Miguel nĂŁo se moveu quando Melina atravessou as portas automĂĄticas. Ficou parado, estĂĄtico, observando o vazio deixado por ela como se o ar ao redor tivesse perdido o cheiro de perfume e ganhado o peso de algo irreversĂvel.
Seu maxilar estava travado. As mĂŁos cerradas.
Ela ousou. E ele amava quando ela ousava.
Mas odiava ainda mais quando ela o desafiava.
Andou até a parede de vidro que dava para a avenida. De lå, viu Melina entrando em um carro preto, os vidros escurecidos refletindo o céu nublado. O salto dela soava em sua mente como um eco de guerra. Uma marcha silenciosa. Uma despedida que ele não permitira. Não ainda.
Encostou a testa no vidro frio.
âLembranças, filha da puta de palavra.â
Era o que Melina sempre dizia quando queria fugir de si mesma.
E agora era ele quem se afogava nelas.
Eles se conheceram na universidade.
Ela tinha vinte e dois. Ele, trinta e cinco. Era um ex-aluno convidado para palestrar sobre mercado financeiro e estratégias de investimento. Miguel lembrava