A tropa vai se preparando l.
Narrado pela Alexia
A Rocinha parecia respirar guerra. Cada viela, cada barulho de moto, cada rádio chiando... era como se o morro tivesse em estado de alerta eterno. Mas ali, naquela noite, era só eu e ele.
O Rael chegou em casa por volta das duas da manhã. Olho vermelho, roupa suja, e o cheiro da rua grudado na pele. Mas o olhar... ah, o olhar ainda era meu.
— Tá tudo bem? — perguntei, já indo pegar a toalha no banheiro.
Ele só assentiu com a cabeça e deixou o fuzil encostado na parede, como quem larga o peso do mundo por alguns minutos.
— A tropa tá firme. Mas o Treloso... sumiu. Tá tramando alguma coisa. Não podemos dar mole agora.
Eu abracei ele por trás, mesmo com o cheiro de pólvora.
— E você? Tá firme?
Ele se virou devagar, me encarando com aquele olhar sério que só ele tem. Mas dessa vez, vi algo ali que quase nunca aparece: cansaço.
— Tô tentando, Lexa. Tô segurando esse morro com as duas mãos. Mas às vezes parece que vou afundar junto...
— Você não vai. — interrompi, firme.