O tempo e os nossos frutos
Narrado por Felipe Castilho
Às vezes eu paro, olho ao redor, e fico em silêncio só pra ver se escuto aquele eco da minha juventude — o cara impaciente, workaholic, sempre com um copo de uísque e um ego que ocupava mais espaço do que deveria. Mas ele não responde mais.
Talvez porque, com o tempo, a gente aprende a ouvir mais o coração do que o aplauso. E o meu coração, hoje, bate por tudo o que construí com a Cecília. Pela Luiza, que faz meu mundo girar com um “papai” manhoso. E por esse bebê que ainda nem nasceu, mas já toma conta do meu pensamento.
Hoje o céu está claro, o ar tem cheiro de grama molhada e tinta infantil — herança do dia anterior, em que nossas crianças transformaram o quintal numa obra de arte viva. Luiza está com os gêmeos na varanda, cada um com um pincel e um balde de tinta lavável. A babá tenta impedir que pintem os próprios rostos. Fracassa. E, sinceramente, nem tento ajudar. Acho que crescer feliz é mais importante do que estar limpo.