A Testemunha Involuntária
Cecília
Acordei com o som do meu próprio suspiro de exaustão. A noite tinha sido longa — não por insônia ou preocupações, mas pelos gemidos, batidas e gritinhos inconfundíveis que atravessaram as paredes do apartamento como se fossem parte de uma trilha sonora de filme adulto em Dolby Surround.
Sentei na cama com o cabelo desgrenhado e os olhos semicerrados. Puxei o roupão com preguiça e fui até a cozinha em busca de café — e talvez um balde de gelo para esfriar meus ouvidos. Ao chegar, encontrei a cena: Lívia e Heitor, ainda em trajes de pós-amor, sorridentes, se servindo de café como se nada tivesse acontecido.
— Bom dia, casal barulhento do inferno — anunciei, cruzando os braços.
Lívia
Quase cuspi o café.
— Cecília! Você estava em casa?!
— Aham. Dormindo, ou tentando. O que foi aquilo? Uma maratona erótica intergaláctica? Parecia que estavam encenando um musical pornô!
Heitor
— Droga... desculpa, Cecília. Eu juro que achei que estávamos sozinhos.