VIKTOR— Espero que você tenha sofrido muito. Porque por sua causa, eu ainda estou sofrendo. Espero que essa bala alivie um pouco da minha dor. — Livia diz fria, sem dar a ele a chance de responder.Sem hesitar, ela mira direto na cabeça e aperta o gatilho.— Descanse em paz, meu amor. O filho da puta já tá no inferno. — completa, num sussurro gelado, respirando fundo como quem finalmente se livra de um peso.— Acho que temos um avião pra pegar agora! — Livia diz, olhando pra gente com os olhos ainda marejados, mas cheios de determinação.Voltamos pra casa e começamos a arrumar as malas. Isabella ainda não fala comigo. A vergonha pesa demais, eu vejo nos olhos dela.— Vamos? — pergunto, tentando suavizar o clima.— Você não precisa ir, Vitto… — ela responde, sem coragem de me encarar.Pelo menos, me chamou de Vitto. É um começo.Me aproximo, seguro seu rosto com firmeza, forçando ela a me olhar.— Pra onde você for… eu vou, Isabella. — digo com toda certeza do mundo. Ela precisa enten
ISABELLAVoltar para Nova York salvou a minha irmã. E, de quebra, me salvou também. Pela primeira vez em muito tempo, posso respirar sem sentir culpa, medo ou dor. Três meses. Já fazem três meses que estamos morando na casa do meu pai e da minha madrasta. Mel agora tem 8 meses e anda pela casa feito uma patinha atrapalhada. Ayla e Viktor se divertem às custas dela,dois debochados natos. Livia voltou a trabalhar na empresa, mas ainda evita sair a campo. Eu sabia que ela era mais forte do que pensava. E agora tem uma parceira inseparável: Ally. A coitada até vai ao trabalho com ela. Meu pai está em êxtase com a casa cheia. Até as discussões dele com o Viktor na hora do jantar viraram comédia.Mamãe e Guilherme voltaram para a Itália há um mês, só porque Livia implorou. Mamãe estava no modo “protetora em tempo integral”. Mesmo longe, liga todo santo dia pra cada um de nós. E eu sei,que se puder, vai vir duas vezes por mês só pra ver com os próprios olhos como estamos. Ela e a Mel se torn
Viktor— Viktor, tá na hora de você voltar. — Ivan diz, sério, cortando o silêncio com sua voz firme. — Minha sobrinha já está melhor. Precisamos de você aqui.— Escócia tá sob controle... por enquanto. — Nikita assume, com aquele tom desconfiado de sempre. — Mas não confiamos nem um pouco no novo chefe. Ele tá se fazendo de aliado, mas é igualzinho o resto: cobra venenosa. Como a Isabella sempre diz.— Duncan é sobrinho daquele monstro. Diz que odeia toda a família, que quer mudança... Mas eu só acredito vendo. — falo, seco, lembrando das palavras dele na videoconferência. Palavras bonitas, cheias de promessas, mas vazias até que se provem reais.— Exato! Então, irmão... vai ter coragem de dizer que vocês precisam voltar ou quer que eu mande umas fraldas e lenços umedecidos pra você não se borrar todo? — Nikita provoca, rindo.— Nossa, que prestativo. Vou seguir seu exemplo e te mandar umas pomadas pra assadura. Deve estar todo esfolado. — rebato, sério, mas com aquele veneno na voz.
ISABELLAA entrada do condomínio me engole com lembranças amargas. “Isabella, não deixe que o medo te paralise.” Ouço a voz da minha terapeuta ecoando na mente, como um mantra. Sinto Viktor apertar minha mão, transmitindo força silenciosamente. Olho para ele,meu marido, meu porto seguro. Me observa como se pudesse enxergar até minha alma. Sei que, se dependesse dele, ainda estaríamos em Nova York. Mas não podemos fugir para sempre.Temos deveres. Responsabilidades com nossa família... e com a máfia russa.A dor ainda mora em mim. Nosso pátio, nossa casa, aquele dia... foi cruel. Mas fugir não vai me curar. Eu repito mentalmente o que aprendi: encarar a dor é o único caminho.— Está pronta, minha vida? — ele pergunta, tentando esconder a preocupação no olhar.— Sim. Podemos entrar — respondo, firme, mesmo que por dentro eu ainda vacile.Marcello respira fundo e dirige condomínio adentro. Maurício está tenso ao meu lado, ele também tem fantasmas desse lugar. Foi ele quem me protegeu naq
VIKTORA votação foi unânime. Pavel agora faz parte do conselho da máfia russa. Todas as ordens de Ivan são lei, e meu papel é guia-lo nas decisões e garantir que elas sejam seguidas. O conselho, porém, serve como o “freio da diversão”, como eu e meus irmãos chamamos, uma tentativa falha de manter a Rússia dentro dos limites do caos.Deixei minha esposa em casa terminando de montar o quarto das meninas. Participei de tudo, claro, mas agora ela tá decidindo se o cobertor de bolinhas ou o de ursinhos é mais quentinho pro inverno. Isso é trabalho pro Mauricio, o médico e babá não-remunerado das nossas filhas. Marcello também ficou pra ajudar com as coisas no alto das prateleiras. Eu ainda morro de ciúmes da minha mulher com esses dois, mas sei que não oferecem perigo. Agora, o babaca do Joshua… esse desgraçado aparece com a desculpa de “visitar” minha esposa e não tira os olhos dela. Se diz irmão, mas olha como se quisesse arrancar a roupa dela com o olhar. Filho da puta.Chego na empres
ISABELLATiros. Gritos. O cheiro de pólvora no ar.Estou agarrada à minha mãe, chorando desesperada. Meu coração bate tão forte que parece querer rasgar meu peito. Por que isso está acontecendo? Por que querem nos machucar?A porta é arrombada com um estrondo que ecoa por toda a sala. Um homem surge na entrada.— Te achei, sua desgraçada — ele rosna, o sotaque estranho tornando suas palavras ainda mais aterrorizantes.Ele aponta a arma para mim, um sorriso macabro no rosto. O som do disparo explode nos meus ouvidos.— ISABELLA! — O grito da minha mãe é a última coisa que escuto antes da escuridão me engolir.Acordo ofegante.O despertador toca ensurdecedor ao meu lado. Meu coração ainda está disparado, e a sensação horrível do sonho persiste. De novo, esse pesadelo. Se eu contar para minha mãe, ela vai dizer que minha imaginação é fértil demais. Mas por que isso parece tão real?Sacudo a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Hoje é o primeiro dia do último a
ISABELLA Entramos no avião. Minha irmã se senta ao meu lado, os olhos fixos em nosso pai, esperando,não exigindo,uma explicação. Quando percebe que ele não diz nada, ela explode: — E então? Vai explicar que merda está acontecendo ou temos que implorar? — Livi nunca teve paciência para rodeios. Nosso pai solta um suspiro pesado. Seu olhar carrega um peso sombrio, como se estivesse prestes a abrir uma ferida que nunca cicatrizou. — Eu vou contar tudo. Vocês merecem saber a verdade. O silêncio que se segue é ensurdecedor. — Há vinte e dois anos, sua mãe fugiu do país onde morava, Rússia.Seu avô… — ele hesita, escolhendo as palavras com cuidado — é um homem cruel e detestável. Ele queria obrigá-la a se casar com um velho de setenta e cinco anos, ainda mais asqueroso que ele. Meu estômago revira. — A única alternativa dela foi fugir. Um soldado infiltrado do meu pai, que é o chefe da máfia nova iorquina, a ajudou a escapar. Trouxeram Melissa para a América, onde ela ficou s
ISABELLA Pousamos no Queens no meio da madrugada. O sono pesava, mas o frio na barriga falava mais alto. No momento em que descemos do avião, carros enormes e blindados já nos esperavam. Meu pai e meu tio saíram cumprimentando aqueles homens com tanta empolgação que até parecia reencontro de novela mexicana. Assim que entro no carro, faço questão de me certificar de que estou em um diferente de dona Melissa. Ainda não estou pronta para falar com ela. E se eu entrar no mesmo carro, vai que ela tenta puxar assunto? Prefiro evitar o risco. Nem percebo o tempo passar, só noto que chegamos quando os carros param. Olho pela janela e me deparo com um condomínio imenso: quatro mansões enormes e várias casas germinadas ao redor. O carro estaciona em frente à maior delas. Parece coisa de filme. Antes mesmo de absorver a grandiosidade do lugar, noto uma movimentação na porta da casa. Uma senhora sorridente surge acompanhada de um senhor elegante. — Vovó! Vovô! — Eu e meus irmãos gritam