— Perceba até onde um ser desprezível como você é capaz de chegar para conseguir o que quer. Inventando que tem uma doença sem cura apenas para tentar me comover.
— Eu já imaginava que você me desacreditaria. Por isso trouxe isso.
Ele tirou um papel dobrado do bolso da sua camisa, abriu-o e o estendeu sobre a mesa diante de mim, indicando-me que olhasse. Mesmo relutante, o peguei e chequei seu conteúdo. Era um exame laboratorial em seu nome, de acordo com o qual ele tinha mesmo câncer no intestino e em estágio avançado. Não teria mais muito tempo de vida.
A constatação provocou-me um impacto inesperado por dentro, um misto de insatisfação e desânimo, que não compreendi, mas que talvez fosse acarretado pelo fato de que seria um maldito tumor a acabar com ele e não eu. Voltei a encará-lo e, por uma breve fração de segundo, fui invadido por um misto de piedade e algo mais que não consegui identificar. Mas então lembrei-me de Juliane, do fato de ele ter tirado sua vida com o único objetiv