Com o olhar sério, sem demonstrar nenhuma empatia, o homem à frente do casal pôs-se a se pronunciar:
— Olá! O meu nome é Gean. Trabalho como segurança do senhor Gabriel William. O meu patrão está do lado de fora, dentro do carro, solicitando a presença dos dois — falou o segurança, pondo-se de pé e olhando para os dois à sua frente. — Perdão, mas não podemos sair daqui agora — respondeu o senhor Bento, com os olhos franzidos. — Pelo bem da filha de vocês, acho melhor irem — relatou Gean, sem nenhuma preocupação na voz. — O que tem a minha filha? — Emília o encarou com os olhos arregalados. — Não sou eu quem vai lhe responder, senhora. E sim, o meu patrão. Sem esperar resposta, Gean saiu do restaurante. Bento olhou para sua esposa, que aparentava angústia. E, sem saída, seguiram para fora do estabelecimento. Do lado de fora, Gabriel olhava para frente, o semblante cansado no rosto. Com uma voz desafiadora, simplesmente disse, sem olhar para os dois: — Entrem no carro! Emília encarou o esposo e apertou o braço dele. Estava com medo, mas preocupada com sua filha. Sabia perfeitamente quem era Gabriel William. E sabia de sua natureza rude. O que o dinheiro e o poder não fazem, não é? Ninguém, hoje, nessa cidade, foi louco o suficiente para enfrentar o tão frio e calculista Gabriel. Gean abriu a porta do carro, indicando para Bento sentar atrás, junto de Gabriel. E Emília à frente, com o motorista. Com os dois no carro, o motorista deixou o local. Gean entrou no carro dos companheiros atrás e seguiram o carro do patrão. O silêncio reinava no carro. Emília estava apreensiva no banco da frente, não conseguia olhar para nenhuma direção. Em sua cabeça, só vinha a imagem da filha, e o medo do que poderia ter acontecido com ela. Bento ficou ali, olhando atentamente para a esposa ao lado do motorista. O medo de que o homem pudesse fazer algo à sua amada esposa tomou conta de si. Já Gabriel mantinha sua postura ereta, uma bengala entre as pernas, com as duas mãos postas sobre ela e um olhar sombrio nos olhos. Chegaram a um grande prédio, o mais alto de todos ao redor, com um grande "W" no topo. Os seguranças do carro de trás estacionaram, e Gean saiu indo na direção do patrão, abrindo a porta para que ele saísse do veículo. Logo abriu a porta para Emília e lhe estendeu a mão para ajudá-la a sair. Bento saiu do carro e apressou os passos até sua esposa. Gabriel começou a andar na frente dos dois, com a postura ereta e a bengala ajudando-o a se equilibrar. Os seguranças atrás de Bento e Emília os fizeram acompanhar. Na porta de entrada, dois seguranças tão grandes quanto Gean reverenciaram-se ao homem, que nada fez além de passar por eles como se não os tivesse visto. Já dentro do prédio, as pessoas pararam no mesmo instante o que faziam e se mantiveram de pé, reverenciando-o como os seguranças na porta. Gabriel seguiu com sua postura superior até a porta do elevador, que já se encontrava aberta à sua espera, graças à moça que, já preparada, o chamou. Gabriel entrou, e Gean, junto de outro segurança, entrou na companhia de Bento e Emília. A porta do elevador se fechou e os levou até o último andar: quadragésimo segundo. Assim que a porta foi aberta, e sem esperar por ninguém, Gabriel saiu e seguiu na direção da última porta do corredor. Já na sala — uma sala enorme e muito bonita — Gabriel sentou-se confortavelmente em sua poltrona almofadada e deu a ordem para que Emília e Bento se sentassem nas poltronas à sua frente. — Sou um homem que gosta de ir direto ao ponto. Então, sem meios termos: sua filha está sob o meu poder. Gabriel foi interrompido por Emília, com um choro desesperado que ecoou pela sala. — Quanto antes resolvermos, melhor — falou Gabriel, sem emoção e com uma pitada de raiva. — O que você pretende sequestrando a minha filha? Pelo amor de Deus, ela é o nosso bem mais precioso! Bento falou enquanto abraçava sua esposa, tentando consolá-la. Mas também se encontrava desesperado. — Quero que a filha de vocês se case com o meu filho — respondeu Gabriel. — Como é? Mas que absurdo é esse? Bento alterou a voz, encarando Gabriel com raiva. Já Emília olhou para o esposo em espanto. Gabriel colocou sobre a mesa o celular que estava em sua mão. A imagem na tela mostrava Ana amarrada a uma cadeira, com os olhos vendados. Emília se apavorou ao ver a imagem no celular do homem, e as lágrimas despencaram novamente de seu rosto. Já Bento se levantou de seu lugar e quis partir para cima do mais velho, mas foi impedido pelo segurança Gean. — Vou falar só uma vez. Ou vocês assinam o contrato que lhes darei, permitindo que a filha de vocês se case com o meu filho, ou, do contrário, nunca mais a verão. Bento se sentou e colocou as mãos nas têmporas. Emília, ainda em meio ao choro, disse: — Por que você está fazendo isso com a minha filha? Tenho certeza de que poderia arrumar outra moça para seu filho. Uma moça que até estivesse à altura de vocês. Somos pobres! Ana não seria uma boa nora para você. — Eu julgo quem será boa ou não para o meu filho. Agora, se eu fosse vocês, assinava logo esse documento. Como podem ver, não têm outra opção — Gabriel os olhou com frieza, e sua voz saiu rude. — Tenho uma escolha, sim. Posso muito bem ir até a polícia e contar a eles que sequestrou minha filha! — respondeu Bento, já sem paciência. — Faça isso! E eu garanto que nunca mais verão a filha de vocês. — Bento, por favor! Eu não posso perder a minha filha. Acho melhor concordar com ele. Você sabe como ele é. Emília olhou no fundo dos olhos do marido, enquanto dizia essas palavras com os olhos cheios de lágrimas. — E o que será da Ana, se concordarmos com isso? E se ela nunca nos perdoar? — respondeu Bento, em forma de pergunta. A essa altura, seus olhos já lacrimejavam. — Ela vai nos perdoar. Mas não podemos arriscar que eles machuquem a nossa filha — Emília voltou o olhar para Gabriel à sua frente. — Nós assinamos o documento. Mas quero saber primeiro: por que minha filha? E quem é o seu filho?