A biblioteca sussurrava em tons de papel antigo e madeira polida. O aroma de livros velhos e café requentado pairava no ar, uma mistura familiar e reconfortante para Luna Navarro. Enquanto o burburinho abafado de conversas acadêmicas ecoava ao fundo, ela se afundava cada vez mais em sua pesquisa, o lápis deslizando pelo caderno com anotações rabiscadas em sua caligrafia apertada.
A mesa diante dela estava coberta por livros pesados de teoria literária, folhas destacadas com marcações coloridas e uma xícara de café frio esquecida ao lado do cotovelo. Ela mordia o lábio inferior, franzindo o cenho ao reler uma passagem densa sobre narrativas não-lineares. Ali, cercada por histórias e silêncio, Luna se sentia invisível. E gostava disso. O mundo ao seu redor podia girar em ritmo acelerado — os corredores lotados, os dramas universitários, a euforia dos jogos de hóquei que faziam a faculdade inteira vibrar — mas, naquele espaço entre estantes e conhecimento, nada disso importava. Ou pelo menos era isso que ela pensava. Porque o caos, às vezes, vinha na forma de um furacão de 1,90m de altura, olhos verdes intensos e um sorriso que prometia encrenca. O estrondo veio primeiro. O som de passos apressados, uma colisão repentina e, então, o impacto. Luna sentiu o ar escapar dos pulmões quando um corpo quente e firme bateu contra o seu, empurrando-a contra a mesa. Os livros que segurava voaram, espalhando-se pelo chão como folhas ao vento. O choque a deixou tonta por um instante, e ela levou alguns segundos para processar o que havia acabado de acontecer. — Ei, cuidado! — exclamou, o coração acelerado. O peso contra seu corpo recuou ligeiramente, e foi então que ela o viu. Damian Hayes. O nome que fazia metade da faculdade suspirar e a outra metade se encolher sempre que ele passava. Capitão do time de hóquei, ídolo local, garoto-propaganda da competitividade e arrogância na dose certa. Ele estava ali, parado bem à sua frente, com um meio sorriso desenhado nos lábios cortados — provavelmente de algum treino mais agressivo. Os olhos verdes analisavam-na com diversão, como se não se importasse nem um pouco por ter acabado de atropelá-la. — Você sempre anda sem olhar pra frente, ou foi só uma desculpa pra esbarrar em mim? — Ele arqueou uma sobrancelha, inclinado ligeiramente para perto. Luna sentiu o rosto esquentar, mas forçou-se a manter a compostura. — Você que surgiu do nada feito um trem desgovernado — resmungou, abaixando-se para recolher os livros espalhados. Damian agachou-se ao lado dela, pegando um dos volumes caídos. Ele virou o livro nas mãos, lendo o título com uma expressão zombeteira. — “Teoria Literária e a Construção da Narrativa”? Sério? Isso é uma tortura, não um livro. Ela estendeu a mão, pegando o livro bruscamente. — Algumas pessoas gostam de usar o cérebro. Ele riu baixo, claramente achando graça. — Interessante. Mas me responde uma coisa… você já foi a um jogo de hóquei? Luna franziu a testa. — O quê? — Um jogo de hóquei. Você já assistiu a um? Ela bufou, colocando os livros sobre a mesa e cruzando os braços. — Não. E não pretendo. O sorriso dele se alargou, como se aquilo fosse um desafio pessoal. — Está perdendo. Quem sabe eu não consiga te convencer do contrário? Luna revirou os olhos, pegando seu caderno e a xícara de café frio. — Difícil. Mas boa sorte tentando. Ela se virou para ir embora, sentindo o olhar dele queimando em suas costas. E Damian? Ele apenas sorriu, balançando a cabeça como se já soubesse que aquela conversa estava longe de acabar. Porque pela primeira vez, ele queria ser notado por alguém que fazia questão de não olhar para ele. E Luna sabia, em seu íntimo, que aquele encontro não havia sido mera coincidência. Era apenas o começo. ⛸️🏒📖❄️