Intenso demais para você
Intenso demais para você
Por: Bhia Pear
Capítulo 1 - Que seja intenso o meu caminhar

"Quando as coisas parecem perfeitas, mas só parecem. Você tem que fazer uma escolha, ainda que essa escolha pareça errada, você a faz. Sem saber ao certo, onde essa escolha a levará. Se a vida de todo mundo é feita de escolhas, a minha não se torna diferente. Sigo, acreditando que tudo há seu tempo, se resolverá, mesmo porque, se faz necessário rever velhas feridas, para que seu futuro seja no mínimo menos intenso que seu passado. Aprendi que muitas vezes, para uma ferida cicatrizar é necessário retirar a crosta antiga, cuidar, zelar para que o processo de cura aconteça. Mas quem disse que estamos preparados para esse processo?!? Infelizmente, nem todas as coisas dependem exclusivamente de você, daquilo que você acha certo, daquilo que você acredita ser justo.

Nem sempre aquilo que lhe é acrescentado, é algo que lhe faltava. Nem sempre você consegue abrir mão, porque nem tudo se resume a você.

Mas isso é viver, isso é continuar, isso é caminhar; mesmo em meio a tantas novidades, mesmo em meio há tantas mudanças, mesmo em meio a sua própria vontade.

Por mais que eu não queira, preciso deixar com que as peças se encaixem, mesmo que essas peças não me façam a menor falta, preciso permitir que estas encontrem seu lugar em minha vida, mesmo alheia a minha vontade.

Há situações que precisamos deixar com que sigam, para que assim ao menos, você se encontre em algum momento. Nem tudo fará sentido nessa jornada, nem tudo seguirá uma lógica esperada, nem tudo será o que parece, nem tudo é sobre o que você espera ou acredita.

Isso é seguir em frente, isso é prosseguir, isso é dar continuidade, isso é continuar, continuando! Mesmo que você tenha que se reencontrar, se reinventar, se reescrever. E se viver é isso, que seja intenso, o meu caminhar"

...

Quem disse que toda decisão bem tomada é fácil. Tal afirmação é um consolo hipócrita. Pois nem sempre será fácil escolher, em meio aquilo que você nem esperava viver.

Acreditei que me abrindo de verdade, conseguiria ao menos sua compreensão, e no final sua aceitação, mesmo que os caminhos até aqui trilhados não tenham sido os mais simples, acreditei que tudo ficaria bem.

Mas me enganei!

Criei tanta expectativa quanto a tudo isso, para no final não ser nada do que eu esperava.

Jamais me vi vivendo uma situação dessa, nunca passou pela minha cabeça que estaria me sujeitando a um momento como esse.

Como pude baixar a guarda dessa forma, sempre fui tão aquém do que se esperava, sempre levando a razão acima da emoção e sentimentos.

Como me tornei alguém tão comum, tão normal, tão fraco?!?

Já busquei com todos que poderiam me dizer onde ela está, mas ninguém sabe.

Parece que foi engolida pela terra!

Fico sem saber como fazer, mas estou atordoado sem ter nenhuma notícia dela.

Cogitei pedir a Eduard que realizasse uma busca, mas pensei melhor, não seria certo pedir a um de seus amigos que vasculhasse sua vida.

Bom, ao menos nesse primeiro momento. Pois não descarto qualquer alternativa, para encontrar essa mulher.

Ela fez menção de alguns dias, mas isso já foi há uma semana, no entanto, ainda assim, são alguns dias, mesmo que para mim pareça uma eternidade.

Que saco!

Droga, definitivamente não sei lidar direito com o tempo, essa é a merda!

Como fui burro, deveria ter previsto que minha atitude poderia assustá-la, pela primeira vez em minha vida, decido fazer o que meus sentimentos me pedem e olha o que dá.

É um inferno!

Um cara como eu não comete erros idiotas assim, sempre fui tão centrado, por saber que os sentimentos só trazem problemas.

Sempre corri dessa coisa de amor, de ter alguém, de relacionamento, mas agora estou aqui atormentado por uma mulher que simplesmente sumiu!

A merda de não ter domínio sobre as coisas, não é algo que eu consiga lidar com tanta facilidade.

Essa coisa toda que sinto, me deixa muito aquém do cara que costumo ser. Nunca deixei meus sentimentos levarem vantagem, mas agora, aqui estou eu, refém deles!

É uma grande e tremenda… merda!

Não adianta eu ficar aqui me auto analisando, como se me interrogando assim, fosse resolver alguma coisa.

Pior, nem sei o que fazer, não sei como lidar com essa novidade toda, não sei na verdade… mais nada!

A única coisa certa, e que preciso descobrir ao menos onde ela se meteu e depois disso, penso no que vou fazer. Mesmo porque, agora não tenho ideia alguma de tudo isso e me olhando assim, pareço um daqueles sentimentalóides que tanto já tirei sarro em outros tempos.

“Que merda Stela, onde foi que você se meteu MULHERRR!!!”

Porque não fui mais devagar?

Porque não esperei um pouco mais?

Fui tomado pela emoção, essa é a verdade. Não estava esperando encontrá-la assim e quando vi, já estava indo contra tudo o que haviamos combinado.

Fui muito burro, precipitei demais as coisas.

Ela não é como as outras mulheres, merda!

Como fui tonto, acabei colocando tudo a perder!

Poderia ter ganho um pouco mais de tempo, poderia ter investido em estar mais próximo dela, poderia ter feito tudo de uma maneira mais tranquila, mais suave.

Mas não, agi sem pensar e com isso, posso ter colocado tudo a perder.

É uma merda!

Mas agora, preciso deixar isso um pouco de lado, se não irei enlouquecer, se é que já não estou enlouquecendo.

Mesmo com ela povoando minha mente, mais do que desejava, preciso seguir, ao menos tentando trabalhar.

Uma vez que tenho muito o que fazer e meus dias, como todos sabem, não são tão simples assim.

Preciso focar nas responsabilidades que carrego, mesmo com essa nuvem sobre minha cabeça, estava tudo indo bem, tudo caminhando para tornar nossos dias incríveis. Agora isso!

Mas minha agenda não pode esperar, os compromissos não irão simplesmente desaparecer, pessoas dependem de mim, famílias dependem de mim.

Mesmo sem nenhuma vontade, a responsabilidade fala mais alto e com isso, preciso agir, pois não posso continuar refém da sua ausência…

....

“Bom dia Vitor, me leve para casa!”, disparo, assim que me aproximo dele no aeroporto, entrego minha mala a ele e nem espero que abra a porta do SUV para mim.

Olho para meu telefone desligado, será que minha escolha é a mais certa?!?

Olhando para minha vida, sim é!

Uma vez que tenho uma história pendente com meu passado. É hora de rever algumas coisas e colocar todas as cartas na mesa.

Já adiei demais e chegou a hora de tomar as rédeas dessa parte da minha história. Mesmo não fazendo ideia do que vem pela frente, preciso mudar as coisas para o meu bem.

Retiro o aparelho que até pouco tempo nem queria utilizar e realizei uma ligação.

“Aconteceu alguma coisa, Stela?”

“Ah, para!!! Desde quando se preocupa comigo Albert?”

Albert Noan, meu tutor, responsável pelo meu espólio e gerenciamento de tudo o que infelizmente herdei.

“Não fale isso! Me preocupo sim, mas infelizmente você não acredita!”

“Será que é porque, você sempre se coloca a favor dos meus parentes mortos?!?", respondo.

“Você quer dizer, seus avós! Se os conhecesse, saberia que tomaram a decisão certa!”

“Decisão esta que pouco importa minha opnião, decisão esta, que me faz refém de algo que eu nunca quis!”

“Decisão esta Stela, que a manterá bem amparada até o fim dos seus dias e até mesmo por gerações”

“Albert chega! Sempre discordamos quanto a isso. Você sempre será fiel a eles e ponto!”

“A você também sou fiel!”, ele rebate.

“Um dia quem sabe, acabo acreditando nessa mentira que tanto você faz questão de afirmar. Mas por hora, estou a caminho da minha casa, deixe todos avisados da minha chegada. Providencie tudo a respeito da situação que deixei para que você cuidasse”

“Essa sim, é uma excelente novidade! Quanto tempo irá ficar dessa vez?!?”

“Não interessa! Como sempre te lembro, você é pago para cuidar das coisas para mim, não da minha vida!”

“Como quiser! Mas alguma coisa?”, me pergunta Albert, ignorando meu show de cavalice.

“Sim, sem alarde algum, como sempre! Quero seguir como um fantasma! Espero não ter surpresas, como dá ultima vez que por pouco, não descobriram quem eu era de verdade”

“Eu mesmo montei dessa vez sua equipe de segurança, tomei todo o cuidado para que tudo saia sempre da maneira que espera. Da última vez, a incompetência da equipe contratada, encarregada pela sua estadia, foi demais até mesmo para mim!”

“É o mínimo que espero!”, rebato.

“Pode deixar!”

E assim finalizo a ligação.

Minha paciência está cada vez menor, preciso começar a tomar cuidado, ninguém tem culpa das coisas que me acontecem, não preciso ser tão rude assim com os outros, mesmo que esses outros, sejam o Albert!

Pronto, agora é procurar terminar as coisas por aqui. Porque na realidade, não sei o que fazer da minha vida de verdade!

Se quer saber, não, não foi fácil sair da casa do Lucas, depois da noite maravilhosa que vivemos.

Tudo foi mais que perfeito!

Mas neste momento não posso dar a Lucas o que ele quer.

Não agora!

Sei que estou completamente apaixonada por ele, mas tenho esse meu passado mal resolvido.

Que droga!

Quando me vi sozinha, sem ninguém, pensei comigo, agora é hora de cuidar de mim à minha maneira.

E quando tudo estava indo bem, sou surpreendida por uma convocação de comparecimento com dia e hora marcada, o documento dizia apenas que era para legitimação de bens.

Pensei naquele momento, o que meu avô aprontou, pois fazia pouco tempo que havia falecido. Sem muita escolha, pois presumi que era algo que tinha relação com meu avô e acabei indo até o endereço informado.

Me lembro como hoje, cheguei no local vinte minutos antes do horário marcado e claro, o prédio era imponente, me lembro de ter passado por ele algumas vezes e até com meu avô ao lado. E em uma dessas vezes comentei como achava a fachada do prédio deslumbrante, imponente, lindo! Lembro dele não dando muita atenção para meu comentário, até estranhei, porque era algo que gostávamos de ver juntos, as fachadas suntuosas e suas magníficas construções, imaginar como foram construídas, era um passatempo maravilhoso nosso.

Meu avô sabia muito sobre muitas construções da cidade, mas logo este prédio, ele fez questão de não dar muita atenção.

Achei estranho, mas deixei para lá.

Caminhei até a recepção luxuosa por sinal, não poderia ser menos para aquele prédio, me apresentei e fui orientada a que andar deveria ir e a quem me dirigir.

Quando o elevador anunciou meu andar ao descer, havia uma moça simpática me aguardando.

“Bom dia senhorita Stuart, sou Elizabeth James, por aqui por favor, Senhor Storn a espera”

A comprimentei e seguimos até onde esse senhor me aguardava.

Adentramos a uma sala muito bem mobiliada, magno para todos os lados que olhasse, havia uma mesa de escritório ao lado direito e no lado esquerdo havia um conjunto de sofás em couro e mais ao canto uma mesa de reunião.

Um senhor grisalho levantou-se da mesa em que estava e caminhou em nossa direção assim que adentramos a sala.

“Bom dia, senhorita Stuart!”, e dizendo isso, estendeu a mão para me comprimentar.

"Sou Ronald Storm, advogado e testamenteiro, representante legal da sua família”

“Bom dia, senhor Storn! Só não entendi o que meu avô aprontou, mesmo porque, achei que haviamos cuidado de tudo logo que minha avó faleceu. Ele me persuadiu a ajudá-lo, mesmo contra minha vontade”

“Bem, sente-se aqui por favor”, me indicou um lugar à mesa de reunião.

"Posso lhe servir algo, suco, água, café?”

“Agua seria excelente!”, respondi.

“Elizabeth, providencie dois copos de água, por favor. E providencie também as pastas que mais cedo lhe pedi”

“As pastas senhor Storn já estão aqui, deixei sobre sua mesa, vou providenciar a água. Algo mais?”, perguntou.

“Excelente!... Não, obrigado Elizabeth!”

E assim Elizabeth saiu nos deixando sozinhos.

Percebo que o senhor Storn me olhava, sem disfarçar que estava me avaliando ou algo parecido. Fico sem graça, quando fazem isso, mas o que posso fazer, mais essa para a coleção das graças que meu avô possivelmente me aprontou. Pois não faço a mínima ideia do que estou fazendo aqui, essa é a verdade.

“Senhorita Stuart, só estamos aguardando a chegada de mais uma pessoa, para que eu possa lhe explicar o motivo da senhorita estar aqui”, e acabando de dizer isso Elizabeth b**e a porta, adentrando a sala acompanhada de um homem alto, aparentando um pouco mais 40 anos, muito bem arrumado e bem afeiçoado.

Ele caminha até onde estamos e com um sorriso enorme no rosto, senhor Storn o comprimenta com um caloroso abraço, demonstrando o carinho de velhos e bons amigos.

“Ronald meu amigo, bom reencontrá-lo!"

O Senhor Storn retribui com a mesma alegria de velhos e queridos amigos.

“Digo o mesmo Albert, só assim para rever os amigos!”

“Ah, Ronald não fale isso, a menos de um mês te mostrei o que é jogar sinuca de verdade com aquela minha jogada inesperada”

“Pode parar Albert, aquilo ali não dá para ser chamado de jogar, meu amigo!”

E os dois caem na risada, parecem mesmo velhos e bons amigos, só não entendo o que eu estou fazendo na companhia dos dois, pois não me lembro de os conhecer.

E parecendo ler meus pensamentos, senhor Storn se antecipa a me apresentar ao seu amigo.

“Albert, deixe-me apresentar a senhorita Stela Stuart. Senhorita Stuart este aqui é Albert Noan”

Estendendo minha mão para cumprimentar o homem à minha frente, que demonstra alegria ao me ver, parece até surpreso!

Estranho, não me recordo de conhecê-lo e nem seu nome me é familiar.

O que meu avô deve ter feito, pois não tenho lembrança alguma, de ter ouvido falar de nenhum dos dois.

“Senhorita Stuart já poderemos começar, era Albert que estavamos esperando”

O Senhor Storn mostra o lugar ao qual o senhor Noan deve se sentar e logo pega as pastas que anteriormente Elizabeth entregou.

Percebo que o senhor Noan não tira seus olhos de mim e isso começa a me incomodar, mesmo porque, seu olhar não é nada agradável.

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