Entregas Noturnas
Cecília
A noite estava especialmente morna, com a brisa do mar entrando pelas janelas da casa de Felipe como um convite sutil ao abandono dos filtros. Após o jantar leve e algumas taças de vinho branco, eu caminhei até a varanda para respirar. Estava sentada na espreguiçadeira quando ouvi passos atrás de mim.
— Está fugindo da conversa ou só procurando inspiração? — perguntou Felipe, com aquele tom entre provocador e genuinamente curioso.
— Um pouco dos dois. Gosto do silêncio das ondas.
— Eu também. Mas confesso que essa noite... estou mais interessado no som da sua voz.
Ele se aproximou devagar, como quem respeita o espaço, mas quer entrar nele. Sentou-se ao meu lado, próximo o suficiente para eu sentir o calor da pele dele. O perfume amadeirado, discreto, misturava-se ao ar salgado da praia.
— Posso te perguntar algo sem parecer invasivo?
— Já invadiu. Mas pergunte.
— Você sempre foi assim? Tão forte por fora e... sutilmente misteriosa por dentro