Isabella:
A última vez que eu tinha visto Alessandro foi na formatura dele na universidade.
E, pensando bem, também foi a última vez que saí de Seattle para ir até Nova Iorque.Não que a gente tivesse se afastado. Longe disso.
Continuávamos próximos, mesmo à distância. Nos falávamos por mensagens, trocávamos memes, vídeos e notícias engraçadas quase todos os dias. Nossas vidas seguiram caminhos completamente diferentes depois do colégio, mas a nossa amizade nunca se perdeu. Ainda assim, vê-lo pessoalmente depois de tanto tempo... era diferente.
Quando ele abriu a porta, ficou alguns segundos me olhando, surpreso. E eu fiz o mesmo — até ele abrir aquele sorriso largo e me puxar para um abraço.
Eu tinha me esquecido de como abraçá-lo era bom.
— Não acredito, Bella! O que está fazendo aqui? Por que não me contou que vinha?
— Bem… eu disse que você teria uma surpresa, então… surpresa! — respondi, rindo.
— Quando chegou?
— Hoje. Agora há pouco, na verdade. Fiz o check-in no hotel e vim direto pra cá. Que bom que cheguei antes de você ir embora. Ainda não tenho seu novo endereço.
— Você é louca. Completamente louca.
Antes que eu pudesse responder, alguém tossiu atrás dele, e nos afastamos rápido. Olhei para dentro do hall e encontrei dois rostos familiares.
O primeiro, que tinha tossido, era Matteo — o mesmo sorriso maroto de sempre. Ele não precisava fazer esforço algum pra parecer sedutor; era algo natural.
Sorri de volta, mas meu olhar logo encontrou o homem que estava ao lado dele. E, naquele instante, o tempo parou.
Meu sorriso congelou. Um arrepio percorreu minhas costas.
Lorenzo Bianchi.
Droga.
Não era mais uma adolescente de dezesseis anos, mas ainda assim aquele homem tinha o poder de me deixar sem ar. O irmão do meu melhor amigo continuava absolutamente lindo.
— Vejam só, se não é a louca da Isabella Romano — Matteo disse, vindo me abraçar.
Sorri, aliviada com o abraço. Alessandro sempre foi o meu melhor amigo, mas Matteo e eu também tínhamos nossa própria história — geralmente envolvida em algum tipo de confusão.
A gente praticamente morava na detenção do colégio. Sempre juntos, planejando alguma travessura: roubo de gabaritos, explosão do laboratório de química… Coisas assim.
Enquanto outras garotas sonhavam em ser líderes de torcida, eu parecia me esforçar pra ser… uma peste.— A garota-problema do internato… — Lorenzo comentou, e ainda por cima com aquela voz dele, que continuava linda.
Ótimo. Meu rosto queimava.
— Você cresceu — ele completou, com naturalidade.
Como se ele não tivesse acabado de me desmontar por dentro com uma única frase.— Chegou na hora certa — Matteo anunciou. — Estávamos indo beber. Vem com a gente! Nós quatro, como nos velhos tempos.
— Não bebíamos juntos nos velhos tempos, Matteo.
— Bem, vocês três não. Ficavam nessa palhaçada de esperar os vinte e um pra beber. Lorenzo sempre foi o certinho, mas eu esperava mais de vocês dois.
Olhei para Alessandro, buscando aquele entendimento silencioso que sempre existiu entre nós.
Sair com eles seria divertido, claro, mas eu não estava ali pra me divertir. Eu tinha vindo de Seattle só pra conversar com ele. Era algo sério. Urgente.E ele entendeu, só com o meu olhar.
— Nossa bebedeira em grupo vai ficar pra outro dia — disse, olhando para os dois. — Bella e eu temos muito o que conversar. A sós.
Matteo bufou, revirando os olhos.
— E começaram os segredinhos da dupla inseparável… Vamos, Lorenzo, vamos logo antes que ele resolva virar terapeuta também.
— Preciso estar em casa às dez — Lorenzo respondeu, e enquanto passava por mim acrescentou, educado: — Foi um prazer te rever, Isabella.
— Igualmente — respondi, tentando disfarçar o rubor no meu rosto.
Eles se foram, e o silêncio voltou a ocupar o espaço.
Eu e Alessandro, um de frente para o outro.— E então, Bella… podemos ir beber também, em outro lugar — ele sugeriu.
— Tem um bar perto do meu hotel. Passei por lá vindo pra cá, pareceu legal.
— Perfeito. — Ele pegou o casaco. — Mas você não devia ter ido pra um hotel. Podia ficar lá em casa.
— Eu não tenho seu novo endereço — expliquei. — E amanhã cedo já volto pra Seattle. Se ficasse na sua casa, a gente ia conversar a noite toda e ia ser difícil ir embora tão cedo.
(E eu não podia deixar minha mãe sozinha por muito tempo... Mas ele logo descobriria isso.)
Apertei o botão do elevador e, enquanto esperávamos, comentei:
— O prédio aqui é lindo. E o escritório fica num ponto ótimo da cidade.
— Eu podia ter te mostrado melhor, mas você parece com pressa. — Ele me olhou com aquele ar de quem sempre me lia por dentro. — Está me deixando preocupado, Bella. Por que veio pra cá assim, sem avisar, e pra ficar tão pouco tempo?
— Vim apenas pra falar com você. Conversamos quando chegarmos ao bar. Preciso me sentar e beber algo pra esquentar o corpo.
(Ele beberia, não eu. Eu não podia, mas queria que ele relaxasse.)
— Esquentar ainda mais? — Ele sorriu. — Só de olhar pra você eu já sei que veio correndo. Literalmente.
— Não é muito longe.
— Mas é o que você faz quando está em apuros — disse ele. — Você corre.
Suspirei, sorrindo de leve.
Ele estava certo. Sempre esteve.
Correr sempre foi a minha forma de fugir e, ao mesmo tempo, de me encontrar.