançar?
Segurando a minha cintura, ele me virou para a frente, e me olhando como um devorador, ele aproximou a boca do meu ouvido, o que me levou a fechar os olhos. — Eu não danço.
Eu ri baixinho, sem entender. — Se não dança, o que você está fazendo aqui?
— Conhecendo você, aparentemente. — Era engraçado como ele exalava seriedade. E eu tinha a leve impressão de que conhecia aquele rosto de algum lugar. — Como você se chama?
— Não te conheço o suficiente para dizer meu nome.
Ele esboçou um sorriso de molhar calcinhas, e segurou a minha mão, acariciando com o polegar o tempo todo. Isso é algum tipo de mensagem que eu deveria entender?
— Chase. Chase Harrison. — Ele claramente sentia orgulho disso.
Eu sabia, bem lá, no fundo, que aquele nome deveria significar alguma coisa, mas não consegui lembrar.
— Harper.
— Então, Harper. Agora que somos amigos, o que acha de sair daqui comigo?
Eu olhei para escadas. Bom, o que poderia dar errado se eu ficasse sozinha com um completo desconhecido, depois de beber pela primeira vez na minha vida?
Diga não!
Diga não, sua maluca.
Mas aí, a imagem do idiota do Calvin apareceu olhando para os lados. Meu deus, como ele me achou aqui?
Olhei o homem desconhecido. — Quer saber. Por que não?