Evie Ashford, com 26 anos, sempre teve tudo sob controle: um casamento apaixonado, uma carreira bem-sucedida e uma herança que a tornou a CEO da Majestic Ashford Resort & Hotels. Mas quando um trágico acidente a deixa temporariamente cega, sua vida vira um caos. Em meio à escuridão, seu marido, Sebastian Morgan, assume o controle de tudo, alegando protegê-la enquanto seus próprios motivos permanecem ocultos nas sombras. Em um mundo onde confiança é um luxo perigoso, Evie precisará decidir em quem pode realmente confiar — ou se ela deve confiar apenas em si mesma.
Ler maisRespiro fundo, ajustando o vestido Valentino azul royal em frente ao espelho antes de pegar a bolsa de mão e me virar para sair do quarto. Meu estômago se revira a cada passo, reclamando com a expectativa da noite que está por vir. Ao descer as escadas, encontro Sebastian Morgan, meu marido, digitando algo em seu celular. Alto, com cabelos loiros, um sorriso cativante e, o principal: meu. Com um sorriso bobo, me aproximo.
— Estou pronta, meu am…
— Não falei para você ir com o vestido vermelho? — Sebastian me interrompe, lançando um olhar avaliador enquanto guarda o celular no bolso.
— Sim, falou, mas esse combina mais com o ambiente. Está ruim?
— Não, querida — ele diz, finalmente segurando minha mão para me guiar até a saída da nossa casa. — Mas precisamos brilhar esta noite. Temos um prêmio para receber.
— Não seja exagerado, meu amor. Nós nem sabemos se vamos ganhar aquele…
— Óbvio que vamos, querida — ele me interrompe, abrindo a porta do carro com um sorriso confiante. — Com aquele projeto sustentável que desenvolvi para o Majestic Dubai, o prêmio já é nosso.
— Que eu desenvolvi — murmuro para mim mesma, desistindo de tentar convencê-lo de que fui eu quem passou meses planejando e implementando cada detalhe.
Entro no carro, encontrando-o ainda com o mesmo sorriso convencido no rosto. O caminho até o Hotel President Wilson passa mais rápido do que eu gostaria, e, antes que perceba, estamos parados em frente à entrada. Assim que saio do carro, observo a movimentação ao nosso redor e sorrio.
Sebastian entrou na minha vida em um evento como este, há quase quatro anos. Naquela noite, eu era apenas uma jovem perdida, acompanhando meu pai a mais um evento beneficente no meio hoteleiro. Então, Sebastian se aproximou, me fez sentir como se eu fosse única, sem nem saber meu sobrenome.
Com suas palavras doces e sorrisos sinceros, antes que percebesse, eu já estava completamente rendida. Tem sido assim desde então. Três anos de casamento perfeito. Ele é o marido ideal: carismático, ambicioso e, acima de tudo, devotado a mim.
E mesmo que, às vezes, seu comportamento me confunda, sei que tudo o que ele faz é para me proteger. “Evie, você é brilhante,” Sebastian sempre diz. “Mas o mundo dos negócios… é cruel. Só quero que todos saibam que você não está sozinha, que estou ao seu lado para te proteger.”
— Vamos cumprimentar o diretor do conselho, querida — Sebastian diz, trazendo-me de volta à realidade ao segurar minha cintura, em um gesto familiarmente possessivo.
Coloco meu melhor sorriso no rosto — uma expressão forçada, mas necessária — e deixo que ele me guie até o grupo de homens que conversam entre si. Após alguns cumprimentos, Sebastian rapidamente conduz a conversa para onde quer: o projeto que está concorrendo a um dos prêmios desta noite.
Por alguns minutos, observo meu marido falar com a confiança de quem viveu cada detalhe durante meses de planejamento. Meses que eu passei debruçada sobre plantas e relatórios, noites que eu fiquei sem dormir para garantir que cada aspecto estivesse perfeito. No fim, ele apenas assinou seu nome acima do meu.
— O diferencial foi ir além do óbvio — Sebastian gesticula, empolgado. — Então criamos um ecossistema completo.
— Na verdade, o eco…
Tento explicar melhor, mas um sutil aperto na minha cintura me faz calar. Entendo o recado. Ele quer que eu aja como aqueles pinguins do filme Madagascar: “apenas sorria e acene, querida.” Forço outro sorriso e concordo com a cabeça enquanto ele continua a falar. É mais fácil assim.
Meu olhar percorre o salão enquanto a conversa prossegue. Sorrisos vazios, cumprimentos falsos, carência disfarçada de cordialidade… típico desses eventos. E é aí que o vejo.
Henry Blackwood, CEO da All Seasons, está do outro lado do salão, conversando com dois homens. Com seus cabelos escuros impecavelmente arrumados e vestindo um terno feito sob medida, sua postura irritantemente confiante o torna ainda mais imponente.
Henry é exatamente o tipo de homem que meu pai sempre me aconselhou a evitar: charmoso demais para ser confiável, poderoso demais para ser ignorado. O império hoteleiro que ele construiu do zero faz da All Seasons nossa maior concorrente, e Henry parece transformar cada encontro em uma provocação calculada.
Seus olhos acinzentados encontram os meus através do salão, e, por um momento irritantemente longo, sinto como se ele estivesse tentando me decifrar, como se eu fosse um enigma interessante. Um sorriso presunçoso surge lentamente em seus lábios, e isso é o suficiente para que eu revire os olhos. “Rivalidade irritante,” penso.
— … não é mesmo, querida?
A voz de Sebastian me traz de volta, e percebo que perdi tempo demais observando alguém que não merece minha atenção.
[…]
A noite se arrasta por mais algumas horas, até que Sebastian finalmente sugere irmos embora. Sinto-me exausta; sorrir e acenar por tanto tempo consome mais energia do que deveria. Logo estamos de volta ao carro, a caminho de casa.
Pouco depois, ele abre a porta para mim, me conduzindo até a sala de estar. Após me colocar sentada no sofá, segue até a adega.
— Que tal uma bebida para terminar a noite? — ele sugere, voltando com duas taças de vinho em mãos.
— Não sei se é uma boa ideia, Sebastian. Estou exausta e...
— É o nosso ritual, querida — ele me interrompe, com aquele tom que não aceita negativas, e me entrega uma das taças. — Apenas uma.
Suspiro, sabendo que não há escapatória, e aceito a taça. Sebastian se senta ao meu lado, tocando sua taça contra a minha com um sorriso satisfeito.
— Ao futuro, querida — ele diz, erguendo sua taça.
— Ao nosso futuro, meu amor — respondo, forçando um sorriso.
Dou um gole mais longo do que o necessário, determinada a esvaziar a taça e encerrar a noite. Tudo o que quero é subir e me livrar dessa sandália apertada. Sebastian acaricia meus cabelos, dando pequenos goles enquanto me observa atentamente. Após alguns minutos, meu cansaço se torna evidente até mesmo para ele.
— Vamos, querida — ele diz, levantando-se. — Você precisa descansar.
Com um sorriso, aceito a mão que ele me oferece, mas, ao ficar de pé, o ambiente gira mais rápido do que o normal. Sebastian me ampara assim que percebe minha tontura.
— Tudo bem? — pergunta, num tom preocupado. Assinto levemente, mesmo que sinta o contrário.
Seguimos para a escada, mas minhas pernas estão moles como gelatina, dificultando cada passo. A mão de Sebastian permanece firme em minha cintura, me amparando o suficiente para evitar que eu desabe. No entanto, ao chegar ao último degrau, sua mão vacila, e meu desequilíbrio se torna evidente. Meu corpo pende para trás.
Tento agarrar o corrimão, mas meus reflexos estão lentos demais. Minhas pernas cedem, e, em um instante, começo a rolar escada abaixo.
Meu corpo despenca com força, cada degrau machucando meus ombros, minhas costas, meu pescoço. A dor é excruciante. Tento me proteger, mas a velocidade e a violência da queda tornam isso impossível.
Finalmente, paro com o impacto da minha cabeça contra o chão frio. A voz de Sebastian soa distante, ecoando como se viesse de outro mundo. A dor aguda consome minha consciência, e então, tudo desaparece.
“Três anos depois… Por Evie Ashford”O relógio marca o início da noite quando termino de revisar o último documento no escritório da nossa casa. Desde que fizemos a fusão da Majestic e da All Seasons, pouco antes do nascimento dos gêmeos, prometemos que às sextas-feiras nossos compromissos seriam resolvidos em casa para termos mais tempo em família.Um sorriso surge nos meus lábios ao ouvir os passos inconfundíveis de Henry se aproximando. Desde que nos casamos, criamos mais um ritual juntos. Logo, ele aparece na porta com duas taças de vinho nas mãos, nosso brinde semanal para celebrar o fim da semana e, mais importante, a vida que construímos juntos.— Ainda trabalhando, Sra. Blackwood? — ele pergunta, colocando uma taça na minha frente e se inclinando para me beijar.— Só revisando o contrato do novo hotel — respondo, empurrando os papéis para o lado e pegando a taça. — Mas acho que posso terminar por aqui.— Pode e deve — ele murmura, quando me levanto e me aproximo, erguendo sua
“Evie Ashford”O murmúrio emocionado dos convidados ainda ecoa ao meu redor quando Henry limpa a garganta e volta a segurar minhas mãos. Seus olhos brilham de um jeito que me faz sentir que sou o único mundo que ele enxerga. Ele respira fundo, e posso ver a emoção alcançá-lo antes que ele fale.— Evie — começa, num tom embargado que faz meu coração acelerar ainda mais —, antes de você, eu vivia em preto e branco. Números, metas, resultados… achava que isso era tudo que importava. Então você apareceu, me mostrando que há coisas mais importantes do que poder ou sucesso. Me mostrou o verdadeiro significado de força, resiliência e amor.Seus polegares roçam minhas mãos, e as lágrimas em seus olhos se intensificam.— Você me ensinou que o prazer também pode ser encontrado em sorrisos no café da manhã, em batalhas para fazer dois pequenos seres dormirem, em pequenas vitórias diárias… Você e nossos filhos são as melhores partes dos meus dias, mesmo quando Theo decide redecorar meu escritório
“Henry Blackwood”Ajusto a gravata pela décima vez nos últimos cinco minutos, observando o jardim se encher lentamente. Ao meu lado, Benjamin revira os olhos, claramente se divertindo com meu nervosismo.— Se continuar assim, vai acabar arrancando essa gravata antes mesmo dela chegar — ele comenta, com um sorriso irônico.— Não consigo evitar — respondo, passando a mão pelos cabelos pela milésima vez. — Por que estou tão nervoso? Já vivemos juntos há anos, administramos um império juntos, temos dois filhos…— Porque é a Evie — ele diz, dando de ombros, como se isso fosse a explicação mais óbvia do mundo. E, de certa forma, é.Theo corre em nossa direção, sua gravata borboleta já torta, e se joga nos meus braços. Mesmo após três anos, ainda me surpreendo com a força desse amor. — Papai, a mamãe está linda! — ele exclama, empolgado. — Igual uma princesa!— Mas é surpresa, bobinho! — Daphne complementa, chegando logo atrás do irmão. Ela está linda em seu vestido rosa, uma miniatura de
“Evie Ashford”O tempo é engraçado. Parece que foi ontem que Daphne deu seus primeiros passos, enquanto Theo, admirando a nova habilidade da irmã, decidiu que não queria ficar para trás e repetiu o ato na mesma semana. Agora, aqui estamos nós, três anos depois, e aqueles pequenos que mal cabiam nos meus braços estão correndo pela casa com uma energia inesgotável.Daphne e Theo completaram três anos na semana passada. A festa foi um caos delicioso, cheia de risadas, balões e, claro, doces suficientes para deixar todas as crianças em estado de pura euforia. Theo, como sempre, roubou a cena com sua dança desajeitada, enquanto Daphne comandava as brincadeiras com a autoridade de uma pequena rainha.E Henry? Ele continua sendo o mesmo homem que me faz perder o fôlego, mas agora também é um pai dedicado, paciente (ou pelo menos tenta ser) e completamente apaixonado pelos nossos pequenos.Observá-lo com Daphne e Theo sempre me faz lembrar do quanto minha vida mudou desde que o conheci. De um
“Henry Blackwood”São quatro da manhã e estou ninando nosso pequeno Theo pela terceira vez esta noite. É a nossa segunda noite desde que Daphne e Theo chegaram ao mundo, e tudo ainda parece tão surreal quanto emocionante. Evie finalmente conseguiu dormir após outra mamada particularmente difícil.Observo nosso filho, tão pequeno em meus braços, e então olho para Daphne, que dorme tranquilamente no pequeno berço ao lado da mãe. Me pergunto como vivi tanto tempo achando que sucesso se media em números em uma conta bancária.Theo se mexe, ameaçando chorar novamente, e começo a cantarolar baixinho aquela mesma música que minha mãe cantava para Olivia. É engraçado como certas memórias voltam quando menos esperamos. Jamais imaginei que me lembraria dessa canção, muito menos que a usaria para acalmar meu próprio filho.Caminho até a janela do quarto, observando a cidade ainda adormecida. O céu começa a clarear timidamente, anunciando que logo o dia começará. Penso em todas as reuniões que te
Quase uma hora se passou desde que minha bolsa estourou. Por recomendação da médica, viemos diretamente ao hospital antes que as contrações começassem de verdade.A correria quando perceberam a situação foi surreal, com Chloe e Lily claramente emocionadas. Chloe, em particular, quis abandonar o próprio casamento para nos acompanhar, mas acabou sendo convencida por todos a ficar. Lily também se prontificou a vir comigo, mas consegui convencê-la a permanecer com nossa amiga dramática. Afinal, se a noiva ficasse sozinha, seria capaz de inventar uma desculpa para aparecer aqui.Entro no hospital caminhando na velocidade que essa barriga pesada me permite. Henry permanece ao meu lado com os dedos entrelaçados aos meus, me dando sorrisos surpreendentemente calmos. Mas sei que isso não passa de fachada.— Srta. Ashford? — Uma enfermeira se aproxima com uma cadeira de rodas. — Vamos levá-la para a sala de avaliação.— Vou acompanhá-los — Henry diz, num tom firme, embora eu perceba um leve tre
Último capítulo