O uivo de Jasmine ecoava pela floresta como um feitiço ancestral. Por alguns segundos, tudo pareceu em equilíbrio: os três lobos sob a luz da lua, o vento correndo entre as árvores, o mundo em silêncio. Mas como toda harmonia frágil, aquele momento não duraria para sempre.
A loba branca foi a primeira a desacelerar, sua respiração controlada, o olhar atento à linha das árvores. Ela caminhou até o centro da clareira, onde a relva era mais baixa, e ali, com um suspiro quase humano, deu início à transformação de volta. Sua forma humana se recompôs com naturalidade — um dom herdado de gerações de Alfas bem treinados. Logo, Jasmine estava de pé, cabelos loiros desgrenhados pelo vento, os pés descalços tocando o chão frio.
Namael veio logo em seguida. Seu lobo recuou com um último olhar protetor em volta, e então, com a mesma disciplina silenciosa, ele retornou à forma humana. Sua expressão era calma, mas os olhos prateados estavam atentos, como se soubessem que algo havia mudado no ar. Com um estalar de dedos e um brilho suave nos olhos, ele invocou roupas para Jasmine e para si mesmo — camisetas escuras, jaquetas de couro leve, calças firmes. Tudo prático, discreto.
Naveen, por outro lado, demorou. Seu lobo relutava. Havia uma parte dele que preferia ficar ali, onde não precisava controlar os próprios impulsos. Mas, com um rosnado interno, ele se obrigou à transformação. Quando voltou à forma humana, seus olhos âmbar ainda carregavam o brilho indomado da fera.
— Demorou — Namael disse, o tom neutro demais para ser inocente.
— Eu aprecio a liberdade — Naveen rebateu, cruzando os braços, a respiração ainda pesada. — Nem todo mundo gosta de seguir comandos.
O feitiço de Namael se ativou de novo, invocando roupas para Naveen. A jaqueta surgiu nos ombros dele antes que pudesse recusar.
Jasmine cortou o silêncio, colocando-se entre os dois com um olhar firme.
— Já deu, vocês dois. A noite estava boa demais pra estragar agora.
Ambos desviaram o olhar, mas nenhum respondeu. Era sempre assim. Tensão como eletricidade estática. Tão antiga quanto o vínculo que nunca aprenderam a aceitar.
Foi então que o vento mudou.
Namael virou o rosto para o lado leste da floresta, os olhos estreitando.
— Sentiram isso? — ele perguntou, a voz mais baixa agora, cautelosa.
Jasmine franziu o cenho, instintivamente puxando a energia ao redor com os sentidos do lobo ainda pulsando sob a pele. Um cheiro novo — ou talvez velho demais — flutuava pelo ar. Madeira queimada. Sangue seco. Magia fraca.
Naveen inspirou fundo e rosnou baixinho.
— Isso passou da barreira. Não devia estar aqui.
A floresta onde estavam era protegida por um antigo feitiço lançado por Alec e reforçado por Lorenzo. Nenhum caçador, lobo ladino ou criatura corrompida conseguia cruzar aquele território sem ser repelido ou notado. Mas algo havia escapado.
— Vamos dar uma olhada — disse Namael, sério agora. — Fiquem perto.
Eles avançaram em silêncio, as folhas rangendo sob os pés. Não demorou até encontrarem os primeiros sinais.
Uma marca na árvore — uma garra irregular, selvagem, mais larga que a de qualquer lobo comum. Não era recente. Mas também não era velha o suficiente para ter sido esquecida pela magia da floresta.
Mais à frente, entre os arbustos, havia uma peça de roupa rasgada e suja de sangue. Algo humano.
— Isso é sangue de lobo — sussurrou Jasmine, os olhos arregalados.
— Não é nosso — murmurou Naveen, se agachando ao lado da peça. — E não é de caçador também. Isso foi uma luta. Briga de território. Ou pior.
Namael se abaixou, pousando a mão sobre a terra. Seus dedos brilharam por um segundo, invocando uma leitura rápida da energia residual.
— Tem magia aqui. Escura. Muito fraca, mas... não é da floresta. É de fora.
O silêncio que se seguiu foi pesado. Os três sabiam o que isso significava.
A barreira tinha sido violada. Alguém — ou algo — passou.
E agora, a floresta que antes os acolhia, sussurrava perigo.