Para todas que amam homens que endeusam suas mulheres
Andreia Vitória Hades suspirou ao sair do aeroporto. Tantos anos longe da Sicília para no final acabar no mesmo lugar de anos atrás. Ele não sabia do por que foi convocado mas pretendia descobrir o quanto antes. — Táxi! D'Angelo entrou no automóvel com o motorista a sua frente e lhe informou o endereço, o taxista olhou pelo retrovisor com o semblante claro que estava analisando seu perfil, desconfiado o homem de idade ergueu uma das sobrancelhas com a suspeita da sua pessoa. Suspirando, Hades jogou cem euros no banco do passageiro da frente e sentiu o carro andar pelas ruas da famosa cidade siciliana. Minutos depois ele estava de frente ao portão da grande mansão da famiglia D'Angelos, a nostalgia de boas lembranças esquecidas a tanto tempo veio com força, as raras vezes que ele corria atrás de seus irmãos com algum tipo de brincadeirinha de perseguição. Hades olhou ao redor, agora, notando a quantidade de soldados, fuzil visíveis para que todos vissem o poder que aquela famiglia tinha. Parado em frente a porta ele levou uns segundos para dar o primeiro passo enquanto ouvia o táxi sair mais rápido do que o normal de uma casa residencial. Ele deve estar se cagando agora, pensou Hades sobre o taxista. — Hades! — Na porta da grande mansão estava seu tio lhe esperando, seus instintos adormecidos ficaram em alerta ao máximo, desconfiado ele deu passos calculados até o homem mais velho. — Que saudade meu sobrinho — Diz Hermes, dando a recepção de dois beijos na bochecha e um abraço apertado. Hades olhou aquilo com todos os seus instintos em alerta agora ao máximo, ele não disse nada, esperou seu tio parar de abraçá-lo para começar a falar. — O que está acontecendo? — Hades não gostava de boa parte da sua famiglia, viver longe deles significava paz e sossego. Rapidamente Hermes se entristeceu, seus olhos marejaram e suspirou engolindo o choro. — Seu pai meu sobrinho. Com essa simples frase o coração de Hades disparou, ele apertou a alça da bolsa que carregava e trincou a mandíbula esperando seu tio lhe dar a notícia. — Entre por favor. Desconfiado, Hades deu o seu primeiro passo entrando na casa por completo, a porta se fechou atrás dele e seguiu seu tio em silêncio. Reparou que na casa não tinha mudado muita coisa, somente alguns quadros de fotografia haviam aumentado com o passar dos anos. — Sente-se, por favor — Disse seu tio apontando para o sofá da sala de estar. Hades se sentou exalando o ar devagar, a demora do seu tio de lhe explicar o que estava acontecendo irritava-o profundamente. Ele colocou sua bolsa de porte médio ao seu lado no chão. — Seu pai sofreu um ataque — Hades se encostou no sofá e cruzou as pernas com elegância, a mão foi para o seu colo. — Os médicos dizem que o caso é irreversível, e que irão desligar a máquina que o mantém vivo. Seu tio claramente estava esperando alguma reação, mas Hades não pode fazer nada a não ser ficar olhando para o homem à sua frente, humilhações que passou quando criança ainda lhe assombrava em pesadelos, o homem não deve outra reação a não ser agradecer em silêncio, ele queria uma morte lenta para o seu genitor, que o torturasse e fizesse sofrer assim como Ares fez com ele e com todos os seus irmãos. — Com isso você já sabe o que vem por aí. Ali estava o real motivo, Hades esperava um acontecimento trágico, mas pela dor de cabeça que isso lhe daria ele rapidamente optou pela morte natural ou que fizessem parecer com uma. — Só eu que fui convocado? — Perguntou para seu tio que se levantou e pegou uma garrafa de vinho. — Não, todos foram — Hermes tirou a rolha da garrafa e bebeu do gargalo. — O senhor está cansado? — Hades se forçou a perguntar. — Foram dias exaustivos, alguém está fazendo mal a nossa famiglia e eu não sei quem é — Diz abalado. O instinto de líder do Hades acordou, ele empurrou para baixo a ganância de querer liderar tudo. — Vou para o meu quarto e discutiremos isso quando eu voltar, ok? — Hades se levantou e Hermes se aproximou, ele viu os olhos cansados do tio. — Que tal o senhor ir descansar um pouco? Daqui algumas horas nos reencontramos no escritório? — Ok, sobrinho. Hades pegou a sua mala e adentrou mais na casa, subiu as escadas para o segundo andar e observou o corredor cheio de portas dos quartos dos seus irmãos. Passou direto por todos e encontrou no seu antigo quarto, decorações da época que ele morava na casa havia sumido, estava limpo de quadro pessoais, claramente teria virado um quarto de hóspedes. Ele colocou a mala no chão e foi direto para a porta que dava na varanda, observou os soldados fazendo patrulha e voltou ao centro do quarto. Hades se sentou na cama e esperou em silêncio as horas passar. ***** Três horas depois, no horário do almoço Hades desceu com uma roupa diferente, ele esperava que já tinha dado tempo o suficiente para o seu tio ter descansado pelo menos um pouco. Passou pela sala de jantar, corredor e parou na frente da porta do escritório do seu pai, ele bateu na porta três vezes antes de entrar. Seu tio estava sentado no sofá e bateu a mão ao seu lado sem olhar para cima, fumando um charuto ele esvaziou seus pulmões jogando a fumaça para fora do seu corpo. Hades fechou a porta e se sentou ao seu lado. Aquele lugar estava um caos completo, os dois ficaram olhando a prateleira quebrada de livros clássicos que só servia de enfeite já que seu pai não lia nenhum. — Foi uma emboscada, invadiram a casa de todos os lados. Eu estava em casa, assim que soube vim correndo mas já era tarde, levamos para o hospital, ele deu entrada em estado gravíssimo — Hermes para de falar e dá um trago no charuto. — A famiglia está um caos, todos sabemos o que você terá que fazer agora — Seu tio o olha. — Não sou digno, lembra? Não sou um homem de honra segundo a famiglia. — Agora você é, ou voltou a ser, nossa famiglia irá se enfraquecer se você não honrar o seu pai. Hades sabia que aquilo era verdade e muito real, mas seu nome já estava manchado, duvidava que alguém iria aceitar suas escolhas — mesmo que seja para honrar seu pai. — Sabe quem mandou? — Seu tio negou com a cabeça. — Estamos em paz com a Camorra e Ndrangheta, ninguém iria bater de frente com a Cosa Nostra sobrinho... — Diz tio, o que o senhor não está me contando? — O homem suspira colocando o charuto de lado. — Existem muitas coisas que seu pai escondeu de mim, muitas coisas que talvez ele soubesse que iria atacá-lo — Ele diz, Hades suspirou, e voltamos para o mundo de mentiras, pensou ele. — Por que ele esconderia algo do senhor? — Hades perguntou e Hermes se levantou frustrado. — Eu não sei, minha cabeça está fritando com tudo isso. Hades suspirou se encostando no sofá. — Onde está a mama e Ártemis? — Hades perguntou, ele sentia saudades da sua mãe, tinha vagas lembranças defendendo ele de seu pai. — Ares colocou Antonella em um Hospital psiquiátrico alguns anos depois que você e seus irmãos se foram — A raiva de Hades começou a ferver seu sangue. — Ártemis está no hospital. — O quê? Por quê? — Ela foi estuprada Hades, por um dos homens que mataram seu pai. Hades viu vermelho."O homem paciente é o homem que controla. Ele é firme; constante em todas as coisas. Quando pretende acabar com seus inimigos, começa por matar seu próprio ego. Onore. Vendetta. Lealtà." Cosa Nostra Hades entrou no hospital particular com o rosto num semblante gélido, por dentro seu sangue fervia, quem teria a ousadia de tocar em sua irmã? Quem seria tão estúpido o suficiente por violenta-la? Seu tio estava a sua frente conversando com a recepcionista enquanto seus olhos observavam o local, o hospital era muito bem requisitado, sem dúvidas ela estaria recebendo os melhores tratamentos. — Sobrinho — Hades olhou para onde lhe chamaram e seguiu seu tio para um corredor branco adentrando no hospital. Era só questão de tempo para todos estarem lá, seus irmãos também haviam sido convocados pelo seu pai. No corredor da UTI ele viu através da janela de vidro a sua irmã inconsciente. Precisou de todo o seu autocontrole para não arrancá-la daquela maca. Ártemis estava magra e pálida,
“Você consegue muito mais com uma palavra amável e um revolver, do que somente com uma palavra amável sozinha”Al Capone Rússia, Moscou. Svetlana observou Vasiliev na frente do carro preto. Ela andou até ele, saindo da grande propriedade escola de etiqueta, o que era uma fachada já que dentro daquele prédio era uma academia para tornar filhos de chefes famosos em profissionais de matar. — Svetlana — A saudação do homem mais velho foi estranha. A mulher ficou em silêncio esperando o próximo movimento. — Entre. A porta do carro foi aberta e a sensação de estar sendo condenada mais do que ela já era veio como um arrepio na nuca. Não era o tempo frio e gelado do país que a fez sentir os pelos eriçados, o cabelo médio voou pelo vento gelado quando ela se movimentou para entrar no carro. Vasiliev sentou ao seu lado e ele ordenou que o motorista dirigisse. — Alguns meses atrás fiz uma negociação muito bem sucedida — O homem dos cabelos cinzentos a olhou, Svetlana lembrava d
“Esse foi o começo do fim da Cosa Nostra.”Anthony Casso Assim que Hades adentrou na mansão D' Angelo seu tio estava com um homem desconhecido na sala de visita. Os passos longos se tornaram curtos gradualmente até estar a dois metros de distância dos homens. Tinha visitado sua irmã caçula novamente, ele estava decidido a fazer do seu quarto um lugar apto para comportar todas as necessidades dela até melhorar, mesmo que o hospital não apresentava nenhuma ameaça ele nunca poderia saber de onde o seu inimigo estava vindo, poderia simplesmente voltar e terminar o que fez com Ártemis. A gerência de seu pai sempre teve algumas falhas, uma delas a principal era fazer da mansão D'Angelo o complexo da famiglia. Seu pai sempre gostou de esbanjar a riqueza que a famiglia tinha conquistado. — Sobrinho — Assim que Hermes percebeu sua presença ele se levantou junto com o homem ao seu lado. O rosto tenso do estrangeiro não era um bom sinal, Hades só queria voltar para o seu lugar sec
“É melhor viver um dia como um leão do que cem anos como um cordeiro” John Gotti Dois dias depois, Hades estava observando o caixão do seu pai descer para a cova no cemitério privado aos homens de honra da famiglia. — Nem pude vê-lo agonizando — Perseu falou em um tom baixo. O sereno da chuva estava se intensificando e as pessoas — principalmente mulheres dos seus primos — estavam erguendo os guarda-chuvas. A luva que ele nunca tirava coçou seu maxilar olhando para o movimento do caixão sendo colocado no fundo do jazigo pelos coveiros. — Agora vocês estão cientes do que me espera — Hades proferiu murmurando, a terra cobria o caixão mais caro da funerária. — Vendetta — Hefesto proferiu entre dentes. Desde que viu a irmã caçula ele estava levemente alterado, deixando sua raiva transparecer e o seu ódio explícito. — Exato — Nem todos dos irmãos estavam ali, mas a famiglia sentiu o poder dos três que estavam ombro a ombro sem tirar os olhos do caixão, os irmãos de
“Se há uma vontade, há sempre um caminho meu amigo”Richard Kuklinski Hades estava demorando muito tempo com aquilo, finalmente tinha fugido das suas obrigações para ir lá. Ele estacionou o carro na frente do hospital psiquiátrico e suspirou ao se ver sozinho, infelizmente chamar seus irmãos iria dar muito na cara que estaria acontecendo algo antes do casamento acontecer, ele queria que a sua mãe estivesse vendo aquilo. — Em que posso ajudá-lo? — A recepcionista solicita perguntou assim que Hades chegou perto do balcão da recepção. — Quero ver Antonella D'Angelo — Os olhos da mulher se arregalaram em surpresa. — Antonella D'Angelo? — Ela franziu a testa. — Sim, algum problema? — A garota engoliu em seco ao lembrar que os rumores estavam sendo verdadeiros. — Nenhum, qual o seu nome? — Hades D'Angelo — Seus olhos focaram na pulsação do pescoço da moça, quanto mais tempo passava mais ela ficava nervosa, Hades supôs que ela o conhecia, de alguma maneira. — Identifi
“O novo sempre destrona o velho, não existe zona de conforto neste nosso mundo”. Luciano Leggio À sua frente estava Hermes D'Angelo, seu tio e consigliere de seu pai, ao lado estava o capo direto de Ares D'Angelo, Pagano. Um pouco mais atrás estavam seus irmãos como testemunhas e chicoteadores, Hades estava fazendo aquilo pela segunda vez na sua vida e como na primeira, não estava nada animado. — Aqui está, Hades D'Angelo, sucessor e primogênito de Ares D'Angelo, assim como a lei da famiglia diz, hoje estou seguindo o mandamento não citado nos 10 mandamentos; passar o cargo de Don da Cosa Nostra a Hades D'Angelo. — A palma de mão é levantada para cima pelo Pagano, a faca furou a ponta do seu dedo e o italiano nem sentiu o corte. No meio do ritual, Hades viu todos os seus irmãos — Menos Apolo — olhando para ele, anos atrás ele pegou seus irmãos mais novos e colocou cada um em um país, longe da Itália, longe de seu pai e consequentemente longe da sua mãe. O sangue escorreu e p
“Atrás de cada grande fortuna, há sempre um crime!” Charlie “Lucky” Luciano Hades nunca sequer olhou para um preparativo de casamento, ele somente contratou as pessoas certas e deixou a mercê da sua noiva. Sua única exigência era que não poderia ser em hipótese alguma numa igreja, assim como a famiglia, a igreja era negócios e ele não iria misturar isso. Apesar de Hades ser siciliano e um homem de honra — novamente — ele nunca acreditou em uma religião específica, como um bom negociador e estratégico ele via os líderes religiosos manipulando as pessoas de fé, usando o mais baixo e antigo modo de extorsão para ganhar o que queria, e claro, Hades tinha esses líderes aos seus pés . Muitos homens de honra optaram por usar a imagem da igreja como pretexto para manter a boa imagem diante a comunidade siciliana. Hades nunca precisou fingir, muitas pessoas de fé temia a Deus no juízo final por causa de seus pecados praticados em vida, temiam a morte. Hades não era um Deus, mas era m
“Há certas promessas que você faz que são mais sagradas que qualquer coisa que acontece em um tribunal de justiça, eu não me importo para a quantidade de Bíblias em que você põe sua mão.” Paul Castellano Svetlana calculou todas as variantes de que se precisasse mataria seu mais novo esposo no altar. Ela sabia que sua entrada chocou a todos, principalmente quando escolherá entrar com as armas banhadas a ouro em mãos em vez de um buquê estúpido. A cerimônia aconteceu normalmente até o homem à sua frente falar sobre a ormetà¹. — O pedido especial da noiva é que o senhor Hades D'Angelo jure a omertà a ela — Svetlana quis sorrir ao olhar para Hades. Sim, ela tinha ousado colocar a omertà no casamento, assim como ela, ele iria fazer o voto de silêncio da família. Hades ficou de frente para Svetlana e seus azuis vieram para ela. Sem hesitar ele tirou uma adaga do cós da sua calça e levantou